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Crítica | Gotham – 4X19: To Our Deaths and Beyond

por Ritter Fan
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  • Contém spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios anteriores.

Independente de qualquer consideração, a grande verdade é que, depois de That’s Entertainment, qualquer coisa que viesse em Gotham seria um alívio aos espectadores e To Our Deaths and Beyond é exatamente isso, especialmente porque parte do foco repousa sobre os melhores e mais consistentes vilões da série: Pinguim e Charada. Ainda que o resultado não seja particularmente excepcional, é uma bênção um episódio que nos faça começar a esquecer daquela brincadeira de mau gosto que foi a troca de Jerome por Jeremiah.

No lado não zumbificado do episódio, vemos o Charada sendo seduzido tanto por Lee Thompkins quanto por Oswald Cobblepot tendo que tomar uma decisão por si mesmo. Mas é claro que, bem no estilo do vilão, nada é muito simples ou direto, exigindo planos mirabolantes que começam com assaltos a diversos bancos em uma noite que acontecem off camera para que, no melhor estilo Robin Hood, Lee possa distribuir o dinheiro entre os que precisam. Confesso que não sei como encarar esse lado bondoso de Lee depois que ela deu um tiro na testa de Sofia Falcone, martelou a mão do sujeito colocado por Sofia como chefe dos Narrows e assim por diante, mas tudo bem, finjamos que está tudo certo e que isso faz pleno sentido.

Com a chegada do Pinguim tendo Butch a tiracolo, o Charada fica balançado – ou não – sobre os reais sentimentos dele por Lee e vice-versa. O confronto no espelho, mais uma vez, permite que Cory Michael Smith mostre toda sua latitude como ator e me fez desejar um episódio inteiro passado unicamente na mente dividida do sujeito. É impressionante como, sem modificar quase nada em termos de figurino e postura, o ator transmite a perfeita dualidade de seus personagens, em uma representação fascinante do transtorno dissociativo de identidade, algo muito mais sutil aqui do que em praticamente todos os vilões esganiçados e histéricos que povoam Gotham.

A dúvida plantada na mente do Charada, então, nos leva a mais um assalto que, desta vez, vemos em detalhes, com ele fingindo trair Lee para trair de verdade Cobblepot e Butch. E aqui eu faço uma pausa para reflexão. Havia material mais do que suficiente para que essa única trama envolvendo quatro personagens tomasse completamente o episódio, mas Bruno Heller simplesmente não consegue trabalhar um desenvolvimento cadenciado, preferindo correr com tudo e dividir a atenção do espectador entre vários núcleos. Não digo que este episódio não precisasse ser dividido, mas, se Heller tivesse em suas mãos menos personagens, ele teria mais tempo para cada um deles, sem precisar recorrer a acelerações desnecessárias que detraem da narração e impedem que o elenco desenvolva seu trabalho.

Infelizmente, porém, a melhor história do episódio fica até em segundo plano quando não só o título anuncia o foco do capítulo, como há uma clara ambição maior – representada pela quantidade de efeitos especiais e práticos – na mais do que esperada (pois ninguém morre em Gotham, especialmente alguém em tese imortal) retorno à vida de Ra’s Al Ghul. Aqui, a correria também atrapalhou o desenvolvimento da história, com Bruce e Selina sendo atraídos por Tabitha para as garras da facção da Liga das Sombras ainda aliada ao “verdadeiro” Cabeça do Demônio. O que segue daí é um frenesi que vai do sangue de Bruce sendo usado para reviver o vilão em sua forma zumbi – aliás, um excelente trabalho de maquiagem e efeitos práticos – e o confronto dele contra Barbara Kean, completamente seduzida por um poder que não faz ideia do que significa.

Reparem como, novamente, o roteiro pega algo que poderia ser solene e realmente épico e transforma em um pancadaria breve entre um ser milenar e uma loira vaidosa que parece uma louca. Mais tempo teria novamente beneficiado essa linha narrativa, ainda que o final tenha sido satisfatório, com a volta completa de Ra’s e a consolidação do controle de Barbara sobre a facção feminina da Liga das Sombras. O que ela fará com isso, teremos que esperar para ver.

Já no caso de Ra’s, sua visita à Bruce, novamente prestes a beijar Selina, revela os contornos do Cavaleiro das Trevas que ele um dia se tornará, além de servir como prenúncio para a adaptação do arco Terra de Ninguém (No Man’s Land) da mitologia do Batman, em que Gotham é destruída por um terremoto. Seria infeliz se o referido arco ficasse espremido nos três episódios finais, mas, como No Man’s Land é o título do 22º e último episódio da temporada, tenho a esperança que ele seja apenas o cliffhanger para um possível nova temporada, dando mais tempo para que ele seja trabalhado com alguma propriedade.

To Our Deaths and Beyond abre as portas para o final da temporada de maneira eficiente, ainda que apressada. Faltam apenas mais três episódios e seria perfeito se Heller usasse o tempo para desenvolver o que já existe, sem introduzir nada novo nessa já complicada e tumultuada equação que é Gotham.

Gotham – 4X19: To Our Deaths and Beyond (EUA, 19 de abril de 2018)
Showrunner: Bruno Heller
Direção:
Scott White
Roteiro:
Peter Blake, Iturri Sosa
Elenco: 
Ben McKenzie, Donal Logue, Robin Lord Taylor, David Mazouz,  Cory Michael Smith,  Camren Bicondova, Sean Pertwee, Anthony Carrigan, Maggie Geha, Jessica Lucas, Crystal Reed,  Charlie Tahan, John Doman, Morena Baccarin, Peyton List, Cameron Monaghan
Duração: 
44 min.

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