Home QuadrinhosArco Crítica | LJA #10 – 15: A Pedra da Eternidade (1997)

Crítica | LJA #10 – 15: A Pedra da Eternidade (1997)

por Luiz Santiago
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Depois de Sonhos Americanos, um arco sem grandes ligações internas ou grandes ideias em execução, o escritor Grant Morrison investiu em uma jornada realmente interessante, a sua primeira grande aventura no run da série LJA Vol.1. Trabalhando de maneira ordenada com os acontecimentos já estabelecidos para esta versão da Liga nos arcos anteriores, o autor usou um de seus truques mais legais, a manipulação da percepção do leitor sobre o que está acontecendo na história, criando variações da realidade para que sentimentos diferentes e novas decisões (algumas até chocantes, como a que acontece no final) aconteçam.

Infelizmente dois grandes impactos negativos imediatos assaltam o leitor. O primeiro deles é a sugestão (e depois confirmação e lamento) de que a Mulher-Maravilha foi morta, o que, considerando o enredo, deve ter acontecido pelas mãos de Neron entre a primeira e a última edição desse arco, em uma elipse absurda e enervante que tem um resultado tremendamente desalentador para o público. Algo de tamanha importância precisa ser bem estruturado em um roteiro, não apenas jogado como isca para o futuro, como sabemos que foi o caso. Por mais indulgente que sejamos com Morrison, é impossível achar essa decisão de enredo verdadeiramente válida. E como decisões ruins geralmente não chegam sozinhas, temos outro “carro na frente dos bois aqui”, com a exposição de Aztek já membro da Liga, uma entrada que aconteceu na revista Aztek: The Ultimate Man #10, escrita por Morrison e Mark Millar. Pois é. Algo tão importante quanto a entrada oficial de um membro do grupo tendo acontecido fora da revista oficial da Liga… a esta altura do campeonato… simplesmente não dá para aceitar (e não vamos usar incursões passadas como exemplo, porque isso nunca funcionou).

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O que sobrou dos heróis em um futuro alternativo onde Darkseid reina absoluto.

Mas deixando de lado essas duas decisões ruins, o que temos em A Pedra da Eternidade é uma espécie de Dias de um Futuro Esquecido da DC Comics, com uma grande quantidade de ingredientes relacionados à manipulação do tempo e jogos cênicos de grande qualidade visual, apenas com um ponto destoante, entre as edições #13 e 14, que é a extensão demasiada e um pouco chateante da saga na Terra alternativa, com várias linhas de plano em andamento, ao invés de uma só, que seria o bastante para colocar todos os heróis no mesmo lugar. Com tantas coisas acontecendo, é claro que a finalização do enredo contaria com dois impasses básicos de tramas megalomaníacas: histórias deixadas incompletas (mesmo sendo alternativas, precisavam ter contexto. Se foram adicionadas na trama central, então a necessidade de desenvolvimento é imperiosa, isto é  a pedra angular da coerência narrativa em roteiros!) e a esperada correria na hora de resolver o caso.

Mas esta é uma história incomum, daquelas que funcionam muitíssimo melhor depois que chegamos ao final. E isso não ocorre pela grandiosidade dos eventos. Notem que a coisa de maior grandeza em todo o arco ocorre na parte que tem problemas de ritmo, ou seja, o mundo de Darkseid. A questão com o final é que ele amarra de maneira tão inesperada e tão… humana as pontas do texto, que é impossível o público não se sentir tocado pela incursão da fragilidade dos heróis, pelas dúvidas sobre permanecer ou não no grupo, pelas auto-demissões e pelo anúncio que deixa a todos com muitos pontos de interrogação no rosto, no quadro final da última edição. E ainda temos um fator surpresa após as conversas do Superman com Lex Luthor e com o Homem-Hora (Matthew Tyler), algo que já mostra ter relações com o futuro do grupo. Os problemas, nas histórias de Grant Morrison, jamais se resolvem. Eles são pequenas janelas para impasses ainda maiores.

O trabalho de Howard Porter (desenhos) e John Dell (finalização) segue impecável. Os artistas compensam a predileção por quadros menores de ação (o fato de evitarem painéis e páginas duplas os ajuda a diagramar a história para dar uma forte noção de condensação de tempo, visto a disposição dos desenhos dentro desse menor espaço, valorizando os quadros maiores, quando aparecem) e sempre procuram alterar os grupinhos de personagens, evitando momentos com o “time reunido”, o que particularmente acho estranho, mas ao mesmo tempo, curioso. Em consequência, essa opção dos artistas em valorizar ajuntamentos menores ou os heróis isolados dá à arte uma identidade bem mais íntima. As cores de Pat Garrahy, posteriormente junto com o estúdio Heroic Age mantém o ambiente sóbrio durante todo o tempo, alterando essa impressão apenas pelos uniformes dos heróis e pelas cenas de manifestação de poder, explosão ou mágica.

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Porco-Borracha. O melhor super-herói de todos os tempos.

Trazendo realmente a cara de Grant Morrison, A Pedra da Eternidade é uma história de teste emocional, especialmente para Connor, o novato Arqueiro Verde (nem vou citar Aztek porque… vocês sabem…) e também para Wally, que vira e mexe tem problemas de alto-estima. A urgência dos acontecimentos e a qualidade com que os diálogos mais as situações de conflito e paz se sucedem ao longo de toda a edição #15 (a melhor revista de todo o arco, mostrando o quão grandioso é o Caçador de Marte) garantem um perfeito fechamento e dão à história algo que inicialmente ela parecia que não iria ter: um bom ajuntamento de ideias aparentemente soltas. Mesmo com o exagero de tempo na realidade alternativa e com as ações em elipse, a saga termina de maneira tão inteligente que essas lombadas passam a ter um peso menor. E como se não bastasse, o autor ainda consegue plantar a semente da ansiedade para o que vem a seguir.

Liga da Justiça da América: A Pedra da Eternidade (JLA Vol.1 #10 – 15: Rock of Ages) — EUA, 1997 – 1998
No Brasil: Os Melhores do Mundo #16 a 18 (Editora Abril, 1999)
Roteiro: Grant Morrison
Arte: Howard Porter (com Gary Frank e Greg Land na edição #15)
Arte-final: John Dell (com Bob McLeod na edição #15)
Cores: Pat Garrahy, Heroic Age
Letras: Ken Lopez
Capas: Howard Porter
Editoria: Dan Raspler, Peter Tomasi, L.A. Williams
24 (edições #10 a 14) e 42 (edição #15) páginas

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