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Crítica | Jessica Jones – 2ª Temporada

por Ritter Fan
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  • Leiam, aqui, as críticas da primeira temporada e de todo o nosso material sobre Jessica Jones.

Comandada por Melissa Rosenberg e com episódios dirigidos por um time seleto de 13 diretoras, a 2ª temporada de Jessica Jones festeja a criatividade feminina em uma pegada ainda mais pessoal para uma personagem fascinante e complexa, cercada de coadjuvantes que, aqui, são mais bem explorados do que em sua temporada inaugural, com interessantes arcos próprios. No entanto, como tem se tornado hábito nas séries Marvel/Netflix, o formato de 13 episódios revela-se como um desafio e um obstáculo, exigindo ginástica dos roteiros para fazer a série alcançar o “tamanho regulamentar”.

O mote da nova temporada é o passado e a origem dos poderes da protagonista (Krysten Ritter, nenhum parentesco com este crítico), depois que ficou estabelecido que ela e outras pessoas teriam sido sujeitas a experimentações ilegais por uma misteriosa empresa conhecida apenas como IGH. De certa forma influenciada por sua irmã de criação Trish Walker (Rachael Taylor), mais esse capítulo da vida de Jessica vem descortinar-se perante seus olhos, mergulhando-a em um turbilhão de revelações que em nada ajudam a já depressiva e violenta super-heroína. Um novo superintendente em seu prédio (Oscar Arocho, vivido por  J.R. Ramirez) que, aparentemente, não gosta de gente superpoderosa e a misteriosa morte de um homem que vai buscar sua ajuda servem de trampolim para uma temporada que também lida com arcos para a já citada e obsessiva Trish, o vizinho/empregado/amigo/associado de Jessica Malcolm Ducasse (Eka Darville) e a poderosa advogada Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss).

Todo o terço inicial da temporada é decididamente lento, mas muito bem construído. Nele, vemos a mesma Jessica Jones que aprendemos a amar, sem concessões: boca suja, beberrona e adepta do sexo casual por todas as razões, menos as certas. Vemos um certo crescimento e uma auto-consciência de seus atos desde os eventos da 1ª temporada, que de forma alguma é deixada de lado (nada é dito sobre sua participação em Os Defensores, porém, o que acertadamente mantém a série independente das demais). Ritter parece ter nascido para esse papel e mais uma vez encarna Jessica Jones com maestria, fundindo carrancas e olhares de soslaio com um charme irresistível paramentada com suas características jaqueta de couro e calça jeans surradas. Sua busca pelo passado é crível e o redemoinho que a traga completamente funciona bem nesse começo, com boas doses de mistério e novos elementos que são adicionados à sua mitologia dentro do Universo Cinematográfico Marvel.

Nesse início, Malcolm também é bem aproveitando como um homem que quer ser mais do que um ajudante repetidamente demitido por Jessica. Sua ambição benigna cria momentos cômicos na medida certa e constrói um personagem que vai revelando ter mais camadas do que talvez se poderia esperar de outros sidekicks. Trish, por outro lado, tem um caminho surpreendente explorado aqui, tando com revelações duras sobre seu passado (para nós, não para ela), como em relação à sua crescente fixação pelo passado de sua melhor amiga misturada com um lado complicado de sua personalidade, o que começa a turvar completamente seus pensamentos e seu modo de agir. Se Ritter continua a boa atuação que teve na temporada anterior, Darville e Taylor ganham excelentes espaços para mostrarem a que vieram e os atores não desapontam. Ao contrário, eles conseguem até roubar as cenas da protagonista em muitos momentos.

Passado esse terço inicial que funciona como o pilar que sustenta a série, a temporada cai nos já costumeiros “capítulos-barriga” que freiam a narrativa, fazendo-a andar de lado de maneira significativa. O que ajuda a diminuir a sensação de enrolação é a escolha estrutural de Rosenberg. No lugar de trabalhar arcos de personagens constantemente entrelaçados, ela optou por quase que completamente separá-los, criando verdadeiros núcleos narrativos que têm uma origem única, mas logo são ramificados, tangenciando-se apenas aqui e ali para depois encontrarem-se com mais força ao final novamente. Foi, sem dúvida, uma aposta arriscada que, tenho para mim, deu mais frutos do que se poderia esperar, mesmo que, com isso, alguns personagens tenham que sumir por um ou dois episódios sem maiores explicações, para, também sem cerimônia, reaparecerem quando relevantes para o momento.

Se Malcolm, no começo, é só o ajudante ambicioso, ele realmente evolui para algo mais do que apenas um coadjuvante para fins de alívio cômico. Se Trish começa igual, como a amiga do peito e irmã camarada de Jessica, ela se torna algo bem diferente nesse segundo terço. Da mesma forma, Jeri, lidando com questões profissionais e pessoais, mostra uma face que ainda não conhecíamos completamente, o que também permite que as câmeras sejam generosamente apontadas para Carrie-Anne Moss em uma performance irritantemente fleumática, mas lindamente erigida até seu clímax.

O passado que vem “morder” Jessica Jones, porém, talvez vá desapontar aqueles que esperam um vilão clássico ou mesmo uma estrutura clássica. Sem estragar nada para ninguém, o grande vilão, aqui, é mesmo – e simplesmente – a vida de Jessica Jones e das pessoas em seu círculo de influência. Ou, talvez melhor dizendo, a forma de encarar a vida, de carregar a culpa e de assumir responsabilidades por cada uma dessas pessoas. É um olhar íntimo para um mundo normal – eivado dos mesmo vícios de nosso mundinho aqui fora das telinhas – que tem apenas um leve verniz super-heroístico. Sim, há segredos revelados, há reviravoltas, há personagens misteriosos e há uma boa quantidade de pancadaria (mas bem menos do que nas demais séries Marvel/Netflix), mas eles não são mais importantes do que esse mergulho em mentes não tão sãs em corpos talvez menos sãos ainda. É, talvez, o mais próximo do “gente como a gente” que uma série desse sub-gênero possa oferecer, o que, aliás, sempre foi o espírito de Alias, a estupenda HQ criada por Brian Michael Bendis, em 2001, e que revelou Jessica Jones para o mundo. Tematicamente, a temporada sai do eixo quase exclusivo e aterrador do estupro e abuso sexual que permeou profundamente a “relação” Kilgrave-Jessica e explora uma variedade de outras questões relevantes, como o preconceito racial e de gênero, o consentimento para experimentações médicas, a violência policial, o papel da mulher em uma sociedade machista, a exploração e abuso de menores e assim por diante. A profusão de assuntos é bem-vinda, mas, por outro lado, isso acaba roubando a profundidade de todos eles.

Mesmo sofrendo com uma duração maior do que a necessária para a história que tinha para contar e inevitavelmente fazendo-nos sentir falta de um vilão do naipe de Kilgrave, a 2ª temporada de Jessica Jones consegue o feito de prender a atenção do espectador com diversos bons dramas pessoais paralelos que se aproximam e distanciam de forma ritmada e agradável, além de contar com um elenco de se tirar o chapéu. O time quase que integralmente feminino que comandou a temporada mostra que não veio para brincar e que tem categoria para sedimentar a série como uma das melhores da Marvel.

Jessica Jones – 2ª Temporada (Idem, EUA – 08 de março de 2017)
Showrummer:
 Melissa Rosenberg
Direção: Anna Foerster, Minkie Spiro, Mairzee Almas, Deborah Chow, Millicent Shelton, Jet Wilkinson, Jennifer Getzinger, Zetna Fuentes, Rosemary Rodriguez, Neasa Hardiman, Jennifer Lynch, Liz Friedlander, Uta Briesewitz
Roteiro: Melissa Rosenberg, Aida Mashaka Croal, Lisa Randolph, Jack Kenny, Jamie King, Raelle Tucker, Hilly Hicks, Jr., Gabe Fonseca, Jenny Klein, Aida Mashaka Croal, Jesse Harris (baseado em quadrinhos de Brian Michael Bendis e Michael Gaydos)
Elenco: Krysten Ritter, Rachael Taylor, Eka Darville, Carrie-Anne Moss, J.R. Ramirez, Terry Chen, Leah Gibson, Janet McTeer, Callum Keith Rennie, Hal Ozsan, John Ventimiglia, Lisa Tharps, Maury Ginsberg, Angel Desai, Daniel Marcus, Rebecca De Mornay, Elden Henson, Wil Traval, David Tennant, Jay Klaitz
Duração: 689 min. (aprox.)

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