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Crítica | Infectados

por Ritter Fan
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estrelas 0,5

Acho que nunca entenderei a distribuição de filmes no Brasil. Como pode tantas obras importantes manterem-se inéditas por meses a fio e outras nem serem lançadas no cinema enquanto coisas como Infectados ocupam inoportunamente telas de cinemas pelo país para pegar desavisados de surpresa?

Mas também nunca vou entender como filmes como Infectados são produzidos. Se estivéssemos em meados dos anos 70 ou começo dos anos 80, esse tipo de ficção científica B seria perfeitamente aceitável. Mas estamos na segunda década dos anos 2000. Um cinegrafista amador, com uma câmera na mão, um computador e boas ideias faz milagres hoje em dia. Nada justifica, assim, o filmeco que é Infectados, que como única característica duvidosamente positiva é ter Christian Slater no elenco, mesmo que o ator, que nunca foi grande coisa, esteja visivelmente desconfortável e envergonhado no papel do Coronel Gerard Brachmann, comandante de uma base mineradora na Lua que é infectada por um esporo vindo de um meteorito.

A fita, que deve ter custado o preço do ingresso do cinema, tem efeitos especiais risíveis no começo (a tempestade de meteoritos na Lua) que logo deixam de ser usados para que a narrativa tome descaradamente a estrutura confinada de Alien, o Oitavo Passageiro, com direito a monstros saindo de barrigas, crescimento acelerado, fuga pelo sistema de ventilação, uso de cápsulas de escape, contagem regressiva automática narrada pela base e muita fumaça. É um desfile sem fim de clichês do gênero sem nenhuma sutileza, mistério ou qualquer resquício de alma e coração.

Quando o roteiro nos leva a entender que tudo talvez não passe de uma alucinação, a mão pesada do diretor Roger Christian e uma montagem nada discreta de Daryl K. Davis não levam um minuto para desfazer o único semi-mistério criado, ao focar na criatura sem que haja a presença dos atores, tornando absurdamente óbvio aos espectadores que sim, é um filme de monstro mesmo. Durante a projeção, não pude deixar de perceber, também, a quantidade de vezes em que Roger Christian usa o ângulo holandês – aquele que, com câmera oblíqua, cria planos desalinhados com nossa visão para causar estranheza – e isso acendeu uma luz vermelha que logo após pude confirmar: ele é o diretor do inenarravelmente horrível A Reconquista, com John Travolta no papel de uma alienígena de tamancos e dreadlocks. Com essa realização, Infectados ficou finalmente explicado na minha cabeça, já que Christian deveria ser proibido de tocar em uma câmera de vídeo ou mesmo de chegar perto de um set de filmagens.

Em termos de história, Infectados deve ter um dos piores roteiros que já tive o desprazer de ver. Os personagens se desdizem a cada segundo, a autoridade de Brachmann é absolutamente irrelevante, as atitudes do monstro não fazem sentido e as sequências não conduzem umas às outras, além de inexistir qualquer sombra de lógica interna. E vocês talvez se perguntem como eu posso dizer isso se eu mesmo fiz comentários bem diferentes em relação a Sharknado. Bom, em primeiro lugar, espero que vocês tenham percebido a ironia que tentei – talvez sem sucesso – incutir em meu texto sobre o filme dos tubarões. Segundo, Sharknado é uma produção que não se leva a sério, enquanto que Infectados, muito ao contrário, tem o tom e a gravidade de uma ficção científica das mais sérias, quase como Lunar. E, além disso, a obra do canal Syfy foi feita para TV, não para as telas grandes como mais esse aborto de Roger Christian.

Espero sinceramente que esse filme – fazendo trocadilho infame, mas ele merece – não infecte por muito tempo nossas já pouquíssimas telas de cinema.

Infectados (Stranded, Canadá/Reino Unido, 2013)
Direção: Roger Christian
Roteiro: Christian Piers Betley, Roger Christian
Elenco: Christian Slater, Brendan Fehr, Amy Matysio, Michael Therriault
Duração: 84 min.

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