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Crítica | Kiriku e os Animais Selvagens

por Luiz Santiago
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estrelas 3,5

O sucesso de Kiriku e a Feiticeira (1998) fez de Michel Ocelot um diretor bastante conhecido. Além da boa recepção do filme, muitos estudos sobre o simpático protagonista da obra e sobre a interessante abordagem do diretor para um tema que podia facilmente cair no clichê do exotismo cultural ganharam lugar na crítica especializada e artigos impressos e eletrônicos nos anos seguintes.

Todo esse afã em torno de Kiriku fez com que Ocelot fosse bombardeado por convites e pressões para que fizesse uma sequência do primeiro filme, que, curiosamente, havia terminado bem fechadinho, sem espaços para intervenções além daquele ponto da história, isso se o autor não quisesse estragar aquilo que tão bem havia criado. Mas então ele cedeu e uniu-se a Bénédicte Galup, com ela realizando uma “sequência intermediária”, ou seja, um longa cuja história se passaria antes do final do primeiro filme.

Mesmo que tenhamos pontos positivos e Os Animais Selvagens e mesmo que seja um bom filme, fica evidente por quê Ocelot deixou claro para quem quisesse ouvir que estava fazendo uma sequência contra sua vontade. Não seria fácil voltar a um universo fantástico tão bem construído como fora aquele de Kiriku e a Feiticeira e, para piorar as coisas, o diretor estava, à época, envolvido na produção de um outro filme seu, As Aventuras de Azur e Asmar, o que colocava mais alguns empecilhos em jogo.

O início de Kiriku e os Animais Selvagens traz o avô do garoto narrando a história e justificando para o público o por quê ele estava ali (quase um pedido de desculpas de Ocelot). Com isso, sabemos que tanto a história deste filme quanto a de Kiriku, os Homens e as Mulheres acontece depois do encontro do garoto com o avô e antes da sequência do espinho retirado de Karabá em Kiriku e a Feiticeira. Depois da narração de abertura, toma-se como ponto de partida o episódio da fonte e da “morte” de Kiriku no filme anterior, uma repetição que funciona perfeitamente bem para quem não viu o primeiro filme, mas que chateia muitíssimo que já o viu, porque se trata de uma vergonhosa repetição de cena.

Por sorte, o que temos depois desse início problemático é muito bom, à exceção, talvez, da exploração pouco interessante de Karabá. Vemos uma ótima abordagem sobre o cultivo de subsistência da tribo, a manufatura de potes de argila, a aparição da cidade mais próxima (evento único em toda a trilogia!) e uma sequência lindíssima de viagem de Kiriku na cabeça de uma girafa, fugindo dos fantoches enfeitiçados de Karabá. Indo de algum lugar da África Ocidental até o norte da Tanzânia, onde fica o Monte Kilimanjaro, essa viagem faz jus ao que o avô do garoto diz na introdução da história, classificando-a como uma grande e importante viagem do garoto, uma espécie de “rito de passagem” sobre o conhecimento de parte do mundo além da tribo.

Com um pouco menos de apelo afetivo ou bom uso da trilha sonora, Bénédicte Galup e Michel Ocelot investiram mais na composição visual do filme, conseguindo um bom resultado final no filme, apesar de tudo. Kiriku e os Animais Selvagens falha no roteiro e organização sequencial da história, mas não deixa de ser um bom filme, embora nós pudéssemos muito bem ter sobrevivido sem tê-lo visto.

Kiriku e os Animais Selvagens (Kirikou et les bêtes sauvages) – França, 2005
Direção: Bénédicte Galup, Michel Ocelot
Roteiro: Philippe Andrieux , Bénédicte Galup, Marie Locatelli, Michel Ocelot
Elenco (vozes originais): Pierre-Ndoffé Sarr, Awa Sene Sarr, Robert Liensol, Marie-Philomène Nga, Emile Abossolo M’bo, Pascal N’Zonzi, Marthe Ndome
Duração: 75 min.

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