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Crítica | Lancelot – O Primeiro Cavaleiro

por Guilherme Coral
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estrelas 3

A lenda do rei Arthur já foi abordada das mais diferentes maneiras ao longo da história do cinema, ora de forma mais descontraída, como é o caso de A Espada Era a Lei, ora mais visceral, com o clima mais pesado, vide Excalibur. O diretor Jerry Zucker, responsável por famosas comédias oitentistas como Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu Por Favor, Matem Minha Mulher decide, então, em 1995, nos trazer uma história que foca em Lancelot e, claro, no seu caso com a rainha Guinevere. Tendo sido seu último filme o clássico Ghost: Do Outro Lado da Vida, Zucker faz algumas escolhas similares aqui em Lancelot – O Primeiro Cavaleiro, misturando o romance e a fantasia épica.

O longa tem início nos dizendo a situação da Inglaterra naquele momento. Após ter trazido a paz para o reino e fundado Camelot, o rei Arthur (Sean Connery) é traído por um dos cavaleiros da távola redonda, o príncipe Malagant (Ben Cross), que deseja, acima de tudo, ser rei. Partimos, então, de encontro a Lancelot (Richard Gere), um camponês comum que vive da sua habilidade com a espada. Sua vida, contudo, muda completamente quando ele resgata a futura rainha Guinevere (Julia Ormond) de um ataque e sua imediata paixão por ela o leva cada vez mais próximo de Camelot, onde se vê envolvido no conflito do rei com seu antigo primeiro cavaleiro.

O longa claramente demonstra um maior cuidado em relação à sua primeira metade que a posterior. Vemos um início mais cadenciado, que faz um bom trabalho apresentando e desenvolvendo seus personagens centrais, ao ponto que conhecemos e entendemos cada um deles. Há uma clara mistura entre o ar mais descontraído da fantasia com a atmosfera mais pesada, trazida pelos ataques de Malagant, com aspectos mais brutais, como o estupro sendo trabalhados cuidadosamente, mantidos nas entrelinhas, por vezes, sobressaindo de forma mais clara. Dessa forma, esses trechos iniciais de Lancelot – O Primeiro Cavaleiro são mais fáceis de se assistir, trazendo um bom entretenimento para o espectador.

Chega um ponto, porém, que o texto passa a se tornar mais apressado, pulando de um ponto para o outro sem muita construção, com o uso notável de fades a fim de simbolizar a maior passagem de tempo. Tudo passa a ser muito corrido e a imersão, tão bem construída durante a primeira metade do longa acaba se perdendo – com ela, nossa atenção se esvai, a tal ponto que passamos a não nos importar tanto com os personagens centrais. Além disso, todo o drama entre Guinevere e Lancelot se torna repetitivo demais, por mais que Richard Gere e Julia Ormond deem o máximo de si, realmente nos fazendo acreditar que estão apaixonados um pelo outro.

Para piorar, nessa segunda metade do filme, temos as maiores batalhas e essas definitivamente não envelheceram bem, com Jerry Zucker trazendo enquadramentos que, no mínimo, provocam uma forte vergonha alheia, com direito a Richard Gere chutando na direção da câmera, trazendo, com isso, risadas involuntárias por parte do espectador. Tais sequências são uma verdadeira bagunça e, ainda que o desenho de produção faça o máximo para torná-las mais épicas, com as armaduras reluzentes dos cavaleiros de Camelot, em contraponto com os tons mais escuros daqueles de Malagant, não há como se entregar, de fato, para cenas as quais enxergamos como extremamente artificiais.

Essa artificialidade se estende para o ato final, especialmente no que tange o papel interpretado por Sean Connery, com ações excessivamente dramáticas, que mais nos lembram trechos de novelas. A cereja no topo do bolo é a montagem do clímax, que oscila de um foco a outro sem se decidir o que mostrar, como se tivessem filmado inúmeras cenas, decidindo apenas depois o que fariam com elas. A obra, nesse ponto, já perdeu todo o atrativo que demonstrara nas partes iniciais e toda a grandiosidade almejada é jogada aos ventos.

Com um bom início, que vai se perdendo conforme avançamos na projeção, Lancelot – O Primeiro Cavaleiro ainda pode ser aproveitado como um entretenimento descontraído. Dificilmente, porém, o espectador irá se entregar ao ponto de acreditar em muito que vê em tela, seja pela decupagem de Jerry Zucker ou pelo ritmo apressado que toma conta da segunda metade do filme. A lenda do Rei Arthur está longe de ser retratada da maneira ideal aqui, mostrando que poucos são aqueles que acertam nessa adaptação.

Lancelot – O Primeiro Cavaleiro (First Knight) — EUA/ Reino Unido, 1995
Direção:
 Jerry Zucker
Roteiro: William Nicholson
Elenco: Sean Connery, Richard Gere, Julia Ormond, Ben Cross, Liam Cunningham,  Christopher Villiers,  Valentine Pelka, Colin McCormack
Duração: 134 min.

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