Home TVEpisódio Crítica | Game of Thrones – 7X03: The Queen’s Justice

Crítica | Game of Thrones – 7X03: The Queen’s Justice

por Guilherme Coral
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estrelas 4

– Contém spoilers do episódio. Acessem, aqui, todo o nosso material de Game of Thrones.

Depois de sessenta e dois episódios, o mais esperado encontro de Game of Thrones, finalmente, acontece e, como já antecipado, não seria tudo flores entre Jon Snow e Daenerys Targaryen. The Queen’s Justice marca a aproximação do meio da temporada, mantendo a agilidade observada logo no season première – existe, contudo, uma substancial diferença entre os dois capítulos que seguiram o de abertura e a estreia da temporada: a maneira como os diferentes focos da série são desenvolvidos, não permitindo que a estrutura narrativa caia na velha fragmentação que tanto abala o seriado há anos. Temos aqui um capítulo bastante auto-contido, que sabe nos oferecer uma trama com nítidos progressos estruturada com início, meio e fim.

Evidente que, por estarmos falando de uma série de televisão, essa autocontenção aparece dentro dos limites do possível, afinal, Game of Thrones não é uma série procedural – o que vemos aqui é a continuação dos eventos iniciados anteriormente e já começamos o capítulo com o final da jornada de Jon em direção ao sul. Evidente que tal explícita elipse pode causar estranhamento no espectador, especialmente considerando que as tropas da Mãe dos Dragões chegaram somente nesse episódio a Casterly Rock, embora tenham partido no início do anterior. Aqui vamos precisar que todos busquem um mapa de Westeros para melhor visualização: a morada dos Lannister fica no exato outro extremo da ilha, à Oeste de Dragonstone – se faz necessário, portanto, percorrer a margem da ilha pelo Sul. Enquanto isso, tudo o que Snow precisou fazer foi ir até White Harbor (pouco ao sul de Winterfell) e embarcar com destino à casa dos Targaryen.

Deixando a geografia de lado, tal elipse, evidentemente, funciona para agilizar o ritmo da série, que já se demonstrava hesitante desde as problemáticas quinta e sexta temporadas, as quais nos entregaram alguns poucos capítulos de destaque (e não tiro nem um pouco o mérito desses). Claro que tudo isso não explica o porquê de Sam ainda estar no dia seguinte à arriscada operação que realizara em Jorah, mas, como disse na crítica do episódio anterior, os focos de Game of Thrones não necessariamente ocorrem todos ao mesmo tempo – o estranhamento, claro, permanece, mas é preciso enxergar toda a temporada como uma obra de narrativa não-linear.

Voltando para o esperado encontro do Rei do norte e a Mãe do draco ex-machina, é gratificante enxergar como Benioff e Weiss, responsáveis pelo roteiro do episódio, estabelecem um paralelo entre o reencontro de Tyrion e Jon com o de Ned e Robert, no primeiríssimo episódio da série. Para aqueles que não se lembram, Robert vê Eddard e logo diz que ele está gordo, para o qual o lorde do Norte, somente com o olhar, diz o mesmo do rei – o silêncio, então, é irrompido por risadas e um abraço. Em Dragonstone vemos praticamente o mesmo, mas de maneira mais contida, refletindo a personalidade taciturna de Snow em oposição à tagarelice do Lannister, a qual, muitas vezes, apenas esconde o seu nervosismo. Temos aqui duas figuras que se respeitam e isso é demonstrado pela própria forma como um olha para o outro.

Claro que esse respeito mútuo não se aplica entre Jon e Daenerys, que demonstram clara desconfiança um pelo outro. De fato, estamos diante de dois personagens conceitualmente diferentes – uma nasceu com o direito de ser rainha e teve de sofrer para recuperar seu poder, enquanto que o outro foi criado como bastardo, serviu na Muralha, sem qualquer glória dele esperada. Essa antítese aparece claramente com a cômica apresentação dos dois e as risadas extraídas de nós são mérito do excelente Liam Cunningham, que vem demonstrando há anos ser um dos melhores atores da série. O que não pôde deixar de me escapar é como o poder nas mãos de Snow soa como algo mais democrático, enquanto que Daenerys conquista o seu de forma autoritária, o que abre dúvidas sobre a maneira como irá governar (se esse dia, de fato, chegar).

Desde cedo é interessante observar como Mark Mylod, que novamente assina a direção, opta por grandes planos abertos, transmitindo um notável otimismo através das belas paisagens do local, mesmo com a relação entre os dois personagens demonstrando ser um tanto quanto problemática. Claro que, eventualmente, ambos chegarão a um acordo e já começamos a ver isso em The Queen’s Justice, mérito de Tyrion, quem, enfim, volta a receber cenas que destacam a atuação de Dinklage. Mais importante que nos preparar para tal aliança entre os dois, porém, tais planos funcionam para criar a quebra de expectativa ocorrida no desfecho do capítulo, que quebra por completo esse ousada e precipitada visão mais positiva em relação aos eventos da trama.

Além disso, Mylod utiliza tais enquadramentos para contrastar com os de King’s Landing, com o povo nas ruas recebendo Euron e na própria sala do trono, consideravelmente mais lotada que de costume. Não há como não sentir uma certa claustrofobia em tais sequências, especialmente considerando o que as ruas lotadas da capital já significaram dentro da série (morte de Ned, Sansa quase sendo estuprada, Cersei em seu walk of shame, dentre outros icônicos momentos). O triunfo de Greyjoy, enfim, abre espaço para outro paralelo entre passado e presente na série, com a Lannister repetindo com Ellaria Sand e sua filha exatamente o que o Rei louco fizera com o irmão e pai de Ned, provando mais uma vez como ela própria está se tornando a Rainha louca, desde já nos preparando para uma possível cisão entre ela e Jaime.

Já em Winterfell, nos deparamos com mais um reencontro, dessa vez entre Bran e Sansa, que não se viam desde a primeira temporada. O mais importante aqui é ver como o garoto mudara completamente desde o início da série – ele adota uma postura mais distante e até fria. Existe um certo exagero no roteiro, com o personagem fazendo Sansa lembrar de seu casamento com Ramsay, algo desnecessário para provar a profunda metamorfose do menino. Isso, porém, pode abrir espaço para Littlefinger se aproveitar do trauma da garota, já que, sem dúvidas, ele tentará tomar o Norte para si de alguma forma.

No meio disso tudo, temos apenas mais dois deslizes, que aparecem através de sequências desnecessárias dentro do contexto geral do episódio. Primeiro é Theon sendo resgatado por um barco dos Greyjoy (fiéis à sua irmã), trecho que soa desconexo em razão de sua curta duração e que claramente poderia ter sido deixado para depois ou até mesmo cortado inteiramente, dependendo do que veremos futuramente quando se trata do personagem. O outro ponto é o foco em Sam. Claro, precisávamos ver a partida de Jorah Mormont, que veio junto de uma bela interação entre ele e Tarly, mas, assim como no caso de Theon, a sequência é afligida pelo seu posicionamento dentro do capítulo e curta duração, fazendo-a soar como uma inclusão burocrática, não tendo o quadro geral do capítulo em mente.

Chegamos, enfim, a mais um emblemático desfecho de episódio, que representou mais uma vitória para os Lannister. De início, a narração em off realizada por Tyrion faz parecer como se estivéssemos diante de um grande anticlímax, já que a batalha ocorre de maneira ágil e sem grande impacto ao espectador. Claramente, contudo, isso foi feito a fim de quebrar nossa expectativa através do ataque surpresa da frota de Euron, aliada do ataque das tropas terrestres, lideradas por Jaime, à Highgarden, provando que Tyrion e Daenerys ainda precisam comer muito arroz com feijão antes de guerrearem (vale lembrar que a única experiência militar do anão foi a batalha de Blackwater, na qual ele preparou a defesa e não o ataque).

Com Olenna Tyrell reconhecendo sua derrota, somos presenteados com um final digno de sua longa jornada, a qual respeita por completo a personagem e novamente abre espaço para um conflito entre os dois irmão Lannister. Primeiro devemos notar como a postura de Jaime é essencialmente diferente daquela de sua irmã, ele não demonstra ser impiedoso e sádico como ela. Além disso, Olenna confessou seu crime, pelo qual Tyrion foi julgado e desde o início Jaime acreditara em seu irmão, enquanto que Cersei condenara o anão antes de sequer o ouvir. De qualquer forma, a Rainha dos Espinhos pode ter, muito bem, semeado a discórdia dentro da casa Lannister.

Com esse impactante encerramento, The Queen’s Justice prova ser, apesar de seus deslizes ocasionais, mais um ótimo capítulo desta sétima temporada de Game of Thrones. David Benioff e D.B. Weiss mostra que será necessário mais do que boas estratégias para ganhar essa guerra e que Cersei é muito mais do que uma formidável oponente. Já praticamente sem aliados, Daenerys, enfim, deverá enxergar que precisa de Jon Snow.

Game of Thrones – 7X03: The Queen’s Justice — EUA, 30 de julho de 2017
Showrunner:
 David Benioff, D.B. Weiss
Direção: Mark Mylod
Roteiro: David Benioff, D.B. Weiss
Elenco: Peter Dinklage, Nikolaj Coster-Waldau, Lena Headey, Emilia Clarke, Kit Harington, Aidan Gillen, Liam Cunningham, Sophie Turner, Maisie Williams, Nathalie Emmanuel, Gwendoline Christie, Conleth Hill,  John Bradley, Isaac Hempstead Wright, Hannah Murray, Kristofer Hivju, Rory McCann, Iain Glen, Jim Broadbent, Pilou Asbæk, David Bradley, Anton Lesser, Richard Dormer,  Paul Kaye, Jacob Anderson, Ellie Kendrick
Duração: 63 min.

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