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Crítica | Legítimo Rei

por Rodrigo Pereira
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SPOILERS!

Desde os primórdios do cinema no século XIX com os irmãos Lumière, histórias sobre reis, cavaleiros, guerreiros e figuras semelhantes, reais ou fictícias, estiveram presentes nos longas dos mais diversos diretores dentre os mais diversos gêneros. Monty Python em Busca do Cálice Sagrado, Troia, 300 e Coração Valente são alguns nomes que me vêm à mente num breve exercício de recordação. Quando comecei a assistir Legítimo Rei, portanto, já esperava ver espadas, armaduras, batalhas, abusos de poderes monárquicos e afins. O que não esperava, no entanto, era que o mais recente longa de David Mackenzie (responsável pelo magnífico A Qualquer Custo) se resumisse apenas a isso.

Legítimo Rei é baseado em eventos reais e a trama acompanha Robert The Bruce (Chris Pine), um rei escocês do século XIV que lutou pela independência de seu país contra o controle da Coroa inglesa. Depois da morte de William Wallace (sim, o mesmo de Coração Valente), porém, The Bruce vê como insustentável o pacto recém estabelecido de paz com os ingleses e começa a formar um exército disposto a tornar a Escócia independente novamente. A história começa a ser contada de uma forma bastante interessante, numa cena inicial com um belo plano sequência sobre a retomada do poder inglês sob os escoceses que cria uma grande expectativa e nos faz pensar: “aí vem mais um filme do nível de A Qualquer Custo”. Infelizmente, expectativa não é correspondida.

Após o ótimo plano sequência, é como se David Mackenzie tivesse desistido do projeto e entregado nas mãos de alguém iniciante na arte da direção. Não há qualquer aspecto técnico que mereça destaque porque simplesmente não existe nada a se destacar, é absolutamente comum e clichê, desde montagem e edição até o roteiro. É difícil de acreditar que estamos falando do mesmo diretor do filme que recebeu quatro indicações ao Oscar de 2017, incluindo de Melhor Filme.

Para exemplificar, pode-se citar a cena da morte do pai de Robert The Bruce (James Cosmo), que está conversando emocionado com seu filho em frente a lareira e, de repente, fecha seus olhos cheios de lágrimas e morre. Assim, de uma hora para outra em meio a um diálogo, quebrando totalmente o clima emocionante da situação e dando a clara impressão que ele precisava morrer para seu filho tornar-se rei de uma vez porque o roteiro assim exigia. Ou na cena em que William Wallace é mostrado esquartejado em praça pública e um grande tumulto acontece com o então príncipe Robert em meio a confusão.

Os guardas, tentando controlar a ira popular, começam a atacar covardemente os camponeses (vale ressaltar o quão explícitos e convincentes são os golpes, algo positivo na obra, afinal) e conforme a situação vai se aproximando de seu clímax, a câmera começa a fechar no rosto do protagonista e… há um corte para o castelo do rei escocês com sua corte real. Novamente, sem explicação e acabando com todo o clima da cena. Essas falhas acontecem frequentemente, tornando-se irritantes e previsíveis. A escolha de Margareth (Rebecca Robin) de ficar ao lado de seu recém marido, Robert The Bruce, quando este declara guerra a Inglaterra é outro ponto mal construído, já que eles estavam juntos há pouco tempo e a própria Margareth mostrou-se totalmente desconfortável com a união forçada desde o início (não existe, portanto, razão aparente para apoiá-lo de forma tão efusiva como ela o faz).

Ao longo das duas horas da obra não temos muitos pontos a destacar além das batalhas entre escoceses e ingleses, que são realmente boas. No geral, as atuações cumprem seus papéis, porém sem grande momento de destaque, tal qual a parte técnica que é digna de elogios somente na sequência inicial. Legítimo Rei é uma obra sobre reis e impérios decepcionante e estereotipada com muito ferro e testosterona, mas nada além disso (nem mesmo a nudez frontal de Chris Pine, causadora de relativo alvoroço nas redes, faz jus a tudo o que foi falado). Mais uma obra original Netflix completamente esquecível.

Legítimo Rei (Outlaw King) — Estados Unidos, Reino Unido, 2018
Direção: David Mackenzie
Roteiro: Bathsheba Doran, David Mackenzie, James Maclnnes, David Harrower, Mark Bomback
Elenco: Chris Pine, Stephen Dillane, Rebecca Robin, Billy Howle, James Cosmo, Aaron Taylor-Johnson
Duração: 121 min.

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