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Crítica | Gremlins

por Ritter Fan
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estrelas 5

Em primeiro lugar, mantenha-o longe da luz, ele detesta luz brilhante, especialmente a do sol, vai matá-lo.

Com produção executiva de Steven Spielberg, roteiro de Chris Columbus e direção de Joe Dante, Gremlins é uma das grandes pérolas oitentistas que reúne praticamente tudo dos filmes de fantasia da época: surpresa, comédia, terror, melancolia, crítica social e uma saudável dose de inesquecíveis efeitos práticos. É, definitivamente, um clássico como tantas outras obras de sua época.

Dante, egresso do excelente Grito de Horror (The Howling), três anos antes, foi a escolha de Spielberg para capitanear essa produção idealizada por Columbus em começo de carreira muito mais como uma maneira de mostrar que sabia escrever. No início, Gremlins era um filme muito mais pesado e sombrio, com sequências decididamente de filmes de horror. Só para se ter uma ideia, a mãe de Billy, o protagonista, seria morta pelos gremlins e os monstrengos comeriam carne humana.  E isso sem contar que, no começo, o coitadinho do Gizmo se transformaria no Stripe!

Sendo uma produção da saudosa Amblin e com Spielberg por trás, a obra de horror foi transformada em uma comédia com leves toques de horror, uma verdadeira delícia audiovisual completamente irresistível. Ver o bem concatenado roteiro de Columbus se desenvolvendo na tela é uma aula de cinema.

Em segundo lugar, não dê água para ele, nem mesmo para beber.

Tentando encontrar um presente de Natal para seu filho, o inventor fracassado, mas de extrema boa índole, Randall Peltzer (Hoyt Axton) acaba comprando, das mãos do neto de um sábio chinês – que se recusara a vendê-la – uma simpaticíssima criatura que é batizada de Gizmo. Mas ele é avisado das famosas três regras: nada de luz e água e nunca alimente o bichinho depois da meia-noite.

A mera existência das três regras – completamente aleatórias, aliás – significa, claro, que elas serão imediatamente desobedecidas. Quando Billy (Zach Galligan) ganha seu presente, ele fica fascinado com o peludo animalzinho com olhos grandes e inteligentes e, não demora muito, o caos toma a cidade. No entanto, quando isso acontece, nós, espectadores, já conhecemos muito bem cada um dos personagens mais importantes.

Utilizando-se de uma narrativa esperta e de uma econômica montagem, Dante e Columbus não perdem um segundo sequer para trabalhar seus personagens. Aprendemos que Billy tem um emprego em um banco, que adora seu cachorro e que os dois tem uma relação meio “Mágico de Oz” com a dona da cidade, a Sra. Ruby Deagle (Polly Holliday). Além disso, percebemos o quão orgulhosos e ao mesmo tempo frustrados são Billy e sua mãe com Randall, já que suas invenções nunca funcionam direito. Da mesma maneira que cada personagem passa pela nossa frente mesmo que brevemente, Dante é cuidadoso ao nos mostrar um pouco da geografia da cidadezinha onde moram, Kingston Falls, o que se mostrará importante mais para o final, quando a ação atinge seu clímax.

Mas a regra mais importante, a regra que você nunca pode esquecer, não importa  o quanto ele chore, não importa o quanto ele suplique, nunca alimente-o depois da meia-noite.

Filmado quase que integralmente em estúdio, Gremlins passa aquela confortável atmosfera de “cinema modesto”, de “pequeno orçamento” e, com isso, ele tem um calor todo especial, mesmo que a trama toda se passe em meio ao frio do Natal no hemisfério norte. Os cenários são muito bem construídos, desde as vistas externas da cidade como os interiores, com especial destaque para a mansão cheia de gatos da Sra. Deagle e o cinema tomado pelos hilários monstrinhos.

Mas, realmente, vale especial destaque a fantástica fábrica de criaturas pelas hábeis mãos de Chris Wallas, trazidos à vida de diversas maneiras diferentes, especialmente marionetes e bonecos mecânicos. É notável a habilidade da equipe de efeitos visuais em dar personalidade a cada gremlin, especialmente ao adorável Gizmo e ao malvado Stripe, o primeiro com trabalho de voz de Howie Mandel e, o segundo, de Frank Welker. Acreditamos na vida dos bichinhos facilmente e vemos, fascinados, a explosão de uma enorme variedade deles a partir da sequência na piscina em que Stripe e “amigos” se multiplicam. Chega a dar saudades ao ver os efeitos práticos em Gremlins hoje em dia em que a regra é bombardear os sentidos com o maior número de efeitos gerador por computador – na maioria mais falsos do que os práticos – possível.

A trilha sonora de Jerry Goldsmith é um primor, com leit motifs inesquecíveis para a Sra. Diggle, Stripe, Gizmo e para os gremlins em geral. Dante soube aproveitar ao máximo o trabalho do compositor, inserindo-o em diversos momentos-chave da fita, especialmente na melancólica – e estranhamente engraçada – história trágica do pai de Kate Beringer (Phoebe Cates), a namorada de Billy. Há, também, claro, a frenética Mega Madness de Michael Sembello, que muito bem encapsula o espírito de anarquia dos monstrinhos.

Dentro de um roteiro simples, porém, vemos temas como paranoia, avareza, consumismo, proteção ao meio-ambiente e uma tendência a nos mostrar o quanto a chamada civilização é pouco civilizada. O chinês – chamado apenas de avô (Keye Luke) – que guarda Gizmo no começo e se recusa a vendê-lo para Randall deixa isso muito claro ao tomar o bichinho das mãos da família Peltzer depois da literal destruição da cidade. Mesmo assim, nós saímos com um sorriso no rosto e a certeza de termos visto uma obra-prima.

Vocês fizeram com mogwai o que sua sociedade… fez com todos os presentes da natureza. Vocês não entendem. Vocês não estão preparados.

Gremlins (Idem, EUA – 1984)
Direção: Joe Dante
Roteiro: Chris Columbus
Elenco: Zach Galligan, Phoebe Cates, Corey Feldman, Hoyt Axton, John Louie, Keye Luke, Susan Burgess, Scott Brady, Arnie Moore, Harry Carey Jr., Polly Holliday, Howie Mandel, Frank Welker
Duração: 106 min.

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