Home FilmesCríticas Crítica | Jovens Titãs: O Contrato de Judas (2017)

Crítica | Jovens Titãs: O Contrato de Judas (2017)

por Pedro Cunha
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Os Jovens Titãs é um dos grupos mais queridos de toda a DC Comics, e uma das histórias mais amadas desse grupo de jovens é O Contrato de Judas. Com o roteiro de Marv Wolfman, desenhada e co-escrita por George Pérez, o quadrinho saiu em uma época que os Titãs vendiam mais do que a própria Liga da Justiça. A dupla de criadores do título foi tão bem sucedida que, meses depois, ambos estavam escrevendo aquele que seria o maior evento da história dos quadrinhos de herói já feito, a Crise nas Infinitas Terras.

Já não é de hoje que o DCAU (DC Animated Universe) gosta de adaptar grandes clássicos das HQs, com a introdução do grupo no fraco Liga Da Justiça vs Jovens Titãs, era questão de tempo para vermos O Contrato de Judas ser adaptado para as telinhas. Também não é nenhuma novidade ver o time de animadores da Warner entregar um ótimo trabalho, afinal eles já nos mostraram excelência em Batman contra Capuz vermelho, Liga da Justiça: Ponto de Ignição,  Batman: Assalto em Arkham, que introduz melhor o Esquadrão Suicida do que o longa-metragem em live-action, e muitos outros filmes.

Escrever sobre o novo lançamento sem comentar os seus antecessores seria um grande erro, é estranho ver que a mesma DC que consegue estabelecer um universo animado auto-suficiente, que se referencia e já espera que o espectador tenha um conhecimento prévio das outras obras, falha em criar um universo coerente para seus longas das telonas. Já está mais que na hora do DCCU (DC Cinematic Universe) prestar atenção no que seus irmãos do DCAU tem produzido.

O filme começa cinco anos no passado, com os antigos Jovens Titãs tendo seu primeiro contato com a Estelar, logo de cara já se vê umas faíscas saindo entre Kori e Dick, que serão um casal no futuro. Já está estabelecido no universo das animações que o grupo de jovens não é o mesmo que vimos no quadrinho. Então o longa dá um grande salto de tempo, onde vemos Asa Noturna mais velho, ensinando, junto com Estelar, esse novo grupo, que é composto por Ravena, Mutano, Robin (Damian Wayne), Besouro Azul e a mais nova integrante, Terra.

Não darei muitos spoilers aqui, mas já adianto: o que você irá ver na animação não será muito diferente do que já foi visto na HQ de Perez e Wolfman. Isso está longe de ser algo ruim, o roteiro de Ernie Altbacker faz adaptações que são necessárias para a trama, devido a atual condição do grupo nesse universo e também a mídia na qual a obra está sendo inserida.

Ernie Altbacker vai bem em outros aspectos da história, o filme só possui noventa minutos, isso é muito pouco, considerando o tamanho e complexidade a história mãe. Para o arco ter êxito na sua adaptação, era preciso que o público tivesse certo apego pelos personagens principais, coisa que não foi bem feita no anterior Liga da Justiça vs Jovens Titãs. Entretanto, o roteiro consegue criar esse elo, tudo isso graças a forma dinâmica que Ernie da para a narrativa, deixando o espectador cheio de informação do começo ao fim.

Outra grande escolha do roteirista foi mostrar a relação da equipe, Altbacker faz questão de gastar muito tempo de tela mostrando o grupo interagindo, fazendo com que a audiência ria com as piadas de Mutano, e vire cabeças com a fofura do relacionamento entre Dick e Estelar.  Muitos podem colocar isso como um ponto fraco do filme dizendo que ele não tem ação. Não tiro o mérito da crítica, mas rebato dizendo que, se o longa só focasse em socos e chutes, seria fraco em sua essência, rendendo muitas outras reclamações.

O único ponto fraco de toda a história é seu vilão, a parte que cabe ao Exterminador é bem feita, é muito fácil escrever Slade, ele nunca tem grandes motivações ou evoluções, sempre sendo o mercenário que só liga para o dinheiro e que é tão bom que nunca será contestado. Mas o outro “malvado” apresentado é fraco, ele é uma espécie de deus, que quer ser todo poderoso drenando os poderes dos Titãs. Sua motivação é tão rasa quanto seu tempo de tela, é evidente que Ernie Altbacker quis desenvolver mais o grupo do que seus antagonistas.

A parte da animação gráfica é aquilo que já estamos acostumados, não há grandes mudanças dos traços que já foram estabelecidos nesse universo. O diretor Sam Liu apresenta um visual bom para todos, principalmente Terra, que está muito semelhante ao que vimos nas HQs. A ação é muito bem retratada, e Liu usa do sangue de forma bem pontual, só quando preciso. A falta dele não afeta a agressividade do longa, que dribla essa limitação e mostra cenas empolgantes e viscerais.

A única reclamação para com a parte visual é, novamente, o vilão. Não do Exterminador, falo sobre o Irmão de Sangue (forma como o “deus” é chamado). Durante o primeiro e o segundo atos, ele tem um design normal, até esquecível, já no último, ele assume um visual que, sendo bonzinho, incomoda. Não entrarei em detalhes, pois se fizesse daria algumas dicas sobre a trama, só encerro essa parte dizendo que a escolha foi preguiçosa, e contribuiu para o meu desgosto com o antagonista.

É interessante ver como o DCAU constrói seu universo, focando na trama e por consequência criando algo maior. Desde 2014 somos apresentados a obras que sendo boas ou ruins, contribuem e dão um passo além na construção de um mundo, esse que não tem pretensão nenhuma em ter um grande evento, e que não depende de cenas pós créditos para possuir uma interligação. Em uma época em que a palavra “universo” tem mais importância do que contar uma história a Warner Animation dá uma aula para a sua irmã maior, e para a concorrência.

Jovens Titãs: O Contrato de Judas ( Teen Titans: Judas Contract) — EUA, 2017
Direção: Sam Liu
Roteiro: Ernie Altbacker
Música: Frederik Wiedmann
Elenco: Christina Ricci, Taissa Farmiga, Miguel Ferrer, Kevin Smith, Stuart Allan, Brandon Soo Hoo, Jake T. Austin, Kari Wahlgren, Sean Maher
Duração: 90 min.

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