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Crítica | Ladrão de Casaca

por Ritter Fan
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Ladrão de Casaca é um agradabilíssimo thriller romântico de Alfred Hitchcock estrelado por Cary Grant e Grace Kelly, em mais uma daquelas fantásticas escolhas de duplas de pombinhos apaixonados que só mesmo o Mestre do Suspense consegue fazer. Se uma vez mencionei que em Interlúdio, Grant e Ingrid Bergman faziam o casal dos sonhos, vendo Ladrão de Casaca fica difícil realmente decidir qual é o casal mais perfeito e isso porque há o casal James Stewart e a própria Kelly na produção anterior, Janela Indiscreta.

Grace Kelly, ainda apenas atriz (seu status de princesa viria apenas no ano seguinte), faz sua terceira e última parceria com Hitchcock, a segunda em seguida. De certa forma, sua atuação como Frances, filha da milionária Jessie Stevens (Jessie Royce Landis) reflete muito o anterior. Assim como em Janela Indiscreta, ela é uma socialite inteligente e certeira no que quer, mas a ambientação de Ladrão de Casaca empresta uma beleza e um charme à Kelly que, não tenho em dúvidas em afirmar, é o ponto alto em sua curta carreira cinematográfica. Também em sua terceira parceria com Hitchcock, Cary Grant, o ator favorito do diretor (Hitchcock disse que Grant era “o único homem que ele amava”), faz a dupla perfeita com Kelly como o ladrão de joias aposentado e herói da resistência francesa que tem que limpar seu nome quando um ladrão que imita seus métodos surge na região onde mora.

Aliás, que região! Como um terceiro personagem principal na narrativa, a Riviera Francesa – filmada em locação, algo raro para Hitchcock – dá o perfeito e sofisticado pano de fundo para o hesitante romance entre os protagonistas. John Robie, o personagem de Grant, une-se a um agente de uma seguradora e inadvertidamente a Frances, de quem ele se aproxima por sua mãe ser um potencial alvo do ladrão, para deter o novo “Gato” e a sofisticação e beleza do ambiente em que todos transitam só são páreos para a beleza e perfeita química entre Grant e Kelly.

Deixando de lado o confinamento de Janela Indiscreta e, com isso, deixando o rigor técnico a que se sujeitou em seu filme anterior, Hitchcock deslumbra o espectador com uma fotografia de se tirar o chapéu, com cores naturais e vivas, cortesia de Robert Burks, seu parceiro de longa data e que continuaria a cooperar em suas produções. O trabalho de sobreposição de imagens, especialmente quando há perseguições automobilísticas, algo que Hitchcock sempre gostou desde Suspeita, sua primeira parceria com Grant, chegam próximas à perfeição aqui. Sabemos quando há o uso da técnica, claro, mas ela nunca foi mais fluida ou mais bela do que em Ladrão de Casaca.

O roteiro, baseado no romance de mesmo nome, escrito por David Dodge, pende muito mais para o romance do que para o suspense. Na verdade, trata-se de um filme romântico com vestimenta de suspense e o resultado final é divertido, com muitos diálogos cortantes travados por Grant e Kelly. Não esperem, por isso, um mistério muito complexo ou viradas espetaculares. Tudo é muito claro no filme – assim como a fotografia – e o quase que literal passeio turístico pela Riviera Francesa é muito mais importante do que a resolução da história que, aliás, deixa um pouco a desejar em razão de sua quase banalidade. Mas é a escolha que Hitchcock faz: a balança, dessa vez, pende muito mais claramente para um lado do que para o outro, talvez para permitir que sua audiência relaxe depois do tenso e claustrofóbico Janela Indiscreta.

Com um casal belíssimo, uma fotografia espetacular, filmagens em locações de sonho, figurinos impecáveis e diálogos inteligentes, qualquer espectador será fisgado pelo charme de Ladrão de Casaca e sairá da experiência no mínimo com um sorriso no rosto e uma forte vontade de dirigir um conversível pelas sinuosas estradas do sul da França. Mais um grande acerto do Mestre do Suspense.

  • Crítica originalmente publicada em 26 de abril de 2014. Revisada para republicação em 26/05/2020, como parte da versão definitiva do Especial Alfred Hitchcock aqui no Plano Crítico.

Ladrão de Casaca (To Catch a Thief, EUA – 1955)
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: John Michael Hayes, Alec Coppel (baseado em romance de David Dodge)
Elenco: Cary Grant, Grace Kelly, Jessie Royce Landis, John Williams, Charles Vanel, Brigitte Auber, Jean Martinelli, Georgette Anys
Duração: 106 min.

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