Home TVEpisódio Crítica | Game of Thrones – 7X04: The Spoils of War

Crítica | Game of Thrones – 7X04: The Spoils of War

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

– Contém spoilers do episódio. Acessem, aqui, todo o nosso material de Game of Thrones.

A sétima temporada de Game of Thrones trouxe consigo uma necessária mudança para a série: mais agilidade em seus episódios – especialmente após as consideravelmente lentas quinta e sexta temporadas, que pouquíssimo acrescentaram de fato. Essa diferente velocidade, contudo, acabou ocasionando um nítido problema narrativo, fruto de roteiros mal construídos e montagem que não ajuda – refiro-me, naturalmente, aos constantes teletransportes de personagens, que apenas evidenciam um problema maior com toda a noção de tempo dentro do seriado. Felizmente, The Spoils of War sabe se livrar desse problema e, não por acaso, está entre os capítulos mais curtos da série, o que me faz pensar se tais elementos não estão diretamente relacionados.

A projeção tem início com Jaime e Bronn junto do exército Lannister. O ouro devido ao Banco é enviado a King’s Landing, enquanto que os dois cavaleiros permanecem ali. A interação vista aqui é breve, funcionando prioritariamente para nos mostrar o resultado do dramático desfecho do episódio anterior, além, é claro, de mostrar o aprofundamento da relação entre os dois, fator que seria importante mais adiante no capítulo, que demonstraria na sua plenitude a cumplicidade existente entre Jaime e Bronn.

A menção do ouro ser levado a King’s Landing de imediato, é utilizado pela montagem para justificar a transição de foco para Cersei e Tycho Nestoris (interpretrado brilhantemente por Mark Gatiss). O crucial aqui é entender como que, enquanto Daenerys perde seus aliados, a rainha Lannister apenas fortalece o seu lado do tabuleiro e, agora, com a dívida quitada, é seguro dizer que ela se tornou uma ameaça ainda maior. Aqui já me adianto para ressaltar que, ao fim do capítulo, é dito com clareza que o ouro chegou seguramente à capital, portanto o que vemos sendo destruindo nas caravanas, possivelmente, são armamentos, outros espólios e parte da colheita trazida de Highgarden – o que, por si só, pode trazer consequências catastróficas para a coroa, visto que o povo não ficará muito feliz sem comida e, ao que tudo indica, veremos um cerco a King’s Landing em breve.

A próxima justificativa de transição é bem mais sutil, com os corredores da Fortaleza Vermelha e, claro, as salas não tão bem iluminadas sendo utilizadas para nos levar ao foco em Littlefinger e Bran – alem disso temos, é claro, a conexão entre Baelish e King’s Landing, visto que o conhecemos lá e suas maquinações perfeitamente simbolizam todo a guerra dos tronos. Temos aqui uma interação curta entre os dois, mas bastante significativa, visto que o Stark revela, sem deixar dúvidas, para Petyr que sabe exatamente quem ele, dizendo as palavras: “chaos is a ladder” (o caos é uma escada); frase esta dita por Littlefinger lá atrás, na terceira temporada, para Varys, em uma ocasião na qual apenas os dois estavam presentes na sala do trono. Através dessa revelação, tanto para nós quanto para o próprio Baelish, não seria muito arriscado apostar que ele não irá apenas permanecer em segundo plano por muito tempo.

Ainda nessa sequência, que praticamente é dividida em dois atos bastante distintos entre si, contemplamos o quanto Bran mudara desde que se tornou o Corvo de Três Olhos, a confirmação de que ele não é mais o Stark aparece com toda a força aqui, embora ele já venha dizendo isso desde o episódio anterior (da pior maneira possível, diga-se de passagem). A conversa entre ele e Meera evidencia toda a frigidez do personagem, o que é bastante curioso, considerando o inimigo que buscam enfrentar. Aliás, a menção aos white walkers atua como o vínculo para o próximo trecho, focado em Arya.

Vemos alguém em um cavalo, no alto de uma colina, olhando para Winterfell – a visão, imediatamente, remete a um white walker olhando para a distância, ilusão claro, criada pelo diálogo da cena anterior. Toda a interação no portão pode parecer meramente filler, recurso barato para aumentar a antecipação em relação ao encontro entre as duas irmãs. Mas é preciso lembrar que estamos falando de uma das séries mais assistidas da atualidade e nem todos se lembram com exatidão tudo o que aconteceu, isso sem falar naqueles que pularam direto para essa sétima temporada. Tal trecho, portanto, atua como lembrança de que praticamente ninguém sequer sabe que Arya está viva – aliás, pouquíssimos são aqueles que a viram desde a primeira temporada, justificando, portanto, toda a desconfiança demonstrada pelos guardas.

Depois de uma breve interação, pulamos para o túmulo de Ned Stark, remetendo mais uma vez ao passado de Arya – ele fora o último familiar quem ela viu antes de iniciar sua jornada – apenas justo que seu retorno à sua terra natal seja marcado por uma visita ao pai. Algo interessante de se observar aqui é como o reencontro das irmãs soa parecido com o de Tyrion e Jon, com a garota dizendo que a sua não foi uma história agradável e que acredita que a da outra também não fora. Outro aspecto a ser notado é o ceticismo de Sansa em relação à lista de Arya, algo que seria provado posteriormente através do duelo entre a garota e Brienne, mas chegaremos nesse trecho brevemente e que funciona como um micro-arco dentro desse capítulo, com a percepção de Sansa em relação à irmã mais nova se alterando drasticamente.

Com a menção de Bran, logo pulamos para o encontro dos três Stark, sequência que ja deixa bem clara a construção narrativa do capítulo, que favorece o encadeamento das cenas localizadas no mesmo cenário, os quais, em geral, salvo duas exceções, são mantidos próximos um dos outros. A costumeira fragmentação observada em vários pontos da série não aparece aqui, somente quando se faz necessária a fim de criar bem inseridas elipses, que se fazem presentes em dois pontos bastante específicos. Do reencontro de Bran com Ary o que se destaca é a entrega da adaga, algo que, certamente, Littlefinger não esperava e que, considerando os poderes do Stark, pode significar que Baelish será morto justamente com essa arma e não por acaso, já que ele próprio contratara o assassino enviado para matar Bran na primeira temporada. A iminente morte do personagem, aliás, pode ter sido confirmada através do crocitar de um corvo bem quando Petyr aparece observando os irmãos.

Pulamos, pois, para Danerys e Missandei, em Dragonstone, em outra transição não tão explícita, que faz uso da conexão de Jon com Winterfell. O breve diálogo entre as duas pode não parecer grande coisa, mas revela a preocupação da conselheira da Mãe dos Dragões – considerando a teoria de que a Targaryen será traída, é possível especular que o amor de Missandei por Greyworm será utilizado para justificar tal feito. Não entraremos, porém, nesse frágil terreno e vamos ao que foi apresentado no episódio: Daenerys demonstra estar mais confiante em Jon, embora ainda exija que ele se curve perante ela, enquanto Jon ainda não plenamente acredita na Targaryen, como é bem demonstrado no diálogo entre ele, Davos e Missandei que, aliás, pode ter plantado a semente da discórdia na conselheira, caso ela comece a questionar sua posição de liberdade ali ao lado de sua rainha.

O doce sabor de esperança oferecida pela caverna repleta de vidro de dragão é, então, amargado pelo relato de Tyrion e Varys sobre as perdas em Highgarden e a parcial vitória em Casterly Rock. Felizmente a impetuosa decisão de Daenerys em desistir dos planos inteligentes é interrompida pelo conselho de Jon Snow e o simples ato da Targaryen solicitar sua opinião já diz muito sobre a relação dos dois. É importante observar, também, como a possível rainha destrata o Lannister, questionando sua lealdade na sua imatura explosão – fator que, claro, nos remete novamente à profecia de que o príncipe/princesa será traído(a). Esse questionamento, ainda, é retomado no trecho final do capítulo.

Depois de mais um longo trecho focado em Dragonstone, que apenas confirma a estrutura do episódio, retornamos para Winterfell, que não somente encerra o micro-arco envolvendo a descrença de Sansa em relação à Arya, como funciona a fim de criar uma necessária elipse entre o primeiro foco na fortaleza da Targaryen e o segundo. Aqui ouso dizer que o mais importante é a profunda atenção de Littlefinger em Arya – claramente ele enxerga o risco que ela representa, entrando no caminho dos seus planos de afastar Jon e Sansa, para tomar controle, de alguma forma, de Winterfell. O retorno, enfim, para Dragonstone funciona a fim de criar a expectativa para a longa sequência final, com Jon dizendo a Greyjoy que a rainha não está lá.

Gerando a estrutura cíclica do episódio, retornamos ao foco em Jaime e Bronn, que, como esperado, são atacados pelo exército de Daenerys, que sobrevoa o campo de batalha com um de seus dragões. Matt Shakman, diretor estreante na série, mas que já trabalhara em outras de renome, como Mad MenFargo, opta por planos mais curtos e próximos, escolha tomada, também, no duelo entre Arya e Brienne, com cortes sendo realizados praticamente a cada encontro das espadas. Já se tornou regra retratar as batalhas em Game of Thrones de maneira visceral, sem glorificar a guerra e sim explicitar os seus horrores. Curiosamente, Shakman praticamente transforma Daenerys em vilã aqui, mostrando toda a luta pelo ponto de vista dos Lannister, que são incinerados e esmagados pelos dothraki. É curioso enxergar o paralelo entre ela e Jaime – ele diz que devem dar um alerta para as tropas de Highgarden, antes de atacaram seus remanescentes, por eles terem lutado bem, enquanto que ela faz justamente o contrário, mostrando que não é assim tão diferente dos lordes de Westeros, como bem dissera Jon anteriormente.

Sua glória, interrompida pelo tiro da balestra, cortesia de Bronn, demonstra todo o despreparo da possível rainha para a guerra, questão apenas amplificada pelo pouso no meio do campo de batalha logo em seguida, quando poderia, ao menos, afastar-se um pouco para evitar justamente que alguém a atacasse. Esse cenário é realmente pintado de forma avassaladora por Shakman, que dedica, inclusive, alguns planos abertos, ora para mostrar a imponência do dragão e do exército atacante, ora para evidenciar todo os horrores da guerra, vistos, inclusive, por Tyrion, que acompanha tudo à distância. Aliás, é importante notar como o questionamento da Targaryen em relação à sua lealdade dialoga com esse trecho, principalmente em razão do seu semblante de horror com o que está vendo.

The Spoils of War, então, finaliza na hora que deve, com Jaime afundando no lago, não representando sua morte, mas a queda, possivelmente funcionando como um ponto de virada na história do personagem, que certamente sairá abalado desse confronto. Com trechos mais longos focados em cada personagem, sem gerar grande fragmentações narrativas, além de unir esses focos de maneira orgânica, justificando cada transição, tivemos aqui o episódio mais sólido da temporada, além de ser o mais curto, mostrando que o excesso de trechos curtos, como fora o caso de Theon no capítulo anterior, apenas prejudica a narrativa como um todo. Por mais episódios “curtos” de Game of Thrones!

Game of Thrones – 7X04: The Spoils of War — EUA, 06 de agosto de 2017
Showrunner:
 David Benioff, D.B. Weiss
Direção: Matt Shakman
Roteiro: David Benioff, D.B. Weiss
Elenco: Peter Dinklage, Nikolaj Coster-Waldau, Lena Headey, Emilia Clarke, Kit Harington, Aidan Gillen, Liam Cunningham, Sophie Turner, Maisie Williams, Nathalie Emmanuel, Gwendoline Christie, Conleth Hill,  John Bradley, Isaac Hempstead Wright, Hannah Murray, Kristofer Hivju, Rory McCann, Iain Glen, Jim Broadbent, Pilou Asbæk, David Bradley, Anton Lesser, Richard Dormer,  Paul Kaye, Jacob Anderson, Ellie Kendrick
Duração: 50 min.

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