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Crítica | Heli

por Guilherme Coral
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estrelas 3,5

Uma caminhonete em movimento, carregando dois jovens seriamente machucados. Um deles, amordaçado, tem uma bota pressionando seu rosto ensanguentado. Ao seu lado, a outra vítima deitada, sendo nos mostrado apenas seu pé descalço. Heli nos insere, desde seus primeiros segundos, na violência do tráfico, resgatando-nos para a tranquilidade de uma família comum logo após.

Essa paz, porém, é passageira e Amat Escalante nos deixa isso bastante claro através de sua direção, merecedora de seu prêmio em Cannes. O roteiro de Gabriel Reyes e Escalante alternam o foco da história entre Heli (Armando Epitia), sua irmã mais nova, Estela (Andrea Vergara), e Beto (Juan Eduardo Palacios), namorado da menina. O filme utiliza seu primeiro terço a fim de construir uma crescente tensão, criada sabiamente pela cena inicial da caminhonete. Apesar de sabermos onde as ações dos personagens irá desembocar, é inegável o temor vigente da obra, provocada pelo alto realismo das situações retratadas.

Contribuindo para tal suspense, a fotografia de Lorenzo Hagerman, trabalha em cima do contraste entre luz e sombras, deixando-o bastante evidente na maior parte das sequências. Seus enquadramentos precisos captam com exatidão a angústia de cada personagem, trazendo à tona verdadeiros seres humanos que praticamente obrigam a imersão do espectador. Esse fator se amplifica com os planos mais abertos, que nos mostram o grande vazio da região retratada. Vemos uma população simples que praticamente se perde diante daquele cenário desolado. Somada à quase que total ausência de trilha sonora não podemos deixar de sentir um desconforto perante o realismo da obra.

A imersão, contudo, é prejudicada, em certos momentos, pela montagem de Natalia López, principalmente no terço final do longa-metragem. Há um encadeamento de cenas com certa distância temporal que acabam causando um estranhamento não intencional, não se encaixando dentro da proposta de sua narrativa. Com isso, temos um rompimento da fluidez do filme, que acaba perdendo seu ritmo na segunda metade. Aliado a este, fator, ainda temos alguns deslizes do roteiro que insere situações demasiadamente forçadas na trama. Ainda assim, tais defeitos não se demonstram frequentes e, em pouco, prejudicam o produto final, que se mantém marcante do início ao fim.

Heli é uma obra de destaque que consegue deixar o espectador em uma constante tensão. É um filme claramente dividido em dois atos, que se complementam perfeitamente, trazendo realistas e bastante humanas retratações do impacto da violência na vida de uma família comum. Conta com alguns problemas em sua fluidez, mas, em geral, passam despercebidos, não atrapalhando o impacto eficaz que a obra certamente causa.

Heli (idem – México/ França/ Alemanha/ Holanda, 2013)
Direção: Amat Escalante
Roteiro: Gabriel Reyes, Amat Escalante
Elenco: Armando Espitia, Andrea Vergara, Linda González, Juan Eduardo Palacios, Reina Torres, Ramón Álvarez, Gabriel Reyes, Felix Alberto Pegueros Herrera.
Duração: 105 min.

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