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Crítica | Força-Tarefa Liga da Justiça: Missão Sanobel

por Luiz Santiago
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O que fazer quando uma de suas equipes dá lucro e tem popularidade o suficiente para sustentar novos títulos e dar mais lucro ainda? Bem… criar novos títulos! Este é claramente o mote de qualquer grande editora (de quadrinhos e livros) e, no caso da DC Comics, teve como foco a Liga da Justiça ao longo dos anos 1990. Com o retorno da equipe pós-Crise, pelas mãos de Keith GiffenJ.M. DeMatteis, que guiaram a “fase cômica” da equipe iniciada no arco Um Novo Começo (1987), os leitores pediram mais e mais histórias de conjunto, times e organizações ligadas a estes heróis, o que não é de se espantar a quantidade de crossovers e equipes que pulularam na Casa das Sombras na segunda metade da década de 80 e durante a década de 90 — virando arroz de festa daí para frente.

A série Força-Tarefa Liga da Justiça foi fruto desta onda. Ela surgiu como um spin-off da Liga da Justiça Internacional, criada às pressas pelo governo americano para atender a uma emergência política em Sanobel, no Caribe. Na trama, a ilha é governada por um ditador que está prestes a ser deposto pelos rebeldes, mas o lugar funciona como um ponto estratégico para os Estados Unidos e as cosias “não podem seguir o ritmo simples de tomada de poder” que constantemente vemos acontecer nas Repúblicas de Bananas latino-americanas.

Para um leitor que já tenha passado pela origem d’O Conglomerado em Manobras Corporativas… (1990), a relação entre os heróis e “uma força maior”, também vista nessa trama de David Michelinie, não será novidade. Mas há algo diferente aqui. Se compararmos com o caso do Conglomerado criado por Claire Montgomery, notamos que ali havia o financiamento de diversas empresas e laboratórios famosos da DC, então não era de se espantar as exigências que investidores e CEOs faziam aos heróis, afinal, eles buscavam o que suas instituições foram criadas para buscar, lucro, mesmo que de forma não muito honesta. Mas nessa Força-Tarefa nós temos a maior potência do mundo claramente solicitando uma intervenção dos heróis para impedir que um ditador seja deposto. Os rebeldes são “um mal negócio para os interesses americanos”. Não mais a mão da iniciativa privada. Agora, a mão do Estado empregando heróis para fins próprios.

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Cigana, Caçador de Marte, Flash, Asa Noturna e Aquaman em Sanobel.

O roteiro não faz uma crítica ou disseca esse comportamento geopolítico mas o expõe de maneira direta, deixando os heróis em situações que nos causam um pouco de desconforto, como nos quadros em que o chefe da missão, Hannibal Martin (que faz neste arco a sua primeira aparição nos quadrinhos) grita de forma autoritária com o Caçador de Marte, dizendo da maneira mais descortês possível para que “cumpra o que lhe foi ordenado“. Quando Dick Grayson assume o rádio e tem uma explosão de raiva diante das ordens de Martin, o leitor se alegra bastante. Mesmo tudo não passando de uma estratégia de ação desse diplomata (?) — que simplesmente odeia o trabalho de liderar uma equipe de heróis em um ataque coordenado — não se esconde o fato de haver uma voz do Estado por trás e uma missão intervencionista a ser cumprida.

A arte de Sal Velluto e finalização de Jeff Albrecht dão todo o destaque possível às cenas de ação e uso do canhão capaz de matar toda a matéria orgânica que estiver perto. Os paneis que vemos no decorrer da história trazem, em ótimo fluxo de ação, cenas de luta, reconhecimento ou fuga vistas de diferentes ângulos e em diferentes tempos. A fluidez na organização da história e a simplicidade dos traços caem bem ao tema, o que também podemos dizer das cores de Glenn Whitmore, principalmente nos quadros em que o canhão é ativado. Além de expor diversas páginas dominadas pela cor vermelha, o colorista conseguiu adicionar outros pequenos padrões na paleta, não entregando a cena com facilidade ao monocromatismo.

Mesmo um pouco confusa no desenvolvimento da passagem dos heróis por Sanobel, este arco de apresentação da Justice League Task Force é uma divertida e interessante aventura. Desde o contato com a Liga da Justiça Europa, no início do recrutamento, à criação da Força-Tarefa, acompanhamos a politicagem por trás da salvação do mundo e percebemos que até quem tem super-poderes, em algum momento da história, precisa engolir sapo.

Força-Tarefa Liga da Justiça: Missão Sanobel (Justice League Task Force Vol.1 #1 – 3) — EUA, 1993
Roteiro: David Michelinie
Arte: Sal Velluto
Arte-final: Jeff Albrecht
Cores: Glenn Whitmore
Letras: Bob Pinaha
Capas: Sal Velluto
Editoria: Brian Augustyn, Ruben Diaz
16 a 20 páginas

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