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Crítica | Homem-Aranha: Como Era Verde o Meu Duende

por Gabriel Carvalho
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Pode olhar pro meu rosto, Parker… Dê uma boa olhada! É o último rosto que você verá nesta vida!” –

Contém spoilers.

Criado por Stan Lee e Steve Ditko em The Amazing Spider-Man #14, o Duende Verde fora mitificado desde a última página de A Grotesca Aventura do Duende Verde, que escondia o verdadeiro rosto do criminoso. Nenhum vilão até então tinha uma identidade secreta. Uma reputação a ser preservada. O Duende Verde sim e isso fazia o vilão se aproximar do Homem-Aranha que, diferentemente do Quarteto Fantástico por exemplo, escondia sua verdadeira face com uma máscara. Sem entrar no mérito da história ser boa ou não, tal ponto em específico – a identidade secreta – fez o personagem deslanchar, sendo o vilão com maior número de aparições até a edição #39, aqui criticada juntamente com a #40. Nos números conseguintes ao 14 as histórias foram amadurecendo até chegar as edições #26 e #27 que exploraram uma dinâmica mais interessante: colocar o Homem-Aranha em extremo risco. Mesmo com o herói desacordado nas mãos do Duende – que inoportunamente não conseguia tirar a máscara do Teioso – o bem prevaleceu e o vilão fugiu.

Estando afastado das histórias em quadrinhos do Aranha por 12 edições, o Duende Verde finalmente retornaria em Como Era Verde Meu Duende (uma referência infame de Stan Lee ao filme Como Era Verde o Meu Vale). Sua identidade secreta que enfim seria revelada no último quadro da edição #39, no entanto, já tinha tido uma aparição encorpada duas edições anteriores. Sim, meus caros que nunca assistiram a Homem Aranha ou qualquer série animada do personagem, Norman Osborn, pai do colega de classe de Peter Parker, Harry Osborn, é o famigerado Duende Verde. A relevância de Norman Osborn, empresário e milionário, ainda era na época bem próxima da nulidade, porém estamos falando essencialmente do mais famoso plot twist das histórias do personagem. Há algo pior do que saber que o pai de um colega de classe relativamente próximo é seu pior inimigo? Sim, esse seu inimigo também saber quem você é.

Mesmo que na Saga do Planejador Mestre o Homem-Aranha já tivesse sido levado ao seu limite em decorrência da vida de sua tia estar por um fio, o pânico da vez, também relacionado a amável senhora, encontra-se pelo fato de May ainda estar frágil e que um choque, como descobrir que seu sobrinho é o famigerado Homem-Aranha, poderia ser potencialmente fatal. É um a mais, diagnosticado em um momento até um pouco expositivo demais entre Parker e o Dr. Bromwell, mas que revela-se como crucial para o estabelecimento de uma sensação de desespero aterrorizador. Afinal, o que se fazer numa situação dessa?

Com seu arqui-inimigo exposto, o Duende Verde revela a sua verdadeira face.

A edição, de tal modo, retrata o momento mais frágil do Cabeça de Teia até então. Por outro lado, O Aranha Salva a Pátria, número que sucede os acontecimentos de Como Era Verde o Meu Duende, já não é tão espetacular quanto a anterior mas fornece uma boa dose de drama pessoal, além de uma resolução extremamente heroica cabível à personalidade do Homem-Aranha . Mesmo com Norman sabendo de seu maior segredo, o Teioso não se deixa levar pelo medo e mantém seus princípios sem cogitar em nenhum momento o assassinato de Osborn. Quando encontra o Duende Verde desacordado em meios às chamas que se instauraram no cativeiro onde antes se encontrava confrontado pelo vilão, prontamente atenta-se a socorrer seu arqui-inimigo. Será que se Peter Parker soubesse dos terríveis eventos que aconteceriam nas edições 121 e 122 de sua revista solo, ele teria assistido Norman?

Os eventos finais presumem a perda de memória de Osborn garantindo uma segurança e alívio momentâneo ao amigão da vizinhança. Nas últimas páginas é singelo notar-se que a mesma preocupação que Peter estava tendo em relação a sua velha tia, a senhora estava tendo em relação ao seu – nem tão frágil quanto ela pensava – sobrinho. A origem do Duende Verde, outro ponto explorado nesse arco, é excelente, mostrando altos e baixos de uma relação paternal complexa e problemática. Enquanto se envergonharia se seu filho soubesse que ele está vestindo uma fantasia verde e roxa e cometendo crimes, Norman nunca deu uma verdadeira atenção a Harry, estando mais preocupado no dinheiro do que nas relações pessoais. É um ponto que ainda seria explorado muito bem em histórias futuras.

Depois da saída de Steve Ditko da revista na edição anterior Apenas um Cara Chamado Joe, a responsabilidade da arte tomou forma na figura de John Romita, que com seus traços, hoje clássicos, desenvolveu ainda mais as caracterizações de Ditko, explorando novas vias e realçando os contornos, fazendo assim seu trabalho tornar-se um dos mais celebrados da história da revista The Amazing Spider-Man, senão o mais (particularmente, o maior ilustrador do Aranha). Por outro lado, mesmo tendo uma escrita melhor desenvolvida do que anteriores, Stan Lee, ou quem for que tenha tido essa ideia, exagera em demasia na criação de um chamado capacete retroscópico que projeta imagens de confrontos anteriores do Aranha contra o Duende. Apesar da discussão que se abre sobre os sucessos do aracnídeo contra o vilão terem sido realmente sucessos, é um artifício fácil e ilógico.

Consagrado por ter contribuído em uma redefinição das relações entre mocinhos e bandidos, esse arco seria vital na idealização do Duende Verde como o maior super vilão do Homem-Aranha. O Coringa do Batman. O Lex Luthor do Superman. O Caveira Vermelha do Capitão América. As contra argumentações não são poucas, e muitas delas relacionam-se com outros dois inesquecíveis membros da galeria de inimigos do amigão da vizinhança: o Doutor Octopus e o Venom. Enquanto a escolha do Venom vai de encontro a um quesito primordialmente estético, o Doutor Octopus é realmente um bom páreo para o Duende. Há rumores apontando que uma vez Stan Lee afirmara: “O Doutor Octopus é o maior vilão do Homem-Aranha, enquanto o Duende Verde é o maior vilão de Peter Parker.” Independente de sua veracidade, eis uma frase realmente significativa, que encontraria diversos paralelos e argumentações nas décadas de histórias em quadrinhos que ainda viriam a existir.

Homem-Aranha: Como Era Verde o Meu Duende (Spider-Man: How Green Was My Goblin) (EUA, 1966)
Edições: The Amazing Spider-Man #39 e 40
Roteiro: Stan Lee
Arte: John Romita
Arte-final: Mike Esposito
Letras: Artie Simek, Sam Rosen
Capas: John Romita
Data de publicação: agosto a setembro de 1966
Páginas: 20 por edição

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