Home QuadrinhosArco Crítica | Jessica Jones: The Pulse #1 a #14 / Novos Vingadores Anual #1

Crítica | Jessica Jones: The Pulse #1 a #14 / Novos Vingadores Anual #1

por Ritter Fan
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estrelas 4

The Pulse foi a publicação da Marvel Comics que diretamente sucedeu a sensacional Alias, de Brian Michael Bendis e Michael Gaydos, em que eles introduziram a personagem Jessica Jones. Apesar de Alias ter tido curta duração, apenas 28 números, The Pulse foi ainda mais curta, com apenas 14, publicados intermitentemente entre abril de 2004 e maio de 2006 tendo Jessica Jones fundamentalmente como personagem principal (há apenas uma exceção, no #10).

A série começa exatamente de onde Alias parou, com Jessica grávida de Luke Cage e com os dois vivendo juntos. Como a série toda é curta e contem apenas três arcos narrativos e duas one-shots, optei fazer uma crítica só, mas dividida em cada arco e one-shot, com notas separadas para cada um deles, além de breve comentário sobre o epílogo em Novos Vingadores Anual #1. A nota acima é geral e não necessariamente uma média. Não encontrei informações sobre a eventual publicação dessa série no Brasil, pelo que as traduções dos arcos são livres. Se alguém souber se a série foi publicada por aqui, deixe a informação nos comentários, por favor. [Atualização] Nosso leitor Cristiano de Andrade confirmou que a série foi toda publicada no Brasil. Atualizei a ficha técnica ao final com as informações passadas por ele. Obrigado, Cristiano! [Fim da Atualização]

Thin Air / Ar Rarefeito

estrelas 3,5

Composto de cinco partes (The Pulse #1 a #5), o primeiro arco de The Pulse foca no assassinato de uma repórter, que aparece estrangulada no meio de um lago em Nova York. Como ela trabalha no Daily Bugle, J. Jonah Jameson determina prioridade máxima para descobrir o que aconteceu. Mas, costurado em meio ao caso, vemos o dono do jornal chamando Jessica Jones para, junto com Ben Urich, trabalhar na publicação de um caderno do tabloide intitulado The Pulse, com o objetivo de cobrir positivamente a vida dos super-heróis.

Mas como, se JJJ é tradicionalmente anti-vigilantismo? Bem, como o inteligente roteiro de Bendis explica, o editor do jornal até pode ser contra os mascarados que povoam a cidade, mas ele está disposto a autorizar essa publicação “contraditória” para garantir boas vendas de seu jornal, vendas essas que vem caindo. Com Jessica Jones como consultora, o primeiro assunto a ser tratado é justamente a morte da repórter que logo envolve o vilanesco Norman Osborn.

O tom da narrativa mescla seriedade com jocosidade, mas, do lado sério, não há aquela gravidade que vimos em Alias. Afinal, The Pulse é uma publicação “normal” da Marvel Comics e não debaixo do selo Marvel Max. Assim, nada de sexo, “ultra-realidade” e palavrões sem #%%¨!¨!@. É a versão “para todas as idades” de Jessica Jones e, ainda que o leitor de Alias certamente vá torcer o nariz – eu sei que torci – Bendis soube manter ao menos um semblante do espírito da super-heroína, trazendo-a organicamente para esse outro ambiente.

E a grande mudança na vida de Jessica, sua gravidez, é o elemento fundamental para essa transformação. Ela, agora, tem uma vida se desenvolvendo em seu ventre e, com isso, a perturbada personagem ganha um propósito na vida, agarrando-se a ele com unhas e dentes. Portanto, a saída de Jessica da Codinome Investigações para o Daily Bugle tem sentido lógico, já que ela precisa do dinheiro entrando todo mês, além dos benefícios da carteira assinada, notadamente o seguro de saúde, algo que ela deixa muito claro para Jameson. Mesmo que os puristas virem o rosto para essa pegada mais leve, não há dúvidas que Bendis se esforçou nessa transposição.

A história em si, que envolve também o Homem-Aranha, mas em papel coadjuvante, é suficientemente interessante e tem consequências para o Universo Marvel, como a revelação de duas identidades secretas e a primeira prisão de um super-vilão que nunca havia visto o sol nascer quadrado antes. Portanto, não é material descartável, apenas.

Finalmente, no quesito arte, a escolha de Mark Bagley certamente trará sorrisos aos leitores de Alias. Afinal, Bagley, com seu estilo espalhafatoso e expansivo, é o anti-Michael Gaydos, tanto que Bagley foi o escolhido para fazer todas as sequências de sonho/alucinação e de flashback ao longo de toda a série Alias. Com isso, vemos familiaridade nos traços e um trabalho que,  ainda que não tenha grande destaque e que apresente Jessica Jones como alguém muito mais nova do que deveria ser, acaba funcionando dentro do espírito da série.

Secret War / Guerra Secreta

estrelas 3,5

No segundo arco, composto de quatro partes (The Pulse #6 a #9), Bendis faz um tie-in de sua própria saga Guerra Secreta, que revela o jogo sujo que Nick Fury faz e que efetivamente começou a era quase ininterrupta de sagas da Marvel que continua até hoje. O elemento catalisador do arco é o que também marca o começo de Guerra Secreta: o atentado que deixa Luke Cage em coma e Jessica Jones ferida.

Na história, que é sempre mantida nos bastidores da saga, vemos o desespero de Jessica Jones primeiro achando que havia perdido seu bebê e, depois, com o desaparecimento de Luke Cage da cama do hospital. Toda a narrativa envolve sua investigação, junto com Ben Urich, para tentar descobrir o que está acontecendo, colocando-a em oposição ao próprio Daily Bugle e um acordo inescrito que daria passe livre para os atos de Fury. A manipulação da imprensa para um bem maior é um elemento que dá um sabor todo especial à história e o mistério sobre o paradeiro de Cage é também interessante, com uma resolução bem estruturada, que traz de volta a quase mítica Enfermeira Noturna, ainda que em uma brevíssima ponta.

Para acompanhar a linha narrativa mais séria, Bagley sai e entra Brent Eric Anderson e Michael Lark na arte, com estilos mais crus e sombrios, ainda que longe do trabalho de Gaydos em Alias.

House of M / Dinastia M

estrelas 2,5

Depois dos dois primeiros arcos, sempre com Jessica Jones em foco, Bendis se perde um pouco na proposta de The Pulse e escreve um one-shot (#10) focado na repórter Katherine Farrell, da equipe de Jones do The Pulse no Daily Bugle e sua investigação de um ataque à Torre Stark dentro do universo alternativo conhecido como Dinastia M criada por uma enlouquecida Feiticeira Escarlate. Trata-se, claro, de um tie-in da saga de mesmo nome, também escrita por Bendis. No entanto, diferente do tie-in com Guerra Secreta, esse depende demais de conhecimento prévio da saga maior em si, ao ponto de tornar difícil até minha tarefa de explicar a história.

De toda sorte, o que vemos é Farrell entrar em contato com o Gavião Arqueiro que ressuscita nesse universo alternativo depois de ser morto pela Feiticeira Escarlate em Os Vingadores: A Queda (sim, você adivinhou, também, de Bendis) e os dois passam a travar diálogos expositivos e confusos que não impulsionam em nada nem The Pulse, nem Dinastia M, sendo literalmente um número solto para quem quiser ler tudo sobre a saga.

Fear / Medo

estrelas 5,0

Medo, arco composto por três números de The Pulse (#11 a #13), marca a volta da equipe criativa original completa de Alias à Jessica Jones. Bendis escreve, Michael Gaydos desenha e Matt Hollingsworth colore. E o resultado é a volta à antiga forma em uma história cativante e fascinante em sua simplicidade.

De um lado, vemos Jessica Jones enfrentando seus medos e dúvidas em relação à vindoura filha. Será que ela será normal ou mutante? Será que a menina viverá segura, considerando que ambos os pais são super-heróis? Tudo isso é abordado em mais um “almoço-estilo-Bendis” em que a ação é jogada de lado completamente, abrindo caminho par a diálogos ferinos e ultra-realistas, ou, ao menos, o máximo que ele pode fazer fora do selo Max. Mas mesmo sem poder extrapolar, Bendis dá um show de narrativa ao tratar de questões mundanas, que se expandem para o estouro da bolsa d’água de Jessica e sua ida ao hospital nos braços de Carol Danvers. Como uma super-heroína tem filhos? Como o médico poderá saber o que fazer considerando a fisiologia alterada da mãe e potencialmente da criança?

Tudo isso vem ganhando respostas fascinantes, com o autor entregando um dos melhores arcos de sua personagem, digno de figurar em Alias até (e, lá no fundo, apesar da qualidade de The Pulse, gosto de imaginá-lo como parte de Alias). Tudo soa legítimo, verdadeiro, provável, marcas registradas do texto de Bendis em relação à sua criação e por quem ele claramente nutre um carinho especial.

Paralelamente a essa história, acompanhamos o repórter investigativo Ben Urich lidar com roubos de lojas sendo impedidos por um herói que as vítimas acham que é o Demolidor. No entanto, Urich sendo quem é, desconfia da situação e acaba descobrindo que, na verdade, há algo mais por detrás e que o verdadeiro herói é o Demolição (D-Man, no original), praticamente desconhecido no Universo Marvel, apesar de tecnicamente já ter sido membro dos Vingadores. Essa narrativa é completamente separada da de Jessica Jones, mas serve como um comentário realmente enternecedor e triste sobre a vida do super-herói mascarado em Nova York, encorpando o arco como um todo e elevando-o a algo realmente incomum e fantástico.

Não precisaria tecer comentários sobre a arte de Gaydos, mas tecerei mesmo assim. Seu quase derradeiro trabalho com Jessica Jones traz seus traços originais temperados pela situação mais alvissareira por que passa a heroína nesse momento de alegria e apreensão. Ele captura a crueza de todos os momentos, mas com um viés positivo, algo que, em Alias, muitas vezes era inexistente.

Medo é um arco que não merece menos do que aplausos.

Finale / Final

estrelas 4

No derradeiro número de The Pulse (#14), Bendis, Gaydos e Hollingsworth nos presenteiam com um one-shot simpático que revela, em flashback contado pela própria Jessica à sua filha ainda sem nome como ela e Luke Cage se conheceram, tudo para que seja possível ela concluir se deve ou não deve casar com o ex-Herói de Aluguel.

É em mais esse detalhe sobre o passado da vida de Jessica que aprendemos que, depois de largar o manto de Safira, ela foi momentaneamente outra heroína, de viés mais sombrio, chamada Paladina (Knightress). E foi em uma missão contra o Coruja que ela conheceu Luke (ainda com o uniforme clássico amarelo, com o peito aparecendo) e Punho de Ferro, então formando uma inseparável dupla.

A história tem charme e mostra o caráter inabalável de Jessica Jones, apesar de seu vocabulário, digamos, sujo e cheio de #@#$!%#$$#$ que ela não hesita em repetir nem na frente de seu bebê. Um fechamento divertido para as histórias solo da heroína.

Novos Vingadores Anual #1

estrelas 2O primeiro anual dos Novos Vingadores exige um pouco de conhecimento dos eventos que o antecederam para ser compreendido completamente. Mas não será minha função explicar os detalhes. Basta dizer que, logo antes de uma longa – e burocrática – luta entre os Vingadores e a nova versão “super-adaptóide” de Yelena Belova, a segunda Viúva Negra, Jessica Jones finalmente diz a Luke Cage que ela aceita casar com ele, proposta que vimos ele fazer ao final do arco Medo de The Pulse.

Com isso, o ciclo da super-heroína mamãe se encerra com um belo casamento sem uniformes de super-heróis e sem ataques de vilões na cerimônia que, aliás, é abençoada pelo “pai de todos” Stan Lee. Não seria a última aparição de Jessica Jones nos quadrinhos, mas, até agora, foi a última efetivamente importante.

The Pulse (EUA, 2004/6)
Roteiro: Brian Michael Bendis
Arte: Mark Bagley (#1 a #5), Brent Eric Anderson (#6 e #7), Michael Lark (#8 a #10), Michael Gaydos (#11 a #14), Olivier Coipel (Novos Vingadores Anual #1)
Arte-final: Scott Hanna, Stefano Gaudiano
Cores: Frank D’Armata, Andy Troy, Peter Pantazis, Matt Hollingsworth
Letras: Cory Petit
Capas: Mike Mayhew, Andy Troy
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: entre abril de 2004 e maio de 2006
Editora no Brasil: Panini Comics (Ar rarefeito: Homem-Aranha #44 a #46; Guerra Secreta: Marvel Apresenta #20; Dinastia M: Homem-Aranha #59; Medo: Homem-Aranha #60 a #62 e Finale: Homem Aranha #63; Novos Vingadores Anual #1: Universo Marvel Anual #1)
Páginas: 322

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