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Crítica | Gaga: Five Foot Two

por Luiz Santiago
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lady-gaga Five Foot Two plano critico

A linha de documentários “desglamourizadores de estrelas” parece não só ter encontrado um filão de público ávido por ângulos diferentes sobre o mundo da fama, como também adicionado discussões sobre o que a carreira artística em escala mundial pode fazer a uma pessoa. O fenômeno, claro, não é novo no cinema. Podemos já encontrar nos anos 1970 produções que indicavam esta linha ao retratar os Beatles ou os Rolling Stones, por exemplo. Mas a escola “positivamente invasiva” do cinema documental desconstruindo artistas firmou-se de verdade em 1991, com Na Cama com Madonna. A partir de então, diversas variações do formato puderam ser vistas nas grandes telas, chegado às safras recentes com longas como What Happened, Miss Simone? (2015), Amy (2015) e o presente Gaga: Five Foot Two (2017).

Distribuída pela Netflix, a película adota o estilo do Cinéma Vérité para acompanhar Lady Gaga durante a produção de seu quinto álbum de estúdio, Joanne (2016), passando também pela participação da cantora em American Horror Story: Roanoke e terminando com sua performance histórica no Super Bowl, em fevereiro de 2017. Como é de se esperar nesse tipo de filme, há um grande nível de introspecção, vindo tanto pelas falas da pessoa documentada quanto pelas situações que a vemos passar. Se em dado momento a sensação de “encenação” nos toma de assalto (o dilema do “espelho partido” do gênero documentário) é impossível não sentir também a sensação de estar vigiando, buscando falhas, momentos de crise e todo tipo de problema para tornar o “cinema verdade” ainda mais verdadeiro. E claro, no fim das contas, isso é benéfico porque cria uma nuance diferente para o documentário e nos traz momentos bastante delicados da vida de uma artista tão conhecida.

A cargo de Chris Moukarbel (Banksy Does New York), a direção do filme se dispõe a nos dar espetáculo a todo o tempo, não importando o quão pessoal, artística ou conceitual sejam as situações. O que talvez tenha tido um grande peso nesse processo é que, no início da obra, temos uma Lady Gaga junto à família, com um tipo de postura que imaginamos que será o padrão para o longa, mas este é apenas um ponto logo abandonado. São muitos lugares e muitos pequenos elementos a serem considerados, todos eles interessantes mas que deixam a obra um pouco bagunçada, como se não tivesse um fio da meada costurando os principais eventos, que vão das conversas e convivência da cantora com o produtor Mark Ronson, breves encontros com amigos e familiares, até os ensaios para o grande show, as gravações de Joanne, as sessões de maquiagem, o isolamento, as indicações de desespero e a batalha extremamente dolorosa de se ver, da artista lutando contra a sua fibromialgia.

A cobrança da idade e as realizações de vida como artista, o amadurecimento, o envelhecimento e a busca por novos patamares em sua jornada como cantora e compositora são temas abordados de diferentes ângulos por Lady Gaga, que também fala da polêmica com Madonna (lembram das acusações de plágio de Born this Way vs. Express Yourself?), do carinho pelos fãs e das tristezas pessoais entrelaçando-se com a vida profissional. A cada nova exigência, show, entrevista, necessidade de divulgação do novo trabalho, ensaios, contato com o público via redes sociais, responder centenas de vezes a mesma pergunta, gravar clipes e entrar no palco mesmo estando fisicamente incapaz são alguns dos momentos que o documentário nos mostra, indicando ser parte do loop de obrigações que um artista atravessa a cada novo projeto.

Com ótima trilha sonora, fotografia de base realista, condizente com o estilo de documentário adotado e montagem infelizmente um pouco confusa, mas impactante no todo, Gaga: Five Foot Two é um recorte impressionante do trabalho de alguém cujas ações pode mobilizar milhares de pessoas ao redor do mundo. E mais uma mostra de que Lady Gaga é mesmo uma grandiosa artista, carregando uma qualidade rara em seu meio musical pop, o fato de não ter medo de mudar.

Gaga: Five Foot Two (EUA, 2017)
Direção: Chris Moukarbel
Roteiro: Chris Moukarbel
Elenco: Lady Gaga, Bobby Campbell, Joe Germanotta, Mark Ronson, Donatella Versace, Florence Welch
Duração: 100 min.

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