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Crítica | Frontier – 1ª Temporada

por Guilherme Coral
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estrelas 3

  • Contém spoilers da temporada.

Uma coprodução da Discovery Channel Canada e NetflixFrontier chegou ao catálogo do canal de streaming de forma discreta, como mais uma tentativa de emplacar um seriado histórico, após o fracasso da cancelada Marco Polo. Sendo primeiro exibido no Canadá, a série nos leva para a América do Norte do século XVIII, no território no qual hoje se situa o Canadá, focando nos conflitos existentes entre as diferentes companhias que buscavam a riqueza através do comércio de pelos no norte do continente. Com uma constante violência e repleta de jogos de poder, temos aqui uma produção evidentemente inspirada pelo sucesso de Game of Thronesmas que, por enquanto, se demonstra consideravelmente mais simples, por não transitar entre um exagero de focos nos mais distantes personagens.

A história tem início com Declan Harp (Jason Momoa), um ex-membro da Hudson’s Bay Company que tem causado inúmeros problemas para a companhia da qual fazia parte, assassinando seus membros, ligados à coroa britânica e acabando com suas rotas de comércio. Dito isso, lorde Benton (Alun Armstrong) se encarrega de dar fim a essa ameaça à empresa na qual ocupa um alto cargo, visto que Harp fora um protegido seu que se rebelara. Nesse cenário, temos o protagonista Michael Smyth (Landon Liboiron), um jovem irlandês, que vive nas ruas de Londres e que acaba embarcando sem querer para a América do Norte, se envolvendo diretamente com os conflitos que lá ocorrem.

 Frontier é uma daquelas séries que precisamos nos habituar a assistir. Seu início introduz tantas subtramas que nos deixam invariavelmente confusos, ao passo que rezamos para que o foco se estabelece de forma permanente em Michael, que, naturalmente, funciona como nossa porta de entrada nesse universo. O grande problema é que um dos focos específicos da série não conta com o protagonista sequer próximo e pegamos seu desenvolvimento já no meio, o que nos custa diversos episódios para chegar a entendê-la de fato, provocando um evidente problema no ritmo dos capítulos.

Essa cadência do seriado é justamente aquilo que diminui nosso aproveitamento como um todo. Embora contem com aproximados quarenta e cinco minutos, cada episódio nos faz sentir como se estivéssemos diante de um filme de duas horas, o que definitivamente impede de assistirmos tudo de uma vez. Felizmente, todo e qualquer subtrama presente desempenha um papel chave dentro da narrativa, cada uma como uma bem elaborada peça de um quebra-cabeças que começa a se montar nos trechos finais da temporada. Quando, enfim, enxergamos isso, é que nossa percepção da série assume um teor mais positivo, especialmente considerando que esse primeiro ano conta com somente seis capítulos e consegue colocar quase todos os seus personagens em um ponto comum sem grandes esforços.

Mas dentro dessas diferentes subtramas temos alguns evidentes problemas, especialmente no que tange a construção dos personagens. Para começar, Michael é apresentado de maneira ótima, nos revelando seu status quo no início da temporada e deixando bem claro quais sãos as pretensões do jovem, que está cansado de catar migalhas nas ruas da capital inglesa. Conforme a série avança, porém, sentimos como se sua progressão fosse interrompida em determinados momentos, apenas para ser realizada de uma hora para a outra posteriormente – sua própria aliança com Harp soa artificial, ao passo que em nenhuma cena o suposto selvagem que se rebelara exibe razões para que Smyth confie nele. Com isso, o protagonista acaba sendo apagada por muito tempo, prejudicando nossa imersão consideravelmente.

Declan, por sua vez, não ganha nenhuma profundidade com o passar do tempo – as informações que sabemos sobre ele já são dadas nos primeiros episódios – felizmente isso impede que a não-atuação de Momoa estrague tudo, ele apenas cumpre seu papel o que já é mais que suficiente, visto que mais necessário que palavras é a própria aparência do personagem nesse caso. Evidente que, em alguns momentos, quando é necessário um trabalho mais dramático do ator, ele não consegue entregar, mas são raras as ocasiões – na maior parte do tempo ele funciona simplesmente como o “brucutu” que tem causado problemas no norte.

Felizmente, os outros personagens mais que conseguem manter nossa atenção fixa na tela, exibindo personalidades bastante distintas que floreiam a narrativa com uma grande pluralidade. Dessas, devo destacar Grace Emberly, vivida de forma excelente por Zoe Boyle, uma mulher forte que evidentemente corre, como deveria, atrás de seus próprios objetivos, utilizando quem for necessário para conseguir o que quer. Chega a ser desconcertante como, em momento algum, sabemos de qual lado cada um deles está e, a partir do segundo episódio, passamos a entender com clareza suas motivações, tirando de nós aquela confusão inicial. O que ainda mais desperta nossa insegurança é a constante presença da violência, que não é colocada de forma tão explícita quanto em outras séries, mas deixa a morte sempre à espreita. Não estamos falando de algo como Game of Thrones e sim o suficiente para garantir o realismo dessa realidade fria e crua.

Tal realidade retratada é ainda mais enriquecida pelo excelente desenho de produção, que acerta não somente nos figurinos de cada personagem, como nas localizações retratadas. Em momento algum duvidamos que estamos diante do século XVIII, contrabalanceando o problema de imersão provocado pelas falhas em alguns personagens.

O que, de fato, chega a mais incomodar no seriado são as sequências noturnas, nas quais não conseguimos enxergar quase nada. Na tentativa de tornar tudo o mais natural e realista possível, a fotografia acabou exagerando, nos fazendo querer aumentar o brilho da televisão ao máximo para conseguirmos, ao menos, discernir o que ocorre em tela. Considerando que muitas das cenas importantes da série ocorrem à noite, estamos falando de um erro grave da produção, contribuindo para o já falado problema de ritmo, visto que nossa imersão é quebrada totalmente ao forçarmos nossos olhos para conseguir assistir o seriado.

Outro gigantesco deslize desse primeiro ano é o seu season finale, que dá a entender que veremos algo grandioso ou dramático, mas que falha miseravelmente, nos entregando um desfecho sem o menor vislumbre de um clímax. Estamos falando de um final que simplesmente interrompe a ação no meio, como se o capítulo fosse dividido em duas partes, com a segunda presente apenas na próxima temporada, que já fora confirmada.

Felizmente, esse problema final não nos afasta da boa percepção que Frontier nos deixara. Temos aqui uma série repleta de deslizes, mas que consegue nos engajar episódio atrás de episódio, por mais que o binge-watching não seja exatamente a melhor maneira de aproveitá-la. Passada a confusão inicial, nos vemos verdadeiramente aproveitando sua progressão narrativa, que poderia ser melhor refinada, mas que ainda consegue nos transportar direto para a cruel realidade da América do Norte no século XVIII. Certamente um bom começo para o Discovery Channel Canada, que tem essa como sua primeira produção roteirizada.

Frontier – 1ª Temporada — Canadá, 2016
Showrunner:
Rob Blackie, Peter Blackie, Brad Peyton
Direção: Brad Peyton, John Vatcher, Kelly Makin, Ken Girotti
Roteiro: Rob Blackie, Peter Blackie, Perry Chafe, Greg Nelson, Joseph Kay, Greg Spottiswood
Elenco: Jason Momoa, Landon Liboiron, Zoe Boyle, Christian McKay, Evan Jonigkeit, Allan Hawco, Lyla Porter-Follows, Diana Bentley, Greg Bryk, Breanne Hill, Jessica Matten, Paul Ewan Wilson, Michael Patric, Katie McGrath, Alun Armstrong
Duração: 6 episódios de aprox. 45 min.

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