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Crítica | Jack Reacher – O Último Tiro

por Rafael W. Oliveira
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A primeira vez que vimos Christopher McQuarrie envolvido em uma produção no cinema foi na lapidação do roteiro de Os Suspeitos, de Bryan Singer, e já naquela primeira ocasião, McQuarrie foi agraciado com um oscar de roteiro original por seu script inventivo e instigante. Depois disso, o roteirista se envolveu em outras produções, algumas bem sucedias (A Sangue Frio, Operação Valquíria) e outras bastante infelizes (O Turista). Jack Reacher – O Último Tiro é o segundo trabalho de McQuarrie como diretor (o primeiro foi o já mencionado A Sangue Frio), uma adaptação do livro de Lee Child que parece contar com todos os ingredientes que se fizeram presentes no início da carreira de McQuarrie: uma trama repleta de suspense, personagens sagazes e diversas oportunidades para elaborar sequências de ação que parecem saídas de um filme de James Bond ou Jason Bourne. E esta última observação faz parte, justamente, do maior problema de Jack Reacher: nada do que é visto aqui pode ser considerado novo ou original. Obviamente, em nenhum momento o filme parece querer trazer alguma novidade dentro do gênero, porém a estrutura básica e o desenrolar previsível do roteiro acabam por atrapalhar a diversão.

Jack Reacher (Tom Cruise) é um ex-militar que passou a viver como andarilho. Jack está descansando em uma praia de Miami quando é chamado para resolver um caso mal explicado em Indiana, depois que um atirador é preso por alvejar cinco pessoas aleatoriamente. O criminoso chama-se James Barr (Joseph Sikora) e se recusa a dar qualquer informação, apenas murmura para seu advogado a frase: “Traga Jack Reacher para mim”. Quando Reacher chega à cidade, Barr já está desmemoriado depois de ser surrado pelos policiais. Reacher então precisa juntar todas as provas para descobrir o que o conecta àquele psicopata.

Jack Reacher carrega consigo muito da aura dos filmes de ação oitentistas. E o próprio protagonista é a personificação dessa personalidade tida, hoje em dia, como antiquada: sujeito caladão, aparentemente solitário e isolado do resto do mundo, porém sempre disposto a fazer justiça com as próprias mãos, lutar pelos injustiçados e buscar a verdade, por mais doloroso que o caminho para chegar a ela possa ser. Há também o vilão caricatural (este interpretado pelo diretor Werner Herzog), os capangas que estão ali apenas pra apanhar (alguém lembra da cena no banheiro?), alguns coadjuvantes que surgem para ajudar em momentos bastante oportunos e, claro, a mocinha de personalidade forte, mas que no fim das contas sempre irá se encontrar em perigo, oferecendo mais um desafio para o justiceiro de poucas palavras. Jack Reacher poderia muito bem ter aproveitado esta oportunidade e investir num exercício metalinguístico com este tipo de cinema tal como o divertidíssimo Os Mercenários 2 fez ano passado. Claro que apontar para um filme e dizer como ele deveria ser é golpe baixo, porém quando a coisa muda quando você que a produção começa a enveredar por aquele caminho, mas parece desistir depois de um tempo, optando por seguir uma estrutura mais segura dentro do gênero.

Dessa forma, quase todo o desenrolar do longa acaba caindo na previsibilidade, e para os mais acostumados com o gênero, pode facilmente tornar-se um marasmo. Inclusive, a maneira com que as situações vão se desenrolando em muito lembra a narrativa dos filmes do agente Ethan Hunt, coincidentemente (ou não) interpretado pelo próprio Cruise.  As revelações vão surgindo na tela em seu devido tempo, porém pouco impressionam, restando ao espectador deixar-se levar pelos momentos mais enérgicos do filme.

E neste sentido, Jack Reacher não desaponta. Com uma crueldade e realismo típicos dos exemplares mais recentes do gênero, McQuarrie deita e rola em cima das cenas de conflitos corporais e perseguições, tendo absoluto controle sobre a visão de sua câmera, mas sem ficar apelando para recursos estilísticos desnecessários, deixando a adrenalina tomar o espectador por si só. O destaque vai para a empolgante perseguição de carros nas ruas de Pittsburgh, que culmina num desfecho engraçadíssimo, mas também simbólico sobre a própria condição do protagonista enquanto justiceiro injustiçado.

E no auge de seus 50 anos, Tom Cruise prova que ainda possui tanto fôlego para o gênero quanto Bruce Willis, Steven Seagal ou Arnold Schwarzenegger. Dono de um inegável carisma, Cruise não decepciona nas exigências físicas das cenas de ação, esbanjando aquela virilidade e frieza tão típicas em personagens que seguem esta linha, inclusive demonstrando um curioso timing cômico em determinadas cenas, como já mencionada sequência no banheiro. E com exceção de Cruise, a ponta de Robert Duvall acaba sendo o que há de mais interessante no que se refere ao elenco, já que outros nomes conhecidos como Richard Jenkins e o próprio Herzog não recebem espaço suficiente para trabalharem melhor em cima de seus personagens.

Mas apesar de sua construção básica, Jack Reacher ainda possui lá seus momentos de engenhosidade, como nas deduções sobre os motivos do crime que levaram a morte de cinco pessoas. E vale ressaltar a tensão que McQuarrie imprime durante este momento, onde o diretor exibe um controle magnifico sobre mise-en-scène. E por mais que o filme deixa de surpreender após isto, ainda é recomendado para os que procuram esquecer da lógica por algumas horas e queiram embarcar numa trama curiosa e repleto de mistérios. Neste sentido, a diversão é garantida, só não espere nenhum grande arroubo de criatividade dentro dos 120 minutos de projeção.

Jack Reacher – O Último Tiro (Jack Reacher) — EUA, 2012
Direção: Christopher McQuarrie
Roteiro: Christopher McQuarrie
Elenco: Tom Cruise, Rosamund Pike, Richard Jenkins, David Oyelowo, Werner Herzog,  Jai Courtney
Duração: 130 min.

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