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Crítica | Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum

por Sidnei Cassal
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Os irmãos Coen começaram sua carreira com o violento Gosto de Sangue, onde inovavam com inusitados ângulos e movimentos de câmera. Com o segundo filme juntos, Arizona Nunca Mais – uma comédia familiar com um leve toque non-sense – já pareciam deixar claro que não queriam repetir fórmulas ou ficar presos a um determinado gênero ou estilo. Desde então a parceria dos irmãos diretores tem produzido filmes que oscilam de um lado para filmes urbanos e violentos, como Onde os Fracos não Têm Vez,  de outro para dramas leves de caráter mais intimista, como Um Homem Sério. Entre um extremo e outro, já experimentaram uma comédia romântica, um western e até uma refilmagem.

Este Inside Llewyn Davis –  Balada de um Homem Comum, embora apresente, é claro, alguns peculiares traços comuns identificáveis em outros filmes da dupla de diretores, de certa maneira pegou a todos de surpresa com seu tema e sua abordagem. Levemente inspirado  na história do cantor Dave Van Ronk, que foi contemporâneo na cena folk do Greenwich Village de Nova York dos conhecidos Bob Dylan e Joan Baez, o filme não pretende ser, absolutamente, uma cinebiografia disfarçada. Tanto é verdade que basicamente acompanhamos a história de uma semana na vida de Llewyn Davis, um cantor folk que está em crise, deparando-se com a possibilidade que sua carreira como músico nunca decole.

O filme começa e termina com a mesma cena, onde Davis é espancado por um estranho quando saia de uma apresentação. Ao longo do filme ele ainda vai apanhar muito da vida,   num sentido  figurado. Mas Davis nunca é apresentado como vítima, apesar dos percalços que enfrenta, até porque o roteiro habilmente sempre deixa muito claro que seus dissabores são consequência de suas escolhas e atitudes. O que acontece é que o carma de Davis parece cobrar o preço de seus erros com uma velocidade incrível. Não é apenas sua carreira como músico que vai mal. Sua vida pessoal, amorosa e financeira é também um verdadeiro desastre, além do que parece que ele não ganha a simpatia ou o apreço de ninguém que cruza seu caminho, com exceção, talvez, do casal de vizinhos, o Sr e a Sra Gorfein. Paradoxalmente, é com ela que Davis protagoniza um episódio em que lhe é tremendamente ríspido. É deste casal, inclusive, o gato que Davis é encarregado de tomar conta, e que passa a lhe acompanhar, como um substituto a Mike, seu  parceiro musical recentemente falecido.

Muito foi escrito sobre este gato, que sugestivamente se chama Ulysses, o que incendiou a imaginação fértil de  muitas pessoas na busca de significados ocultos, podendo estar ligado tanto a Odisséia de Homero, quanto – o que é mais provável – à obra de James Joyce. O roteiro é tão bem escrito e amarrado, tão recheado de personagens e diálogos que estão lá para de certa maneira, como peças de um quebra-cabeças, ir formando na mente do espectador quem é este Llewyn Davis, que é muito provável que o nome do gato não tenha sido escolhido em vão. Mas, diga-se de passagem, Balada de um Homem Comum pode muito bem ser apreciado sem enveredarmos por esta linha crítica de análise subliminar em busca de metáforas e simbolismos.

Inside Llewyn Davis tem um leve tom melancólico, mas entremeado de muitos momentos de humor, como na cena da gravação da música Please, Mr. Kennedy, e mesmo em situações por que passa o nosso herói, surrealmente absurdas. Além disso, o filme não parece apenas se passar no início da década de ´60. Ele parece ter sido feito naquela época. Para isso colabora em muito sua narrativa que não esconde a influência direta da Nouvelle Vague, que recém nascia. Um evidente cuidado de produção também ajuda a nos transportar no tempo, mas é a excelente fotografia de Bruno Delbonnel, com suas cores dessaturadas, que ajuda a conferir ao filme um tom outonal que combina com sua melancolia latente.

Some-se a isso um conjunto de interpretações fabuloso, a começar pelo protagonista, uma convincente atuação de Oscar Issac, que sem dúvidas teve sua primeira grande oportunidade com este filme. Dentre os coadjuvantes, o destaque fica para as presenças muito especiais de F. Murray Abraham e John Goodman. Este domínio do elenco como um todo é um sinal da maturidade como diretores dos irmãos Coen, que mesmo deixando sua indelével assinatura  souberam dosar com maestria as peculiaridades de seu estilo na condução do filme.

Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum (Inside Llewyn Davis) –  Estados Unidos/ França, 2013
Direção:
Ethan e Joel Coen
Roteiro: Ethan e Joel Coen
Elenco: Oscar Isaac, Carey Mulligan, Justin Timberlake, Ethan Phillips, Robin Bartlett, Max Casella, Jerry Grayson, Jeanine Serralles, Adam Driver, Stark Sands, John Goodman, Garrett Hedlund, Alex Karpovsky, Helen Hong
Duração: 105 minutos

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