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Crítica | Game of Thrones – 7X07: The Dragon and the Wolf

por Guilherme Coral
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estrelas 2,5

– Contém spoilers do episódio. Acessem, aqui, todo o nosso material de Game of Thrones.

Depois de uma temporada inteira correndo com a narrativa, com direito a teletransportes, corvos em velocidade de dobra, intervenções divinas e mais, David Benioff e D.B. Weiss, enfim, parecem ter percebido a estranha rapidez que estavam imprimindo e decidiram desacelerar. Estranhamente, a linha de raciocínio dos showrunners parece ter, desde a quinta temporada, adotado um sistema binário, visto que a aparente única alternativa para algo superacelerado é justamente o oposto, a gigantesca morosidade, algo que não posso deixar de criticar, mesmo sabendo da eventual chuva de comentários negativos de alguns (talvez muitos) leitores. Com isso fora do caminho, vamos iniciar nosso passeio por esse longa-metragem de Game of Thrones.

The Dragon and the Wolf inicia dando uma aula a si mesmo de como construir uma boa elipse: já leva os personagens centrais a King’s Landing, não deixando claro, portanto, quanto tempo se passou desde Beyond the Wall e o momento em que estamos. Aqueles que esperavam um grande batalha em razão das tropas posicionadas (mostradas no trailer), certamente não levaram dois elementos em consideração: o primeiro é que a série provavelmente acabaria ou se tornaria um spin-off de The Walking Dead, já o segundo é a presença de Jeremy Podeswa na direção – se fossem fazer algo grandioso certamente alguém como Miguel Sapochnik teria sido escalado. Podeswa geralmente se encarrega de capítulos de construção, tendo assinado os dois últimos season premières da série.

Mas por que disse tudo isso? Pois é preciso levar em conta, antes de julgar a qualidade de um capítulo, a nossa expectativa, que pode muito bem ser enganada por trailers e materiais promocionais – embora eu não acredite que isso tenha acontecido aqui. Dito isso, talvez seja justamente a recente experiência do diretor que tenha transformado o tom desse episódio, em sua maioria, naquele de um episódio de abertura de temporada – algo sentido em praticamente todos os momentos, à exceção de trechos pontuais, como, claro, a derrubada da Muralha. Todo o longo encontro familiar no início do capítulo nos passa essa impressão, visto que abre portas e não necessariamente as fecha. Claro que, por se tratar do fim da temporada e não da série em si, pontas abertas devem ser deixadas. O ponto que precisa ser levado em consideração, porém, é: tivemos o encerramento de um arco narrativo aqui? A resposta pode ser tanto positiva quanto negativa.

Caso consideremos todo esse sétimo ano como uma grande preparação do que está por vir, centrado em uma única questão especifica, a necessidade de se formar uma aliança para combater os mortos, então, sim, o arco foi encerrado, afinal foi justamente isso o que vimos aqui. Todas as peças agora estão posicionadas, inclusive a troca de lados de Jaime em uma cena verdadeiramente angustiante, embora previsível. Por outro lado, se definirmos o arco como a luta contra os white walkers, então vimos apenas metade da história, o que gera a dúvida: não seria melhor terem feito uma temporada maior, dividida em duas partes, como fora o caso do último ano de Mad Men? Acredito fortemente que sim. Por mais que, na prática, isso não fizesse diferença, é importante atentar para a estrutura interna da temporada, que deve funcionar como uma obra fechada em si, com início, meio e fim – caso contrário, poderíamos chamar de Game of Thrones parte 1, parte 2 e assim por diante.

Esse simples aspecto, uma mera diferença de como devemos chamar a temporada, dialoga com o  que foi levantado anteriormente: a expectativa do espectador, que não se sentirá enganado com um final anticlimático, já que ele saberia, de antemão, que essa é só uma parcela da história. E antes que caiam em cima de mim por causa desse “mimimi”, gostaria que pensassem no exemplo de algumas famosas trilogias do cinema. Imaginem se O Senhor dos Anéis: As Duas Torres tivesse acabado pouco antes da batalha do Abismo de Helm, ou se O Império Contra-Ataca finalizasse antes do duelo entre Luke e Vader? Ambos os exemplos são de filmes cujas sequências já haviam sido anunciadas e os dois terminam com poderosos cliffhangers, mas vejam como, nos dois casos, foram contadas histórias bastante específicas, arcos esses que foram bem finalizados. Digo que faltou isso nessa conclusão, que, como mencionado antes, mais soou como uma mistura de finalepremière.

Felizmente o deslize não foi completo, vide a emblemática despedida de Tyrion e Cersei, que apenas se fez presente no episódio justamente por, possivelmente, ser o último encontro dos dois – caso contrário, a cena toda poderia ter sido cortada, já que a rainha já planejava a traição desde o começo. São momentos como esse que nos fazem olhar para toda a relação entre Jon Aegon e Daenerys e enxergar o quão pouco ela foi, de fato, construída, sendo claramente maquinada artificialmente pelo roteiro, não nos passando a impressão de que eles realmente se aproximaram de maneira orgânica. Podemos comparar o relacionamento da tia e sobrinho, também, com o de Jaime e Cersei – claro, eles tiveram várias temporadas para elaborarem tal questão, mas não custava ter protraído um pouco a aproximação dos dois Targaryen? Mesmo Ygritte passou mais tempo ao lado do Rei do Norte. Fica bastante claro que essa aproximação dos dois foi pensada apenas para criar um possível conflito futuro, quando um deles, ou ambos, descobrir a verdadeira linhagem de Jon.

Outro ponto que exala artificialidade é o início do arco, a ser trabalhado no próximo ano, em que Theon, que se mantivera evidentemente ausente durante boa parte da temporada, com breves aparições após ter fugido de seu tio, ganha um desproporcionalmente longo momento de destaque. Aqui, voltamos para a questão da mistura entre finalepremière – a decisão de partir para as Ilhas de Ferro, a fim de salvar sua irmã, funcionaria plenamente no início da próxima temporada, mas aqui soa como se os showrunners tivessem simplesmente jogado o personagem ali para mostrar que não se esqueceram dele. Aliás, falando em esquecimento, se os Imaculados foram mostrados na capital, o que aconteceu com Casterly Rock? Simplesmente deixaram para lá? Faltou um breve diálogo nessa temporada para deixar isso claro.

Ao menos nesse episódio final tivemos um final verdadeiramente digno e esse foi o de Littlefinger, principal arquiteto de todas as confusões (pouparei meu francês) que aconteceram desde a primeira temporada. O vilão (esse sim podemos chamar assim) encontrou um fim digno de Yagami Light em Death Note, com direito a planos dos dois lados sendo revelados no momento final – dispensando a necessidade de didatismos-, desmascarando, enfim, Baelish, que, pela primeira vez, perdeu a compostura. Tudo isso poderia ser desenvolvido em mais episódios, a fim de gerar mais momentum? Claro, mas o resultado final foi bastante satisfatório, colocando um ponto do lado finale do tabuleiro desse capítulo.

E já que falamos de didatismo, não há como não olharmos para a interação entre Sam e Bran como perfeito exemplo de excesso desse fator. Já sabíamos desde a visão do Stark que Jon era um Stark e fora deixado claro em diversos outros momentos que ele, também, é um Targaryen, sendo, pois, o verdadeiro herdeiro do Trono de Ferro. Portanto, qual a necessidade de colocar isso em palavras antes da revelação para o próprio personagem? Faltou apenas que Bran desenhasse toda a árvore genealógica dos Targaryen e que gritasse que ele se apaixonou por sua tia. Tudo isso apenas me faz temer por mais uma repetição na próxima temporada, com tanto Sam, quanto Bran repetindo o mesmo diálogo com um dos dois, ou, como já falado antes, com ambos presentes, além de deixar claro que o Corvo de Três Olhos só sabe aquilo que é conveniente ao roteiro ele saber.

Com tudo isso fora do caminho, podemos olhar em retrospecto para esse episódio com uma visão mais geral e, sem dúvidas, veremos como pouco, de fato, foi apresentado aqui. Tivemos uma clara ênfase na interação em King’s Landing, que ocupou por volta de quarenta minutos do capítulo, e o restante foi pulando de foco em foco a fim de dar os necessários nós (ou abrir outras portas). A dúvida que permanece é: precisavam ter utilizado 81 minutos para fazer tudo isso? Não seria melhor terem utilizado esse tempo para desenvolver melhor a temporada nos trechos que soaram velozes demais? Penso que sim, mas, pelo jeito, a mentalidade de Benioff e Weiss realmente assumiu um estado binário, em que, se não tivermos oito, a única alternativa será oitenta.

Game of Thrones – 7X07: The Dragon and the Wolf — EUA, 27 de agosto de 2017
Showrunner:
 David Benioff, D.B. Weiss
Direção: Jeremy Podeswa
Roteiro: David Benioff, D.B. Weiss
Elenco: Peter Dinklage, Nikolaj Coster-Waldau, Lena Headey, Emilia Clarke, Kit Harington, Aidan Gillen, Liam Cunningham, Sophie Turner, Maisie Williams, Nathalie Emmanuel, Gwendoline Christie, Conleth Hill,  John Bradley, Isaac Hempstead Wright, Hannah Murray, Kristofer Hivju, Rory McCann, Iain Glen, Jim Broadbent, Pilou Asbæk, David Bradley, Anton Lesser, Richard Dormer,  Paul Kaye, Jacob Anderson, Ellie Kendrick
Duração: 81 min.

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