Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Homem-Aranha: Primeira Aparição (Amazing Fantasy #15)

Crítica | Homem-Aranha: Primeira Aparição (Amazing Fantasy #15)

por Ritter Fan
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A prolífica Era de Prata dos quadrinhos já havia trazido o Quarteto Fantástico para a Marvel Comics ao final de 1961, graças à mágica de Stan Lee e Jack Kirby. No ano seguinte, a mesma dupla trabalharia nos conceitos que levariam à criação de um dos mais importantes heróis da Nona Arte, o Homem-Aranha. Suas principais características marcariam para sempre o “estilo Marvel” de ser, com um adolescente tímido e vítima de agressões de valentões de sua escola ganhando magníficos poderes a partir da picada de uma aranha radioativa. Mesmo com superforça e a habilidade de escalar paredes, o personagem continuaria a lidar com problemas mundanos, do dia-a-dia de muita gente: cuidar dos parentes mais velhos, provas, horário de escola, trabalho para ganhar algum dinheiro, pagar contas e assim por diante. Nascia o protótipo do super-herói com quem os leitores dos quadrinhos poderiam mais facilmente identificar-se.

amazing_fantasy_15_capa_plano_criticoÉ notório que Stan Lee sempre funcionou muito mais como uma força motriz dentro da Marvel Comics e não necessariamente como uma força verdadeiramente criativa, daquelas de se debruçar em pranchetas. Seu valor para a indústria de quadrinhos não pode de forma alguma ser diminuído, mas a grande verdade é que ele sempre se cercou de grandes nomes que efetivamente carregavam o proverbial piano. Kirby, então, começou a trabalhar no novo personagem a partir de um protótipo de herói que ele e Joe Simon haviam criado nos anos 50, mas jamais publicado. Era, como Peter Parker, um menino órfão que vivia com um casal mais idoso e que encontrava um anel que lhe dava poderes sobre-humanos, transformando-o no Silver Spider. Kirby, depois de desenhar algumas páginas do que ele imaginava ser o herói, teve suas ideias rejeitadas por Lee, que queria algo ainda mais “comum” e “terreno” com quem os jovens pudessem realmente se identificar.

Claro que as histórias sobre a interferência de Lee nesse processo criativo variam, mas o valor desse grande nome da indústria de quadrinhos é saber “desenhar conceitualmente” um produto, um personagem e não há dúvidas que seu trabalho como editor foi um dos grandes responsáveis pelo Homem-Aranha. Até porque, vale ressaltar, há inconsistências até mesmo entre os relatos de Simon e Kirby sobre o que cada um deles havia criado anos antes. Seja como for, Lee, que não havia gostado do trabalho de Kirby, pediu para Steve Ditko, que seria o responsável pela arte-finalização do lápis de Kirby, tentar algo diferente. E foi Ditko quem acabou criando o desenho final do famoso uniforme do Homem-Aranha que cobria seu corpo integralmente, algo raro para a época (ou mesmo para hoje em dia, se pararmos para pensar), com disparadores mecânicos de teia no pulso.

Mas publicar o Homem-Aranha não foi uma tarefa trivial. Lee conseguiu convencer Martin Goodman a deixá-lo tentar algo diferente, usando o que seria o último número da revista em formato de antologia de ficção científica e histórias sobrenaturais Amazing Adult Fantasy, como veículo. A palavra “adult” foi retirada especialmente para a edição #15, que marcaria o début do Homem-Aranha e pronto, estava dada a largada para um dos mais importantes super-heróis da história dos quadrinhos. No entanto, vale notar que a características de antologia da revista continuou e, das 26 páginas da publicação, apenas 12 eram dedicadas ao futuro amigão da vizinhança.

E, em 12 páginas, Lee e Ditko (e Kirby, sejamos justos) fizeram o impossível: estabeleceram bases para um novo e bem diferente herói, bases essas tão sólidas que sua origem foi uma das que menos mudou ao longo de todas essas décadas. Continuamos até hoje, por repetidas vezes, seja em qual universo Marvel for, vendo um jovem vítima de agressões verbais na escola ganhando poderes depois de ser picado por uma aranha de alguma forma modificada. E não só isso. As 12 páginas são tão icônicas que até mesmo as aparências de Peter Parker, tia May, tio Ben, de Flash Thompson (que não é nominado aqui) e do herói uniformizado pouco mudaram esse tempo todo.

A história em si é simples. Ou, pelo menos, ela é simples se vista pelos olhos calejados de quem já lê quadrinhos há muito tempo. Portanto, simples é reducionista aqui. Esse lado simplista vem do foco exclusivo na origem do super-herói. Não há vilões a não ser o próprio Peter Parker que, egoísta e amargurado pelo tipo de atenção negativa que atrai na escola, decide usar seus poderes para ganhos próprios, deixando seu tio ser morto exatamente pelo bandido que nem tenta parar, apesar de ter poderes mais do que suficientes para isso. Essa culpa o personagem carregaria para sempre em seus ombros e os leitores testemunhariam o nascimento de um super-herói fantasiado que poderia ser um amigo seu ou ele próprio.

Se olharmos para essa econômica narrativa a partir de uma perspectiva histórica, veremos uma das mais perfeitas – senão a mais perfeita – história de origem de um super-herói. Aos que estiverem revirando os olhos nesse momento, apenas prestem atenção ao que disse antes: se olharmos para trás desde o nascedouro dos quadrinhos de super-heróis como os conhecemos com Action Comics #1, poucas vezes veremos uma origem que passou tanto tempo quase que integralmente incólume apesar de todos os revisionismos e recontagens possíveis. E isso que faz esse trabalho de Lee e Ditko ser realmente atemporal e espetacular como sua criação.

E, claro, não deu outra: quando os números de venda de Amazing Fantasy #15 voltaram, a revista, que já havia sido cancelada, viu uma vertiginosa subida, o que levou a Marvel a, sete meses depois, trazer o Homem-Aranha de volta já em revista própria. E o resto é História.

Amazing Fantasy #15 (EUA, 1962)
Roteiro: Stan Lee
Arte: Steve Ditko
Capa: Jack Kirby (lápis), Steve Ditko (arte-final)
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: agosto de 1962
Páginas: 12 (história do Homem-Aranha), 26 (número total de páginas)

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