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Crítica | Game of Thrones – 6X10: The Winds of Winter

por Iann Jeliel
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The Winds of Winter

  • Contém SPOILERS. Leia aqui as críticas das demais temporadas e/ou episódios. 

Às vezes para introduzir o que é novo, o velho tem que morrer.r

Se em Game of Thrones os episódios nove geralmente caracterizam no clímax da temporada, as season finales geralmente entregam um enorme panorama do estar por vir, mas claro, com alguns momentos épicos e também climáticos para encerrar mais uma temporada em grande estilo. The Winds of Winter diria que vai um pouco além, e uni as duas coisas de um modo que amarra todas as pontas em avanços sistemáticos precisos para enfim posicionar a guerra dos tronos a sua derradeira conclusão. Como previ em críticas passadas, Cersei (Lena Headey), Jon Snow (Kit Harington) e Daenerys (Emilia Clarke) são os pilares que assumiram o protagonismo da série, não por um acaso, a quinta temporada indecisa do que fazer, jogou ambos para enfrentarem um último desafio pessoal, antes dos inevitáveis ápices de suas conquistas ocorridos neste capítulo.

Há quem questione o arco proposto para isso como uma maneira que a série encontrou para a protelação da história, e realmente, é um argumento com fundamento pensando na enrola que foi a quinta temporada e no progresso muitas vezes a passos curtos dessa sexta, mas pensando em continuidade de produção, a solução de uma temporada de queda e outra ascensão foi até benéfico pensando no efeito de empolgação de ver aqueles personagens que acompanhamos e admiramos ou odiamos – com gosto – chegarem nesse topo. Mesmo a Cersei, com suas práticas incestuosas e seu sadismo avassalador quando mexiam nos seus filhos, possuiu uma caminhada carismática de acompanhar, especialmente considerando que este seu último desafio, a colocava como uma personagem (pelo menos para mim) menos desprezível ou tão desprezível quanto ela.

Desde que surgiu, não suporto o Alto Pardal (Jonathan Pryce) e a princípio o que era uma trama chata, ganhou contornos interessantes à medida que a fé e a coroa ficaram em equivalência de poder, inclusive com os fanáticos religiosos prevalecendo, quando o septo se aliou ao rei Tommen (Dean-Charles Chapman) e a rainha Margaery (Natalie Dormer), colocando Cersei contra a parede. Particularmente não fazia ideia de como isso iria ser contornado por Cersei, só sei que iria, como todos nós sabíamos. Desse modo, o suspense precisava ser elaborado no como isso iria acontecer, e caso esse “como” fosse diluído nos demais episódios, certamente o impacto não seria o mesmo da fabulosa sequência de abertura de The Winds of Winter, que se tornou minha cena favorita da série. Iniciando-se com um leve pianinho, o presságio a alguma catástrofe estava anunciado, afinal, deliberadamente Game of Thrones tem um histórico de só usar a trilhas em momentos decisivos. A direção de Miguel Sapochnik orquestra o julgamento de Loras (Finn Jones) com uma tensão inquietante as trocas deliberadas na montagem ao exterior de Baelor, onde a Lannister prepara um vinho para assistir a explosão de fogo vivo que tomará conta do templo, levando o futuro dos Tyrell e dos “Baretheon” junto.

É uma sequência emblemática em vários os sentidos: mostra o verdadeiro plano do Pardal em já ter Loras desde o início para formar uma milícia protestante basicamente imbatível para tomada de poder dos sete reinos; traz a queda da mascará de Margaery, quando percebe o verdadeiro plano de Cersei, confirmando que ela não comia nada do discurso religioso do Pardal, mas queria usá-lo para resgatar o irmão e ter seu aval para sair de King’s Land; não poupa as vinganças secundárias prometidas nos intervalos, proporcionando uma morte sádica ao antigo Meistre Pycelle (Julian Glover) nas mãos do novo e sua “mão” da rainha, Qyburn (Anton Lesser), além de um destino cruel a Septa Unella (Hannah Waddingham), que passará o resto da vida torturada pelo “Montanha” zumbi (Hafþór Júlíus Björnsson), ainda que ela merecesse, ficamos no mesmo sentimento dúbio do final de Mothers Mercy, nem tamanha maldade de Cersei justificaria aquela humilhação tal como a vingança dela para a “freira”; “confirma” a profecia de Cersei se tornaria rainha, mas que todos os seus filhos morreriam antes disso acontecer – por sinal, a morte de Tommen é fantástica e dirigida com enorme sensibilidade, num plano focado na janela de seu quarto, acompanhando o movimento dele retirando a coroa, absorvendo o alívio de não ter mais aquele comprometimento que nunca havia lhe deixado confortável e se jogando para o suicídio.

O corte depois dessa cena é pela frase “Pela Casa Lannister”, numa rima visual perfeita para fecha a sequência e ir para o núcleo de Jaime (Nikolaj Coster-Waldau) e Walder Frey (David Bradley) já vitoriosos em sua tomada ao castelo da familia Tarly em pose do Blackfish (Clive Russell). Há quem reclame, mas não mostrar o confronto a meu ver foi uma escolha acertada pois deixa claro que o direcionamento dos acontecimentos anteriores do núcleo, serviu como agora, muito mais para colocar o cavaleiro dourado em uma posição de desconforto sobre sua moral e honra – o encontro com Brianne (Gwendoline Christie) em No One faz esse reforço. Tal desconforto é retomado na última cena realmente do núcleo anterior, com a coroação de Cersei como rainha dos sete reinos, primeira de seu nome, vestida totalmente em preto para demonstrar a imponência de uma mulher que agora não tem mais filhos para segurar seus escrúpulos, que como bem fora colocado na sequência de abertura, já foi ultrapassado para ela conseguir sobreviver. O olhar de Jaime inquietante a ver a irmã daquele jeito só confirma um processo de possível “redenção” que o personagem já havia sido encaminhado em meados da terceira temporada, pausado, mas que deve e tem de ser retomado a fins de coerência, antes do fim da série.

Ainda elogiando a montagem de The Winds of Winter, a escolha de elipses e o senso de empolgação da direção para o fechamento de algumas construções para o avanço da história, é impossível não destacar a vingança de Arya (Maisie Williams) contra aquele que chacinou sua familia no casamento vermelho. Bem melhor do que mostrar todo ou parte do seu caminho de Braavos até Westeros, seja nesse episódio, seja em outros da temporada, foi já jogá-la direto no objetivo que a fez passar por todo o treinamento e compensar a esperar. Isso não quer dizer que foi uma cena arbitrária, pelo contrário,  há uma pista indicativa na cena da conversa de Jaime e Frey, com essa mulher – o rosto que havia escolhido para se disfarçar – o encarando com um desprezo disfarçado. Basicamente ela estava se decidindo quem iria matar ali, e agora que adquiriu as habilidades do homem sem rosto, o assassinato de Frey – amplamente satisfatório pensando na surpresa do momento que foi colocado no episódio – indica que a personagem irá passar por uma longa jornada a fim de vingar todos que maltrataram sua familia e nisso aí ela pode ser um elemento surpresa na guerra, como certamente, a morte aleatória de Frey comendo torta feita dos próprios parentes vai ter alguma repercussão.

Falando em repercussão, The Winds of Winter também trata das consequências mais diretas da Batalha dos Bastardos. Como previsto, no Norte, o roteiro alimenta a possibilidade de tentativa de golpe do Mindinho (Aidan Gillen) em tentar jogar Sansa (Sophie Turner) contra o irmão, como legitima herdeira do trono do norte ao invés do bastardo Jon Snow. Em contraponto, vemos enfim a parcela final do flashback que Bran (Isaac Hempstead Wright) estava investigando com o corvo de três olhos (Max von Sydow), que havia sido guardada, até desnecessariamente, para ser revelada somente agora, para um efeito de empolgação – montagem perfeita novamente no corte da revelação do bebê para o rosto de Kit Harrington – de descobrir que Snow, é na verdade, filho de Rhaegar Targaryen (Wilf Scolding) e Lyanna Stark (Aisling Franciosi), ou seja, um postulante a herdeiro verdadeiro do trono principal, assim como Daenerys (Emilia Clarke). Não gosto tanto das premissas através disso geradas, afinal, vejo como improvável – ainda que Sansa tenha negado bonito Lord Baelish, fica o gostinho de treta, incitado daquele olhar final de Sansa para Mindinho –, de que ela se rebele contra o irmão, bem como, descarto a possibilidade pela personalidade de cada um, de Snow e Dany serem inimigos apesar da disputa gerada pelo laço sanguíneo, fora que o que mais admirava na jornada do bastardo era o teor improvável e articulado por mérito próprio a sua chegada no trono.

Tanto que é partindo dessa construção que vem o efeito também de empolgação de assisti-lo sendo proclamado como “Rei do Norte” – THE KINGI OF THE NORTH! – por todas as famílias da região, que se uniram ou não a ele em sua luta. Tanto que ele apesar de tudo, ele dispensa Melisandre (Carice van Houten) assim que soube por Davos (Liam Cunningham) que ela queimou Shireen (Kerry Ingram) em nome da crença no senhor da luz. Até o próprio Snow nega essa vertente e parando para pensar, a jornada de Daenerys também permeia as interferências de profecia e destino ligado pelo laço familia, mas essencialmente foi desenvolvido da mesma maneira meritocrática, até com o bônus da amalgama maior a sua sombra de não se tornar aquilo que seu pai era. Por isso a própria elege Tyrion (Peter Dinklage) como “mão da rainha”, para fornecer esse compasso moral para que seu objetivo maior não engula a representatividade que ela simboliza no agora perante tudo que fez. Seu diálogo com Darius (Michiel Huisman), acompanhado da confissão pós-despedida de dizer que apesar de amá-lo não sentiu “nada” em ter de deixá-lo, reforça seu estigma simbólico de mulher independente a frente dos desejos pessoais, que podem ser proferidos quando eventualmente ela conquistar o trono. Lembremos que Sor Jorah (Iain Glen) irá voltar para ela curado, possivelmente já em Westeros, e se alguém merece representar esse seu lado no futuro, seria seu servo romanticamente escanteado.

Essa amara possivelmente estará em Sam (John Bradley), que finalmente chega em cidadela para adquirir conhecimento para virar um Meister, inclusive, possivelmente de todo os sete reinos no futuro e deve ajudar Jorah a encontrar a cura. Eu só acho, que no compasso geral de importância, esse núcleo poderia ter sido deixado para uma temporada seguinte, ainda que goste bastante da sequência do jantar lá do Blood of my Blood, no fim das contas, nada nele apresentado não poderia ter ficado perfeitamente em hiato, até precisar dele com a devida relevância. O mesmo pode ser dito para Dorne, que infelizmente (ou não), não fora ignorado completamente, com Olenna Tyrell (Diana Rigg) se unindo a Ellaria (Indira Varma) para planejar uma vingança contra Cersei, possivelmente abrindo a próxima temporada tendo que arrastar o resto da poeira para debaixo do tapete. Fora que aqui temos o único erro da montagem em colocações de elipses, revelando que Varys (Conleth Hill) chegará em Dorne para fazer parte dessa aliança, sendo que ele estava com Daenerys ainda em Meeren, ou seja, a temporalidade desta cena é bem futura, o que poderia fazê-la ficar guardada justamente para quando fosse necessário mostrá-la.

The Winds of Winter não é um capítulo genuinamente perfeito por conta desses detalhes – deixando claro que apesar da nota máxima, nenhum episódio de Game of Thrones até hoje para mim dispensa alguns problemas –, mas sua execução sequencial de fortes e empolgantes encerramentos cíclicos, alguns pendentes e construídos desde o início da série – o inverno chegou! –, é de uma precisão tamanha que o põem bem próximo e ao lado dos melhores episódios da série. Está tudo bem encaminhado, a ida de Daenerys entre duas coroações e um rei da noite a espreita no som do pianinho de início mixado com a música de abertura de Ramin Djawadi, finalizam a sexta temporada de modo que fica difícil não ficar maluco para ver como irá se desdobrar os capítulos finais das crônicas de gelo e fogo na televisão.

Game of Thrones – 6X10: The Winds of Winter | EUA, 26 de junho de 2016
Direção: Miguel Sapochnik
Roteiro: David Benioff, D. B. Weiss
Elenco: Peter Dinklage, Nikolaj Coster-Waldau, Lena Headey, Kit Harington, Emilia Clarke, Natalie Dormer, Liam Cunningham, Sophie Turner, Aidan Gillen, Carice van Houten, Nathalie Emmanuel, Indira Varma, Maisie Williams, Jonathan Pryce, Conleth Hill, Dean-Charles Chapman, Kristofer Hivju, John Bradley, Isaac Hempstead Wright, Jerome Flynn, Alfie Allen, Michiel Huisman, Hannah Murray, Diana Rigg, David Bradley, Julian Glover, Anton Lesser, Joseph Mawle, Finn Jones, Ian Gelder, Roger Ashton-Griffiths, Jacob Anderson, Gemma Whelan, Ellie Kendrick, Eugene Simon, Hafþór Júlíus Björnsson, Hannah Waddingham, Daniel Tuite, Tim Plester, Robert Aramayo, Aisling Franciosi, Bella Ramsey
Duração: 69 minutos

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