Home TVTemporadas Crítica | La Casa de Papel – 1ª Temporada (Parte Dois)

Crítica | La Casa de Papel – 1ª Temporada (Parte Dois)

por Luiz Santiago
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la-casa-de-papel-netflix SEGUNDA PARTE PLANO CRITICO

SPOILERS!

Assim como a Parte Um, este segundo arco da série La Casa de Papel recebeu uma edição especial de distribuição pela Netflix. As condições foram as mesmas que a dos 13 primeiros episódios da temporada: a formatação inicial trazia capítulos “longos demais”, de modo que a empresa se assegurou de que poderia reeditar os 6 originais, diminuindo-lhes o tempo e aumentando o número de capítulos para 9. Mesmo que ainda sofra do elemento que emperrou consideravelmente a primeira parte, este Arco 2 goza de grandes e boas surpresas, merecendo destaque o bom final e a não-redenção às bobagens morais que normalmente vemos atrapalhar enredos de séries ou filmes que retratam assaltos ou qualquer ato de contínua desobediência às leis. Não há, aqui, lições do tipo “o crime não compensa” ou “o lado da justiça sempre vence“. Há sim uma coerente entrega de um produto de ficção realista criado por Álex Pina e, por que não, respeito aos fãs que esperaram por aquilo que se anunciara desde o início. O Professor (Álvaro Morte) realmente sabia o que estava fazendo.

A palavra de ordem aqui foi “agilidade”. Depois da imensa demora na apresentação do drama durante os 13 capítulos iniciais, a produção tomou este segundo arco como um teste de resistência para os assaltantes, para a polícia e também para o Professor, que vê uma porção de coisas dando errado porque a paixão por Raquel (Itziar Ituño) não estava em seus planos e, sinceramente, quase colocou tudo a perder. Diminuídas em suas “cenas de novela”, a série cresceu e alcançou em cheio situações que haviam sido apenas sugeridas na primeira parte. Os flashbacks diminuíram e as “figas” no contato com a polícia também, restando situações de grande tensão, agora majoritariamente direcionadas ao desmantelamento do assalto e aos últimos movimentos do jogo programado por Sergio.

Neste ponto, é impossível não citar Arturo, o personagem de Enrique Arce. Em muitos programas encontramos o tipo de indivíduo pentelho e insuportável, mas este foi realmente um campeão. Chega um momento da história em que o espectador não suporta mais ver o rosto do personagem, que estraga algumas cenas só pela sua presença, tendo aí dois motivos em voga. O primeiro, é que sua postura mantém quase exatamente o mesmo padrão. Sem uma alternância significativa, esse comportamento irrita cada vez mais (a exceção se dá na sequência com a arma ameaçando Denver, o único bom momento do personagem na série). O segundo motivo é que enquanto todos os personagens foram progressivamente mudando no decorrer da temporada, Arturo praticamente permaneceu inalterado até metade deste segundo arco, o que é bastante estranho. Descontando o tiro no ombro, lá estava ele desempenhando fielmente sua função de preencher espaço, irritar o público e estragar algumas cenas com seus planos de fuga que a poucos interessava.

De outro modo, vejo com muito mais eficiência o desenvolvimento do elenco principal aqui do que no início da temporada. Mesmo que algumas cenas ainda sejam estendidas mais do que deveriam, a narrativa central se colocou fora do banco e do hangar, fazendo dos ambientes externos um instigante contraste com a liberdade e o encarceramento dos criminosos (impossível não citar a ótima sequência de Tóquio na moto, voltando para o banco), promessa que à medida que o tempo passava, tornava-se cada vez mais real. Esse suspense em alta também se intensificou pelos riscos corridos pelo professor. Na primeira parte, a cena do mendigo foi a única realmente memorável nesse sentido, mas aqui, há um bom número delas, sendo a visita ao hospital em trajes de palhaço e o enfrentamento do ex-marido de Raquel, as mais bem moduladas pela edição, servindo de ponte para outras camadas narrativas do arco.

Entendemos por que a direção optou por diminuir a presença da trilha sonora aqui, algo que pode ter parecido estranho para alguns, mas foi uma boa decisão. A música com maior frequência pode distrair o público de um objetivo maior e não é sempre que se consegue utilizá-la de maneira orgânica e coesa, de modo que o foco nos sons do ambiente bastaram para quase tudo. Deste modo, quando ouvimos trechos de Bella CiaoNo PrisonersThe Gamble ou Magnetic Hurricane, notamos o quão valorizadas ficam as canções justamente pela boa aplicação, pelo “silêncio” que a precedeu e pela não saturação no decorrer dos episódios, já que aqui o tom de produção também mudou. Quanto mais intenso se mostrou o roteiro, mais criteriosa ficou a direção, lembrando bastante os dois primeiros episódios da série, os mais bem pensados na direção de arte e no estabelecimento de uma identidade visual e dramática. Quando chegamos ao finale, aproveitamos todo o tsunami de emoções previamente erguidos e nos encontramos com mais alguns golpes de genialidade do Professor.

É possível que a breve saída dos assaltantes do hangar tenham deixado um pequeno vácuo no desfecho, mas convenhamos, não foi nada assim tão grave assim. O sacrifício de Berlim (personagem de quem não gostei um momento sequer, até aquela cena final) e a montagem paralela com a chegada da polícia e a saída perfeitamente cronometrada do grupo, serviram muito bem como “introdução de destinos”. Não foi exatamente o ideal, mas não foi algo problemático. Vendo de outro ângulo, acho as derradeiras sequências, com Raquel assistindo à reportagem, muitíssimo mais problemática. O salto de tempo exige aí o mínimo de contexto para a personagem (uma vez que a situação já fora apresentada a contento pela televisão), mas isso não acontece. Então ela via buscar os cartões postais. Não chega nem a ser conveniência, é apenas um gancho de finalização que precisava ter sido melhor estabelecido. Pelo menos o ciclo se fechou de modo nostálgico e cheio de cumplicidade, da mesma forma como o Professor e a Inspetora de se conheceram. Quem sabe agora ela não compra um carregador portátil de bateria, não é mesmo?

La Casa de Papel – Segunda Parte (Episódios 1 a 9) — Espanha, 2017
Criador: Álex Pina
Direção: Álex Rodrigo, Alejandro Bazzano, Javier Quintas, Jesús Colmenar
Roteiro: Javier Gómez Santander, Esther Martínez Lobato, Esther Morales, Álex Pina, Pablo Roa, Fernando Sancristóval, David Barrocal
Elenco: Úrsula Corberó, Itziar Ituño, Álvaro Morte, Paco Tous, Pedro Alonso, Alba Flores, Miguel Herrán, Jaime Lorente, Esther Acebo, Enrique Arce, María Pedraza, Darko Peric, Kiti Mánver, Brian Beacock, Anna Gras, Fernando Soto, Mario de la Rosa, Juan Fernández, Clara Alvarado, Fran Morcillo, Miquel García Borda
Duração: 55 a 40 minutos, cada episódio

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