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Crítica | Amor e Preconceito (1974)

por Luiz Santiago
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Amor e Preconceito, cujo enorme subtítulo é ou os muitos que fazem ideia de suas capacidades ou necessidades porém aceitam, através de suas ações, a ordem dominante ajudando, desta forma, a sustentá-la ou fortalecê-la, foi um grande sucesso de público na Alemanha e causou furor na ala feminista da sociedade europeia.

Adaptação do romance Effi Briest, de Theodor Fontane, adaptado para o cinema pelo próprio Fassbinder, o longa era um antigo projeto do diretor, que só não o havia realizado ainda porque não tinha tido financiamento necessário, mas isto, segundo ele próprio, foi um coisa boa. Após obter a experiência necessária atrás das câmeras, o diretor conseguiu dar o tratamento necessário ao romance, um de seus favoritos, o que tornou o projeto bastante pessoal para ele, algo que podemos ver desde a sua própria escalação para o papel de narrador até a escalação de sua mãe, Lilo Pempeit, para interpretar a mãe de Effi, um tipo de simbolismo que confundia-se com a sua vida pessoal, a vida do escritor Theodor Fontane e a da personagem Effi Briest.

Representando meticulosamente os aspectos históricos da época em que se passa — era Bismarck, final do século XIX — o filme possui elementos do ‘melodrama distanciado’ cujo núcleo era Douglas Sirk e Max Ophüls, mas já anunciava um novo momento na carreira do diretor, a reformulação conceitual, cujo primeiro exemplar seria O Direito do Mais Forte é a Liberdade (1975). Talvez esta passagem entre um momento e outro tenha guiado o estilo mais solto do diretor em termos narrativos, e orientado a montagem de Thea Eymèsz para algo mais livre e inventivo, dois fatores que, infelizmente, diminuíram a qualidade filme.

Não há dúvidas de que Amor e Preconceito seja a obra de Fassbinder mais acessível ao grande público. Apesar do rebuscado formato da montagem, cheio de fades em branco e preto que rapidamente chateiam o espectador, o texto é simples, a temática é conhecida de qualquer pessoa — a esposa jovem que tem um esposo bem mais velho, é escanteada por ele devido ao trabalho, se enamora de um outro homem e posteriormente é descoberta e rechaçada pela sociedade — e o tratamento dado ao drama é elegante. Trata-se, portanto, de um bom filme que foi minimizado pela excessiva estilização — mesmo que esta tenha significado — estética e narrativa.

Um dos pontos abordados pelo diretor é a “personificação” de um fantasma que o Barão Instetten usa como modelo de “educação” para sua esposa. Um artifício de dominação através do medo, como nos lembra constantemente os letreiros à la cinema mudo que vão aparecendo ao longo da fita. Essa aproximação com a dimensão literária irreal, destacada pela fotografia que, apesar de suave, deixa os personagens bastante pálidos, quase como fantasmas, nos lembra um pouco a imaterialização do conteúdo, algo caro a F.W. Murnau, por exemplo, e a forma como Fassbinder organiza esses elementos a cada plano também mostra a influência que Gritos e Sussurros (1972), de Ingmar Bergman, teve sobre o diretor.

Belo, exagerado em sua concepção artística e uma boa adaptação para a obra de Theodor Fontane, Effi Briest é um filme difícil de agradar plenamente. Fassbinder acerta muito em alguns aspectos — como na composição dos planos, na escolha precisa da trilha sonora e direção de atores — mas perde a mão em outros, como na forma que o roteiro foi construído e, principalmente, na orientação para a montagem. Ao término da fita, uma coisa é certa: o público está imerso em sentimentos conflitantes, seja em relação ao conteúdo da obra, seja em relação à obra em si. Ou, em alguns casos, aos dois.

Fontane Effi Briest (Alemanha Ocidental, 1974)
Direção: Rainer Werner Fassbinder
Roteiro: Rainer Werner Fassbinder (baseado na obra de Theodor Fontane).
Elenco: Hanna Schygulla, Wolfgang Schenck, Ulli Lommel, Lilo Pempeit, Herbert Steinmetz, Ursula Strätz, Irm Hermann, Karlheinz Böhm, Karl Scheydt, Barbara Lass, Rudolf Lenz
Duração: 140 min.

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