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Crítica | Galante e Sanguinário

por Ritter Fan
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estrelas 3

Refilmado em 2007 com o mesmo título em inglês e em português como Os Indomáveis, estrelando Russell Crowe e Christian Bale em lados opostos, Galante e Sanguinário é um clássico de simplicidade ímpar. Nunca foi, porém, um clássico que me apeteceu e, revendo para preparar a presente crítica, a mesma impressão do faroeste sério, mas limpo demais, perfeito demais, permaneceu em minha mente.

O que realmente se destaca nessa obra de Delmer Daves, baseada em conto do sensacional e saudoso autor americano Elmore Leonard (mais recentemente, autor da série Justified), é a atuação de Glenn Ford contra seu tipo clássico de bom moço, mas só em parte. Ele é Ben Wade, o ladrão líder de uma gangue que assola o Arizona e imediações. Quando somos apresentados a ele, o “galante e sanguinário” ladrão está roubando uma diligência nas imediações da cidade de Bisbee, mas sempre da maneira mais educada possível, matando só quando realmente tem que matar. As testemunhas oculares de seu crime são o vaqueiro Dan Evans (Van Heflin) e seus filhos pequenos, que estão de passagem pela região, tocando seu valioso gado em meio a seca.

Depois desse inusitado começo, que, como todo o resto da fita, segue fielmente o Código de Produção em vigor à época e esconde todo tipo de violência, palavrões e vislumbres de sexo, Wade vai atrás de um rabo de saia, depois de encantar a moça por dolorosos e longos minutos que só servem para solidificar sua figura de “vilão bonzinho” e acaba, com isso, sendo preso pelo xerife graças à ajuda de Dan Evans (claro!). A partir daí, a missão é uma só: levar Wade até o trem das 3:10 em direção a Yuma antes que sua gangue impeça, quase que como um lento videogame.

Apesar da duração da fita, ela parece se arrastar graças à necessidade de Daves e do roteirista Halstead Welles de fixar a câmera em longos diálogos entre Wade e Evans, que nos fazem simpatizar cada vez mais com o vilão e desgostar de quem em tese deveria ser o mocinho. A tentativa de troca de papéis é a graça do filme, mas isso vem às custas de lentidão e de um clímax com gosto de anticlímax e que, como não poderia deixar de ser, acaba com a volta da chuva à região, quase como um novelão. Aliás, falando em novela, Galante e Sanguinário conta até mesmo com uma música tema, à la James Bond, com o mesmo título do filme e composta por George Duning e Ned Washington e que é inserida na trilha na abertura em sua versão original e ao longo da fita em vários arranjos interessantes, inclusive sendo assobiada por Wade.

A fotografia de Charles Lawton Jr. em preto e branco com forte contraste é eficiente ao comentar as sequências, deixando claro os lados na disputa, além de permitir a criação de suspense nos 15 minutos finais. As composições dos quadros em Contention City, com a gangue de Wade aparecendo aos poucos ao longo das ruas também funcionam muito bem por intermédio da fotografia, sempre colocando em oposição o claro e o escuro para a perfeita identificação de quem é quem nessa perigosa procissão.

Mas Galante e Sanguinário, como o título em português ironicamente deixa claro, é um faroeste que é muito mais galante, com roupas sempre bem passadas e impecáveis, do que sanguinário, já que Wade faz, talvez, o vilão mais adorável da História do Cinema. Russell Crowe é muito mais vilão no mesmo papel que Glenn Ford, ainda que o charme irresistível de Ford divirta por vários momentos.

Galante e Sanguinário (3:10 to Yuma, EUA – 1957)
Direção: Delmer Daves
Roteiro: Halsted Welles (baseado no conto de Elmore Leonard)
Elenco: Glenn Ford, Van Heflin, Felicia Farr, Leora Dana, Henry Jones, Richard Jaeckel, Robert Emhardt, Sheridan Comerate, George Mitchell, Robert Ellenstein, Ford Rainey
Duração: 92 min.

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