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Crítica | Labirinto de Mentiras

por Gisele Santos
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O Holocausto é um tema recorrente no cinema. Seja nos Estados Unidos, na Itália e ainda mais na Alemanha, tocar nesse tema é sempre uma forma de reviver um passado recente da história alemã e também mundial e, normalmente, rende ótimos dramas. Não é bem o caso de Labirinto de Mentiras, filme dirigido pelo italiano Giulio Ricciarelli, e que concorre a uma vaga de Melhor Filme Estrangeiro representando seu país.

A história se passa após o final da Segunda Guerra Mundial, em 1958, na cidade de Frankfurt. A Alemanha perdeu a guerra e uma disputa entre os lados capitalista e comunista inicia no que viria a se tornar a Guerra Fria. Alemanha dividida e querendo esquecer os horrores vividos no período de Hitler no poder. Em meio a tudo isso o promotor de justiça Johann Radmann (Alexander Fehling, Bastardos Inglórios) inicia sua carreira cuidando de pequenas multas de trânsito e outros delitos leves. Mas ele quer alçar voos mais altos e vê em uma vítima do Holocausto a possibilidade de fazer justiça em uma Alemanha que só pretende esquecer o que aconteceu nos anos anteriores.Ele reúne casos de pessoas que foram assassinadas e feitas prisioneiras em Auschwitz e pretende fazer justiça colocando atrás das grades os responsáveis, diretos e indiretos, pelos crimes cometidos na guerra. À medida que a investigação vai tomando forma e ganhando a atenção da imprensa e das autoridades, Johann vê sua vida entrar em um turbilhão de emoções que envolvem também o seu passado.

Em determinado momento, o promotor sênior fala ao jovem Johann que tudo aquilo é um grande labirinto e que ele precisa ter cuidado para não se perder dentro dele. Pois o diretor deveria ter ouvido as sábias palavras do promotor. O filme teria tudo para ser um grande drama relacionado a forma como o povo alemão lidou com os horrores ocorridos nos campos de concentração logo após o final da guerra, além da relação com o Nazismo, seus membros e associados (quase toda a Alemanh,a diga-se de passagem). Mas o diretor opta por um somatorio de clichês que além de irritar o espectador torna a história lenta e cansativa. O roteiro, assinado por Ricciarelli e Elisabeth Bartel é cheio de furos e inconsitências. Desde a busca pelos prisioneiros do campo de concentração, passando pelo interesse amoroso do promotor e ainda na prisão dos responsáveis pelos crimes.

A trama se concentra muito na busca por Josef Mengele, médico alemão conhecido como Anjo da Morte que fazia experiências em gêmeos nos campos. A história conta que Mengele morreu tranquilamente no Brasil depois de uma temporada na Argentina (país que, por sinal, recebeu vários nazistas como Adolf Eichmann, a pessoa por trás da “Solução Final). Sendo assim, a busca de Johann pelo médico se faz desnecessária já que o espectador sabe que ele não poderá prendê-lo. Além do mais, todo o sistema conspira contra o promotor e o filme faz questão de dividir nitidamente vilões e mocinhos, como se fosse possível ter apenas um lado naquele período tenso que a Alemanha vivia.

Também é superficial a forma como o roteiro lida com o Nazismo dentro da sociedade alemã. Sabe-se que logo após o fim da guerra milhares de nazistas voltaram normalmente para as suas atividades. Eles eram considerados soldados e não poderiam ser julgados por crimes cometidos em uma guerra. A sociedade também não sabia a gravidade do acontecimentos e a existência dos campos de concentração era algo ainda nebuloso que muitos acreditavam ser uma grande mentira inventada pelos aliados para acabar ainda mais com a reputação da Alemanha. Milhares e milhares de pessoas faziam parte do partido nazista, mas isso não significava na época que eles eram assassinos sanguinários, como o filme tenta mostrar. Algumas profissões, inclusive a de avogado, era uma exigência a filiação. Colocar todo mundo em um mesmo saco é não fazer justiça com o povo alemão.

O que mais irrita em meio a tudo isso é mesmo o relacionamento amoroso de Johann, uma forma de tornar o filme mais leve, mas que só reforça os clichês apontados acima. A cena final de reconciliação do casal é tão boba, cheia de indiretas que a vontade é mesmo sair correndo da sala de cinema. Totalmente desnecessária.

Provavelmente a Alemanha não deve conseguir a vaga na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Mas não jogaria a toalha não. Mesmo sendo um filme muito raso, o assunto é atrativo para os votantes da Academia nessa categoria, que deve mesmo premiar o já aclamado O Filho de Saul que também fala sobre o Holocausto. Pelo menos nesse ano, foi o Brasil que deu uma goleada na Alemanhã quando o assunto foi cinema. O nosso indicado, Que Horas Ela Volta? é bem mais filme que o alemão. E a gente segue na torcida que pelo menos dessa vez a gente possa ficar na frente dos nossos algozes.

Atualizado em 18.12.2015 às 10:48
Que Horas Ela Volta? está fora da disputa do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O alemão é um dos dez pré-indicados da lista, uma grande injustiça. Fica aquela sensação de que o assunto abordado fica acima da qualidade nessa categoria da premiação. Uma pena!

Labirinto de Mentiras – (Im Labyrinth des Schweigens, Alermanha- 2015)
Direção: Giulio Ricciarelli
Roteiro: Giulio Ricciarelli, Elisabeth Bartel
Elenco: Alexander Fehling, André Szymanski, Friederike Becht, Hansi Jochmann, Johann von Bülow, Robert Hunger-Bühler, Lukas Miko, Gert Voss
Duração: 123 minutos

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