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Crítica | Hotel Transilvânia

por Luiz Santiago
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Enquanto ParaNormanFrankenweenie, outras duas animações de terror lançadas em 2012, apostaram em uma estética mais acurada e tramas de saíam da superfície, Hotel Transilvânia veio com uma proposta diferente. Mais cômico, plasticamente mais simpático — por ter desenhos suavizados e linhas finas, portanto, menos chocantes, menos realistas e menos assustadores — e na esteira dos terrores cômicos ao estilo O Jovem Frankenstein, o filme superou a enorme novela de sua produção, com muitas trocas de diretores e alteração da dublagem para a personagem Mavis, que passou de Miley Cyrus para Selena Gomez, que até faz um trabalho aceitável com a personagem, e acabou ganhando as graças do público infantil.

Acima de qualquer coisa, Hotel Transilvânia é uma história familiar. Não se enganem com a horda de referências ao cinema de terror, que vai do personagem principal, o Conde Drácula — claramente espelhado no Drácula de Bela Lugosi — até personagens abertamente retirados de filmes de ficção científica macabra ou horror, como Frankenstein (1931), O Homem Invisível (1933), O Corcunda de Notre Dame (1939), O Monstro da Lagoa Negra (1954), A Bolha Assassina (1958) e Gremlins (1984). A intenção dos roteiristas e do diretor aqui foi a de brincar com esses elementos sem retirar-lhes a aparência mas adicionando altas doses de fofuchismo e bondade à sua essência. Isso tornou o roteiro afetado e abriu espaço para um tipo de história que consegue pouca coisa, mal alcançando sua própria proposta.

O drama familiar do Conde Drácula — dublado com alguma competência por Adam Sandler, embora ele exagere demais nos momentos de grande emoção do personagem –, que perdeu a esposa em um incêndio causado por humanos, é elevado às alturas na superproteção que ele terá sobre sua filha Mavis, cujo aniversário de 118 anos parece ser um marco importante no caminho dela para a independência e para lição que o pai também irá aprender nesse processo. Convidando monstros e todos os recantos cinematográficos, o Conde se desespera ao receber a visita de um [temível] humano, o meio maluco Jonathan, que ganha todos os requisitos de simpatia e graça na voz de Andy Samberg. Colocando em pauta alguma coisa sobre pré-conceitos e questões familiares elevadas ao extremo, o filme estraga a sua própria premissa quando deixa de entender o enorme potencial que tem em mãos e bate na mesma e enferrujada tecla das resoluções fáceis.

E é isso que irrita em Hotel Transilvânia, a preguiça do roteiro em uma animação tecnicamente admirável, seja na movimentação dos personagens (a animação, por assim dizer); a direção de arte e desenho de produção claramente baseados em móveis e arquitetura de cidades da Romênia; ou na dualidade entre o mundo atual, que aceita parcialmente o estranho com um ceticismo orgulhoso e o fantástico mundo sobrenatural. Mas a despeito da técnica exemplar, da boa proposta e do começo empolgante, o longa desaba no chavão do romance à la Romeu e Julieta das Semi-Trevas e desanda a executar piadas bobas e escatológicas; a misturar desordenadamente conceitos culturais sem nem ao menos se preocupar se eles combinam ou não com a história; a desfocar o andamento da trama, que começa com uma relação-pai-e-filha e depois vira um não-se-sabe-o-quê, tendo o mochileiro Jonathan como pivô; e, especialmente, a abusar da paciência do espectador para a terrível corrida do Conde até o aeroporto e o contato “indireto” que ele faz, pegando fogo, com o seu futuro genro.

Estragado pela falta de coragem dos produtores, roteiristas e diretor em ousar e aproveitar, de verdade, o enorme arcabouço de possibilidades que tinham, Hotel Transilvânia vale como sessão de entretenimento, porque além de tecnicamente notável, possui alguns bons momentos, mas no final, não há como sair inteiramente satisfeito. Resta-nos saber se a sequência manterá a linha do clichê irritante ou assumirá as rédeas do terror na animação e fará algo que ultrapasse a nossa sensação de déjà vu.

Hotel Transilvânia (Hotel Transylvania) — EUA, 2012
Direção: Genndy Tartakovsky
Roteiro: Peter Baynham, Robert Smigel (a partir de uma história de Todd Durham, Dan Hageman, Kevin Hageman).
Elenco (vozes originais de):  Adam Sandler, Andy Samberg, Selena Gomez, Kevin James, Fran Drescher, Steve Buscemi, Molly Shannon, David Spade, CeeLo Green, Jon Lovitz, Brian George, Luenell
Duração: 91 min.

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