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Crítica | Fear the Walking Dead – 3X11: La Serpiente

por Ritter Fan
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– Há spoilers. Leia  a crítica de todos os episódios da série, aqui.

Ao mesmo tempo que La Serpiente funciona como uma espécie de intervalo mais tranquilo depois da tensão que foram os dois episódios de recomeço de temporada, o roteiro de Mark Richard e Lauren Signorino finalmente reúne as linhas narrativas que andavam separadas já há algum tempo, com a família Clark de um lado e, de outro, com Victor Strand e Daniel Salazar e, mesmo assim, no caso dos dois últimos, só esporadicamente se juntando. E o que sustenta esse começo do que em breve será uma reunião completa é a falta d’água no Rancho Broke Jaw, elemento que, mesmo tendo sido artificial e velozmente inserido na narrativa nessa segunda metade, ganha elã suficiente para efetivamente parecer natural a partir de agora.

O maior acerto do roteiro é não tentar fazer idas e vindas entre o rancho e a road trip de Madison, Walker e Strand até a represa Gonzalez, controlada por Lola e Daniel, depois do fracasso das tratativas no mercado que vimos em The Diviner. Com isso, o foco é integral na trinca que precisa passar por obstáculos na estrada e, depois, dento dos túneis de esgoto, o que garante aqueles clássicos momentos de susto e nojeira, graças a zumbis perdidos por ali e um em especial que está entalado no cano e que Madison tem que cortar em pedacinhos para continuarem se arrastando pelo agradável rio de dejetos humanos. Nesse ponto, temos um típico episódio de horror com desmortos, com uma fotografia que emula videogames, com luz vinda apenas de lanternas, quase nenhuma profundidade de campo e perigos a cada esquina, com Madison cada vez mais se solidificando como uma líder que aceita qualquer desafio e Walker, por outro lado, parecendo uma primadona com seu nervosismo e irritação completamente fora de esquadro.

No campo de Daniel e Lola, antes da chegada de Madison e companhia, descobrimos que a empreitada de distribuir água aos necessitados vai de mal a pior, com mais um ferido e Daniel sendo acusado de atirar sem provocação nos revoltosos. Mas a divisão na represa também é interna, com Efrain advogando pela liberação completa da água e Daniel seu controle restrito, com Lola no meio tendo que tomar uma decisão e sabendo que, se ela cambar para o lado do ex-Sombra Negra, violência será necessária e, francamente, inevitável. E, se pensarmos bem, essa discussão polarizante faz sentido e até que poderia ser mais completamente explorada no episódio, ainda que ela vá potencialmente render frutos adiante. Afinal de contas, em um mundo pós-apocalíptico, nada pode ser realmente normal e distribuir a água por meios comuns, ou seja, abrindo as comportas da represa, pode significar escassez geral em futuro muito próximo. Por outro lado, manter o controle significa, por melhores que sejam as intenções, andar no fio da navalha e, ocasionalmente, ter que demonstrar força perante pessoas mais exaltadas. O meio-termo não existe nessa situação.

E é assim que, então, Madison, Strand e Walker encontram-se com Daniel, logo revelando que Ofelia está viva, para alívio do pai aflito. Por outro lado, muito interessantemente, quando Walker conta o que Ofelia fizera a seu mando, Daniel percebe que os pecados dos pais recaem sobre suas crianças e o ciclo de violência parece estar se repetindo, algo que também provavelmente será explorado mais para a frente. Nesse reencontro, notei outra conveniência narrativa, algo que também marcou os dois episódios anteriores: a justificativa para Lola não atender ao pedido de Madison me pareceu fraca demais. Ela não quer entregar água para os gringos com medo de esquentar a revolta que está prestes a estourar em sua cidade? Mas como exatamente os revoltosos saberão detalhes do que transcorre na represa? Aqui, o roteiro escorrega um pouco para criar uma resistência e alongar o drama, o que, então, nos leva à materialização do apelido La Serpiente dado a Strand por Daniel, algo que já havia ficado claro para nós, espectadores, desde o primeiro momento em que o personagem aparece na tela, na já longínqua primeira temporada.

Ainda que tenhamos que aceitar essa conveniência de roteiro, confesso que a volta do Strand original, alguém que faz o que tiver que ser feito para alcançar seus objetivos, foi bem-vinda, já que o personagem estava à deriva (com trocadilho) há muito tempo, perdendo todo o seu magnetismo original. Colman Domingo, juntamente com Rubén Blades são os melhores atores na série – com Kim Dickens correndo bravamente atrás a partir desta temporada – e o primeiro estava sendo completamente desperdiçado. Agora é aguardar para ver como suas maquinações afetarão a dinâmica no rancho, especialmente considerando que Walker já construiu uma implicância instantânea com Strand e Strand… bem, ele só pensa em seu próprio umbigo, como sabemos.

Fear the Walking Dead, portanto, nos oferece um capítulo para que respiremos um pouco – mas só mesmo um pouco – e para que as linhas narrativas sejam reunidas de vez. Resta saber como a relação entre o rancho e a represa será desenvolvida e como as tensões internas serão equacionadas, se é que serão mesmo equacionadas. O potencial para conflitos nas duas pontas é enorme e não tenho dúvidas que Dave Erickson os explorará em detalhes nos vindouros episódios.

Fear the Walking Dead – 3X11: La Serpiente (EUA, 17 de setembro de 2017)
Criação: Robert Kirkman, Dave Erickson
Showrunner: Dave Erickson
Direção: Josef Wladyka
Roteiro: Mark Richard, Lauren Signorino
Elenco: Kim Dickens, Frank Dillane, Alycia Debnam-Carey, Colman Domingo, Danay García, Paul Calderón, Karen Bethzabe, Brenda Strong, Daniel Sharman, Sam Underwood, Dayton Callie, Lindsay Pulsipher, Rubén Blades, Jason Manuel Olazabal,  Jesse Borrego, Lisandra Tena
Produtora: AMC
Disponibilização da série no Brasil (na data de publicação da presente crítica): Canal AMC
Duração: 43 min.

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