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Crítica | Kingsman: Serviço Secreto (2012)

por Pedro Cunha
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Mark Millar é um dos autores de quadrinhos mais famosos dos últimos anos; no seu currículo encontramos obras como Kick-Ass, Authority, Superman – Entre a Foice e o Martelo, Supremos e mais tantas outras obras icônicas da nona arte, que seria quase impossível resumi-las em apenas um parágrafo. Além de ser um astro nas HQs, Millar está se tornando um autor visado para o cinema, vide os já citados Kick-Ass e Supremos, que é o material base do universo Marvel no cinema e o quadrinho aqui em questão, que deu base a uma franquia cinematográfica, deixa isso claro. A obra ganha ainda mais peso quando colocamos o nome de Dave Gibbons, desenhista de Watchmen.

Na trama, acompanhamos a jornada de Gary, um menino que vive em um conjunto habitacional na Inglaterra com sua mãe e padrasto, esse que tem um relacionamento abusivo com a mulher, agredindo tanto fisicamente quanto psicologicamente. O único respiro de normalidade na vida do garoto de dezessete anos é seu tio Jack, que para a família é apenas um homem que teve sucesso em um emprego comum, mas que na verdade é um agente secreto do governo Inglês.

O meio em que Gary vive o influencia a fazer o mal, logo no começo Millar faz questão de mostrar que o menino é um jovem infrator, inserindo em sua narrativa momentos em que ele rouba carros, foge da polícia e bebe, mesmo sendo menor de idade. Todas essas infrações ocasionam diversas prisões para o menino, que é sempre salvo pelo tio. O autor também faz questão de mostrar que seu protagonista tem algum senso de moralidade e ética, inserindo uma cena em que ele está fugindo da polícia e bate o carro pois não queria matar um cachorro, um artifício muito clichê, mas que no final funciona.

Jack London vê potencial em seu sobrinho, mesmo o garoto sendo um delinquente e, então, resolve fazer uma última proposta, o tio quer que o menino entre para a escola de jovens espiões e treine arduamente para se tornar um agente secreto do governo. É claro que Gary aceita, já que não possuía muitas outras opções, começando, assim, a  sua jornada.

Mark Millar sabe criar tramas interessantes, seu roteiro é sempre muito dinâmico e, principalmente, adaptável. Kingsman cumpre todos esses quesitos, porém peca em diversos aspectos. Se tivesse que definir a trama em apenas uma palavra, ela seria descompromissada, aspecto esse que pode ser bom, já que estamos falando sobre entretenimento, mas que também é muito ruim, já que denota preguiça em alguns momentos. O roteiro de Kingsman é raso, não há preocupação nenhuma em desenvolver personagens, até mesmo Gary, que é o protagonista, tem uma jornada fácil, sem grandes desafios e reflexões. A trama principal é precipitada, apresentada apenas uma vez e em poucos painéis, toda essa pressa tem um motivo: Millar quer correr para a ação.

Socos, chutes, tiros e muito, muito sangue, esse são os principais protagonistas de Kingsman, todo o roteiro de Millar é condicionado a esses momentos de agressão, o desenvolvimento de personagem e trama, que é muito pequeno, entra em segundo plano no quadrinho. No primeiro arco tive a impressão que Mark estava correndo com seu desenvolvimento devido ao pequeno número de edições que a série foi publicada, mas estava enormemente enganado, Mark espreme a trama para colocar ação em um terço das páginas de cada edição, já que são socos que fazem quadrinhos vender.

A arte de Gibbons também deixa a desejar, em Watchmen cada quadro possui seu próprio significado, em Kingsman quase nenhum quadro possui sua própria narrativa. Não quero comparar as duas obras, até porque seria muita injustiça, mas é estranho ver que o mesmo artista, que é capaz de desenhar uma HQ com uma bela narrativa gráfica, consiga fazer outra tão pobre. A qualidade da arte é boa, claro, mas desenhar uma história em quadrinho é muito mais do que apenas ilustrar um roteiro, deve-se narrar a história através dos painéis, se não fosse assim, as HQs seriam chamadas de livros ilustrados.

Em 2015 o quadrinho recebeu uma adaptação para o cinema, o filme foi dirigido por Matthew Vaughn e teve o roteiro de Jane Goldman. Pode-se dizer com tranquilidade que esse é um raro exemplo onde a adaptação é melhor que a obra original. A dupla conseguiu fazer algo que Millar e Gibbons não conseguiram: balancear a ação com o desenvolvimento, fazendo com que, no final, o público se relacione com os personagens e saia da sala do cinema sabendo que viu personagens diferentes daqueles que  foram apresentados no primeiro arco, algo que não se vê no quadrinho.

Apesar de todos os defeitos, Kingsman é um quadrinho divertido, principalmente se você for um leitor que prefere ação, mas se prefere diálogos bem trabalhados, esqueça Kingsman e vá ler algo do Brian K. Vaughan, ou algumas outras obras do próprio Mark Millar, que é um escritor que sabe equilibrar a sua trama, agradando a todos, mas que, infelizmente, perdeu a mão nessa obra em questão.

Kingman: Serviço Secreto (The Secret Service: Kingsman)  — EUA, 2012
Roteiro: Mark Millar
Arte: Dave Gibbons
Cores: Angus McKie
Editora original: Icon Comics
Datas originais de publicação: 2012
Editora no Brasil: Panini Comics
Data de publicação no Brasil: março de 2015
Páginas: 174 Páginas

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