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Crítica | Harry Potter e o Cálice de Fogo

por Luiz Santiago
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Podemos dizer que a ação — como a conhecemos do gênero cinematográfico — só acontece de fato na saga Harry Potter a partir do terceiro episódio, O Prisioneiro de Azkaban. As duas obras anteriores são incursões pouco abrangentes, porém, boas, no mundo bruxo, e trazem muitos resquícios da infância das personagens, ou seja, riscos locais apenas, nada de “perigo global” ameaçando ninguém diretamente… A partir do terceiro ano em Hogwarts, no entanto, as forças das trevas começam a se erguer e foi aí que tanto a franquia Harry Potter quanto o número de fãs cresceram vertiginosamente.

O Cálice de Fogo é o quarto filme da série e apresenta-se como um dos interessantes “ame-ou-odeie” em diversos aspectos. O principal deles é a grandiosa reviravolta ocorrida no próprio livro (o maior dos quatro, até então), que traz aos leitores e futuros espectadores toda uma organização burocrática da magia, apenas sugerida anteriormente; e também o grande acontecimento da história, que é o retorno de Lord Voldemort. A incrível linha de acontecimentos que cercam o Torneio Tribruxo desde o começo, no ataque dos Comensais da Morte durante a Copa do Mundo de Quadribol, já indicam o tom de toda a obra e esse tom é bem capturado por Mike Newell, embora minha tendência fosse a de odiar essa obra pelo viés desportivamente viciado do diretor. Mesmo assim, acabo gostando bastante dela, num cômputo geral.

Desde o segundo filme, é inegável o bom uso dos efeitos especiais e visuais na série Harry Potter. Produtos da era da computação gráfica e dos avanços no uso das tecnologias para fins cinematográficos, os filmes do menino bruxo concentram uma das mais felizes linhas desses efeitos no cinema de sua era. Em O Cálice de Fogo, eles não se apresentam só como algo puramente visual, mas integram-se de modo orgânico à história. A chegada das duas escolas a Hogwarts é também um grande evento para o filme, porque pela primeira vez traz um número absurdo de figurantes, algo que seria mais comum nos filmes seguintes. Aliás, O Cálice de Fogo já em suas primeiras cenas mostra-nos uma grande aglomeração de pessoas.

A ameaça ao mundo bruxo é enorme e, infelizmente, o filme não nos mostra a contento que tudo o que diante de nós é um controle das trevas para que haja o seu triunfo no final — uma das falhas da adaptação. Confiar em quem, numa época em que tudo desaba? Essa pergunta assusta mais do que responde a dúvida, mas certamente é o que inquieta os jovens estudantes, principalmente o trio protagonista, que chega a pressentir algo, mas não sabe o quê. Para um espectador mais atento, a repetição de que havia alguém usando a poção Polissuco pode ser um indício válido de que as coisas não são o que parecem, mas certamente essa detalhe escapou (pelo menos em parte) aos que não leram o livro.

Todas as sequências que abarcam as provas do torneio são muitíssimo bem dirigidas. Gosto especialmente das duas últimas provas, exatamente na ordem em que acontecem: o lago, e depois, o labirinto. O ressurgimento de Voldemort é uma transposição digna de ser aplaudida de pé, tanto pelos ângulos escolhidos no momento da rápida metamorfose, quanto no ritmo e atmosfera de toda a sequência que precede o Priori Incantatem. A fotografia de Roger Pratt segue mais ou menos a mesma iluminação escolhida por ele em A Câmara Secreta. As tomadas internas são muito claras e aconchegantes, enquanto as externas contemplam dias nublados e fechados. A coloração acinzentada da sequência do cemitério é bela e macabra ao mesmo tempo e essa atmosfera junto a atuação de Ralph Fiennes basta para coroá-la como uma das melhores de toda a série.

Por falar em atuação, percebemos que os protagonistas cresceram um pouco em presença cênica, embora eu defenda que Daniel Radcliffe só viria atuar de maneira brilhante em A Ordem da Fênix, a fase mais “antipática” de seu personagem dentro da série. O elenco de apoio está, como sempre, glorioso, é difícil esses atores britânicos experientes trazerem coisas muito ruins para a tela, e eu sempre destaco Alan Rickman no papel de Severo Snape, e aqui também, a presença maravilhosa de Brendan Gleeson como Alastor Moody. Sobre a participação de Robert Pattinson como Cedrico Diggory, é uma passagem que cumpre o seu papel sem grandes solavancos dramáticos. Ele não está ruim, por sinal.

O Cálice de Fogo é o reinício da vida de Voldemort e do perigo à solta. Diferente do filme seguinte e especialmente do sexto episódio da série, este é um exemplar mais analítico, observador, embora tenha algumas reviravoltas intensas, e já algo de tragédia, como um prenúncio de todas as mortes e horrores que viriam. A guerra bruxa começa, de fato, aqui.

Harry Potter e o Cálice de Fogo (Harry Potter and the Goblet of Fire, UK, EUA, 2005)
Direção: Mike Newell
Roteiro: Steve Kloves (adaptação da obra de J. K. Rowling)
Elenco: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, David Tennant, Robert Pattinson, Tom Felton, Stanislav Ianevski, Michael Gambon, Maggie Smith, Alan Rickman, Ralph Fiennes
Duração: 157min.

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