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Crítica | Game of Thrones – 6X05: The Door

por Iann Jeliel
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The Door

  • Contém SPOILERS. Leia aqui as críticas das demais temporadas e/ou episódios.

Jack Bender é um dos grandes diretores de TV da história. Responsável por inúmeros dos melhores episódios de Lost – minha série favorita –, além de ter no currículo episódios de Família Soprano, Alias, dentre outras grandes séries, chega agora em sua primeira participação em Game of Thrones de cara, apresentando um dos seus melhores episódios. Ainda que em termos de progresso narrativo, The Door não se difira tanto assim dos capítulos anteriores desta sexta temporada, ou seja, caminhado a passos largos, seu preenchimento de conteúdo é muito bem distribuído e executado pelo diretor, com aquela sua intensidade narrativa característica, que não tem medo de sujar as mãos nos momentos decisivos de contagem da história, sejam eles pouco relevantes a trama principal ou eventos de larga escala e importância dentro dela.

A escolha de um cara com a experiência de Bender, foi a mais correta possível para potencializar o texto da dupla de showrunners David Benioff e D.B. Weiss, agora que eles não têm o material fonte para se basear num detalhamento narrativo. Então para que não fique claro o discernimento entre o plano que eles têm para a conclusão e a forma detalhada incerta que será o caminho até lá, o caráter mais urgente do diretor encaixa como uma luva. Se lembremos de Lost, praticamente todos os episódios que dirigia, possuía essa calorosidade nos diálogos constante, por mais que fossem olhadas em uma câmera simples, trocando de plano para contra plano, só que a forma aproximada, geralmente em sequências inteiras transitando agilmente entre planos fechados e tremidos, davam essa sensação de dinamismo sufocante, em que tudo encenado estava em tensão que precisava ser resolvida naquele momento. Apesar do chocalho de câmera como recurso, Bender sempre teve uma noção geográfica pertinente para deixar tudo compreensível, mesmo com a agitação, o que fez seu casamento com Game of Thrones nesse momento ter sido super adequada.

Falando um pouco núcleo a núcleo, tivemos algumas excelentes cenas a se destacar, antes da gran finale que crava The Door como um dos melhores da série e sem dúvidas, o melhor da temporada até agora. Começando pela fantástica cena que abre o episódio na conversa entre Sansa (Sophie Turner) e Mindinho (Aidan Gillen), que busca sua aliança novamente, não correspondida após a fatídica união encabeçada por ele que resultou no casamento da Stark com o psicótico Ramsey (Iwan Rheon), e consequentemente, no estupro da menina. O desabafo é fortíssimo, até melhora aquela cena para lá de contestável do episódio Unbowed, Unbent, Unbroken da quinta temporada, convertendo as consequências do seu caráter explicito, numa transformação igualmente explicita e deveras inesperada de uma personagem até então chatissíma, para uma mulher forte e com uma trajetória dramática de mudança das mais interessantes da série no momento. Mais interessante que a de Arya (Maisie Williams), por exemplo. Pelo menos por agora, suas aventuras na Casa do Preto e Branco pouco apresentam um progresso relevante a trama, ainda que nesse episódio conte sobre a origem dos “homens sem rosto”, além da personagem recebe sua primeira missão prática de assassinato para se tornar uma ninguém, de certo modo, também sendo desafiada a confrontar o passado ao assistir o teatro de rua, revitalizando suas memórias traumáticas dos eventos em King’s Land de maneira debochada, ainda não chegam a compensar o desinteresse geral desse núcleo.

Voltando as boas partes, temos outra ótima cena na sequência nas Ilhas de Ferro, em que é discutido quem será o novo rei ou rainha, onde vale destacar os excelentes monólogos, tanto de Theon (Alfie Allen), quanto de sua irmã Yara (Gemma Whelan) em defesa da evolução da honra daquela familia em proporcionar sua primeira comandante mulher para os novos tempos. Como contraponto, chega seu tio Euron Greyjoy (Pilou Asbæk), que matou o antigo rei Balon Greyjoy (Patrick Malahide), admitindo tal feito e mesmo assim se sobressaído na disputa de poder que poderia durar mais episódios, como ainda fica em aberto já que os irmãos fogem para não morrerem, mas que a meu ver dificilmente ficará no campo político somente no núcleo da Ilha, como o próprio Euron menciona que vai atrás de se aliar a Daenerys (Emilia Clarke) e os Greyjoy refugiados, quem sabe, podem ir ao norte apoiar Jon Snow (Kit Harington) em sua guerra, dado a dívida moral que Theon adquiriu a eles. Será que isso indica a possível divisão de guerra no futuro? Bem, não sei. O que eu sei é que a turma do norte precisa de alianças para o agora. Sansa nega mindinho, mas já envia Brienne (Gwendoline Christie) em busca dos Tully. Jon Snow elabora planos para ir em outras casas do norte buscar apoio. Premissas que devem ser resolvidas já no próximo episódio que também será dirigido pelo Bender.

Por fim, antes do clímax, destaco também como excelente cena aquela envolvendo Tyrion (Peter Dinklage), Varys (Conleth Hill) e uma outra feiticeira desconhecida denominada Kinvara (Ania Bukstein), que nunca apareceu antes na trama e duvido que apareça com relevância mais para a frente, ou seja, é algo que provavelmente não tem importância na história – o que tinha era a anterior, que o anão conseguiu um acordo com os senhores de escravos temporariamente até a chegada de Daenerys, que por sinal, possui só uma ceninha no episódio bem bacana também, em que Sr. Jorah (Iain Glen) admite que a ama e parece que pode ser correspondido finalmente se conseguir achar uma cura para a sua doença –, mas não deixa de ser interessante pela forma a qual Bender a enxerga, potencializando os diálogos em atritos ideológicos pertinentes ao universo da série no momento e poucas vezes colocado como pauta. A dicotomia apresentada entre conhecimento e religião e a posição dos diferentes cidadãos de Westeros, mais ou menos poderosos no meio, é um diálogo tão interessante que lembra até aqueles grandes momentos dramatúrgicos de Lost, focados no embate entre fé e ciência.

Enfim, falaremos do núcleo principal de The Door, com Bran (Isaac Hempstead Wright) e o corvo de três olhos (Max von Sydow), onde estão os maiores métodos do episódio. Gosto de como o clímax ali surge de forma repentina dentro do próprio capítulo. Na primeira aparição, vemos a origem do White Walkers através das crianças, mas ao invés de irmos para mais flashbacks explicativos, detalhando a mitologia e motivação da guerra entre os seres da floresta e os humanos, posteriormente na segunda aparição no capítulo, Bran decide investigar por contra própria, revelando acidentalmente sua localização ao Rei da Noite (Vladimir ‘Furdo’ Furdik) e iniciando a partir daí uma corrida contra o tempo para sua transformação no corvo e fuga do local da arvore mística. A direção de Bender a partir da instauração da climática, amplifica a claustrofobia da caverna aliando-a ao fato de Bran está desacordado e os demais personagens definitivamente estarem em desvantagem numérica aos zumbis, para elevar a tensão da sequência a níveis sufocantes, digno de colocá-la entre as melhores que Game of Thrones até hoje apresentou.

O desfecho com a morte de Hodor (Kristian Nairn) e a explicação da origem da patologia do personagem através do “Hold the Door” transitado entre diferentes temporalidades, fica como a cereja do bolo. Uma explicação que em nenhum momento foi exatamente cobrada ou sequer era necessária para os desdobramentos da trama, mas que sem dúvidas, é uma das soluções mais inteligentes vindas da mente de George R.R. Martin exclusivamente para sua adaptação televisiva – quase compensa o total desperdício dos lobos dos Starks, que tem mais um morto pelos zumbis aqui – fornecendo um final emocionante com uma consequência impactante da inserção da fantasia cada vez mais presente no universo da série. Ao ser executado por um diretor diferente com ampla noção de distribuição de núcleos e intensidade para o conteúdo de cada um, igualmente como se fossem cenas de ação, presentes também de maneira excelente no episódio, The Door definitivamente alavanca a temporada para uma próxima metade de potencial épico.

Game of Thrones – 6X05: The Door | EUA, 22 de maio de 2016
Direção: Jack Bender
Roteiro: David Benioff, D.B. Weiss
Elenco: Peter Dinklage, Emilia Clarke, Kit Harington, Aidan Gillen, Liam Cunningham, Carice van Houten, Sophie Turner, Nathalie Emmanuel, Maisie Williams, Conleth Hill, Isaac Hempstead Wright, Kristofer Hivju, Alfie Allen, Michiel Huisman, Gwendoline Christie, Tom Wlaschiha, Iain Glen, Max von Sydow, Kristian Nairn, Richard E. Grant, Essie Davis, Pilou Asbæk, Gemma Whelan, Ben Crompton, Ellie Kendrick, Faye Marsay, Jacob Anderson, Daniel Portman, Vladimir ‘Furdo’ Furdik, Ania Bukstein
Duração: 57 minutos

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