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Crítica | Fear the Walking Dead – 3X03: TEOTWAWKI

por Ritter Fan
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estrelas 3,5

Obs: Há spoilers. Leia  a crítica de todos os episódios da série, aqui.

Quando a presente temporada de Fear the Walking Dead estava para começar, havia tomado a relutante decisão de só fazer a crítica da temporada por completo e não por episódio. Afinal, a primeira temporada, de apenas seis episódios, havia começado muito bem, mas terminado terrivelmente mesmo que com saldo positivo. A segunda, por sua vez já estendida para 15 episódios, foi cheia de altos e baixos, não passando, no cômputo geral, da mediocridade.

Foram vários leitores aqui do site que, logo em seguida ao lançamento dois dois episódios iniciais da terceira temporada, passaram a pedir as críticas e, muito a contragosto, acabei capitulando. E, ainda que talvez seja muito cedo para afirmar, confesso que tenho que agradecer a esses leitores. Sim, ainda estamos bem no comecinho de uma temporada ainda maior que a anterior – agora FTWD tem 16 episódios como na série-mãe -, mas já é possível ver potencial novamente, ainda que, como mencionei na crítica anterior, a promessa original de lidar com o começo do apocalipse zumbi já tenha sido esquecida há tempos.

Em TEOTWAWKI, sigla usada por survivalists ou preppers (pessoas que acreditam e praticam táticas e técnicas de sobrevivência em caso de catástrofes como guerras nucleares) para indicar the end of the world as we know it (“o fim do mundo como o conhecemos”), descobrimos, em um ótimo prelúdio em forma de infomercial, que Jeremiah Otto, o líder do rancho que vimos em The New Frontier, é uma dessas pessoas preparadas para o pior. Em algum momento no passado, ele vendia um manual de sobrevivência que vinha com um “kit” para iniciantes nessa paranoia intensificada pela Guerra Fria, algo que obviamente se encaixa como uma luva para o cenário da série e dá uma razoavelmente assustadora conotação de “culto” aos habitantes do local em que agora vivem Madison, Nick, Alicia e Luciana.

Aliás “local em que vivem” é a expressão chave e o cerne do episódio. Madison decidiu em um misto de conveniência e respeito à memória de Travis que o rancho é onde eles deveriam ficar. Esse pensamento já  havia sido externado no encerramento do episódio anterior e ele é intensificado aqui, com um conflito se estabelecendo entre Madison e Nick, que obviamente sente uma tremenda raiva de Troy. Alicia, por sua vez, mesmo que forçada, acaba forjando laços maiores com os jovens dali, mostrando algum grau de adaptabilidade, algo que Nick só resolve com uma espécie de perigosa brincadeira com Troy, durante uma caçada. Essa estranha relação entre os dois, aliás, faz muito sentido, pois, de certa forma, eles são parecidos. Ambos são “ovelhas negras” em suas respectiva famílias e ambos têm uma tendência suicida enervante. No que isso vai dar, ainda é cedo demais para dizer.

O que fica claro é que esse novo núcleo tem potencial. Tanto potencial que Madison passou a ficar bem mais interessante aqui do que em qualquer situação anterior, seja no bairro cercado da primeira temporada, seja no navio ou no hotel da segunda temporada. Seu jogo de sedução estilo Mrs. Robinson com Troy é ao mesmo tempo perturbador e sexy (ou será que sou eu o perturbado por achar isso?) e pode gerar bons frutos adiante. Considerando que até Alicia achou algo melhor para fazer do que ficar de cara fechada andando de um lado para o outro já é sinal suficiente que o rancho trouxe nova vida à série. Resta só encontrar um lugar para Luciana, ainda compreensivelmente mais afastada dos holofotes enquanto se recupera do tiro que levou.

Por outro lado, Strand, que chegou a ser o personagem mais interessante da série por muito tempo, recebeu uma reintrodução apagada em The New Frontier ao fingir-se de médico no hotel e, depois, ir embora dirigindo um carrão. Aqui, porém, seu personagem começa a reconstruir esse lado mais esperto e misterioso que tinha. Procurando um antigo contato em uma represa (melhor não pensar em como ele sabia que Dante, vivido por Jason Manuel Olazabal, estava por ali) que troca água potável por bens valiosos, Strand, depois de um começo suave e de quase ser jogado em uma pilha de desmortos, parece alistar-se nessa máfia, mas não exatamente como queria. Mais prisioneiro do que alguém em posição para negociar uma vida boa, aprendemos um pouco mais sobre o passado escuso dele pela boca de Dante, o que acaba reposicionando o personagem na série não necessariamente como alguém que venha porventura a ficar ao lado de Madison novamente.

Além disso, temos o cliffhanger que coroa o corolário de filmes e séries de TV que determina que “sem corpo, não há morte”, com a volta de Daniel Salazar (Rubén Blades) nos segundos finais oferecendo água para Strand. Ainda que ele tenha sido o segundo mais interessante personagem da série e sua volta seja bem-vinda – sinceramente, jamais achei de verdade que ele morreria naquele incêndio – isso me faz temer uma coisa só: a volta de Travis. Afinal, não vimos o corpo dele ainda, não é mesmo?

O fato é que TEOTWAWKI consegue criar duas linhas narrativas interessantes e com potencial. Sem dúvida elas alguma hora tangenciarão, mas, pelo momento, é melhor que sejam desenvolvidas em separado, de maneira que haja tempo para que os novos personagens sejam explorados com calma e que os antigos sejam reconfigurados para essa nova realidade.

Nada como dar ouvidos a pedidos de leitores, não é mesmo?

Fear the Walking Dead – 3X03: TEOTWAWKI (EUA, 11 de junho de 2017)
Criação: Robert Kirkman, Dave Erickson
Showrunner: Dave Erickson
Direção: Deborah Chow
Roteiro: Ryan Scott
Elenco: Kim Dickens, Cliff Curtis, Frank Dillane, Alycia Debnam-Carey, Colman Domingo, Danay García, Paul Calderón, Karen Bethzabe, Brenda Strong, Daniel Sharman, Sam Underwood, Dayton Callie, Lindsay Pulsipher, Rubén Blades, Jason Manuel Olazabal
Produtora: AMC
Disponibilização da série no Brasil (na data de publicação da presente crítica): Canal AMC
Duração: 44 min.

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