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Crítica | Fragmentado

por Bruno dos Reis Lisboa Pires
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Ao associar-se à produtora Blumhouse em A Visita, Shyamalan abriu um novo leque de opções possíveis para sua carreira. No seu filme de 2014 ele extraiu tudo de estilístico ao recorrer o found footage, um sub-gênero já batido, mas que aqui serviu para dar mais valor às outras aptidões do diretor, que de certa forma “libertou-se” do próprio estilo controlado de conduzir o filme. Em Fragmentado as coisas mudam um pouco. Primeiramente, trata-se de um filme de sequestro em que as reféns devem escapar das mãos de um psicopata, nenhuma novidade, mas cuja característica controladora do Shyamalan casa muito bem. Um filme claustrofóbico por natureza, cuja frontalidade e suspense do diretor acrescenta demais ao ritmo já estabelecido por outras obras desse cânone.

É engraçado ver como Shyamalan, mesmo lidando com um material muito próximo de uma tendência do horror, consegue ao mesmo tempo deliberar suas ideias usuais e também fazer muito bem aquilo que anda em voga no cinema. E por tratar de uma inclinação do terror tão difundida no momento do lançamento do filme, o autor beneficiou-se da expectativa criada em cima de sua obra, que buscou encabeçar-se por um tom naturalista, sempre remetendo à psicologia e ciência à condição de Kevin, para enfim transformar a história numa fantasia e provar que Shyamalan nunca esteve fora de seu terreno fértil entre a imaginação e fé.

A construção de mitologia em si é muito difusa, ao contrário de toda carreira do Shyamalan. Seu jogo foge das certezas e prefere a dúvida em relação ao que está acontecendo. Se em A Dama na Água ou Sinais, o ritmo do filme é favorável ao que está para acontecer, destrinchando a noção de mundo de cada uma das obras, aqui o desenrolar se dá pela instabilidade, deixando de lado o costume fabular do diretor. A fé se deu como a chave para todos os problemas do mundo em todos os seus filmes, mas aqui ela é a catalisadora do mal, a arma principal de Kevin, um vilão, seguindo a tradição do horror, mas uma vítima, que no final das contas muito tem em comum com Casey, protagonista do filme.

Por que o vilão e a mocinha se encontram no final das contas? Casey vai ao longo do filme entendendo-se como alguém poderosa e capaz de deter a Besta, até então algo indeterminado, mas quando o paranormal ascende aos planos e entende nas feridas da menina uma vítima, mas alguém superior. Em sintonia por serem indivíduos que brigam pela sobrevivência, tanto Casey quanto Kevin conseguem escapar uns dos outros, um ciclo que não é encerrado, mas que revela a força capaz de ser recuperada de um trauma. Tanto o vilão quanto o mocinho partem de um mesmo ponto em comum, e precisam um do outro para coexistirem. Nos últimos trinta minutos de filme toda a mitologia é criada, a crença religiosa em si mesmo baseada na mentalidade quadrinesca típica do autor. Pra mim fica bem clara a ligação entre este filme e Corpo Fechado, e não me surpreenderia nada que o Shyamalan tenha os escrito juntos, mas que venha Vidro para encerrar tudo da melhor maneira possível.

Fragmentado (Split) — EUA, 2016
Direção:
M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan
Elenco: James McAvoy, Anya Taylor-Joy, Haley Lu Richardson, Betty Buckley, Jessica Sula, Izzie Coffey, Brad William Henke, Sebastian Arcelus
Duração: 117 min.

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