Home QuadrinhosArco Crítica | Liga da Justiça Internacional #14 – 22: Compre… ou Morra (1988)

Crítica | Liga da Justiça Internacional #14 – 22: Compre… ou Morra (1988)

por Luiz Santiago
551 views

Depois do ridículo arco Quem é Maxwell Lord?, a dupla de engraçadinhos Keith Giffen e J.M. DeMatteis conseguiram encontrar um caminho bem mais interessante para escalar os heróis da Liga da Justiça Internacional. Com uma premissa inesperada — alguns até podem ver aqui uma crítica ao consumismo, mas eu acho que a intenção dos autores era mesmo fazer graça com um vilão comerciante — e diferentes frentes de luta (bem desenvolvidas a maior parte do tempo), chegamos, depois de 14 edições da Nova Liga, a uma história que realmente vale a pena. Uma história onde os erros incomodam menos e é possível se divertir e rir muito mais.

Logo no início vemos o roteiro se destacar pela apresentação orgânica de um problema para a LJI, desta vez, representado pelo Lord Manga Khan, um mercador intergaláctico com poderes telepáticos e capacidade de mudar seu estado de matéria para gasoso (!), que dá um ultimato de comércio à Terra, colocando novamente as nações em conflito, discutindo se deveriam ou não aceitar a proposta. Em paralelo, ocorre a adição de mais duas heroínas na Liga, ambas do decadente Guardiões Globais: a brasileira Beatriz Bonilla da Costa (cujo nome heroico mudou através das edições, de Flama Verde/Fúria Verde para Fogo) e a norueguesa Tora Olafsdotter (que mudou de Dama de Gelo para Gelo), uma dupla nos chama atenção pela amizade e pela dicotomia vista na parte emotiva, aliada aos elementos que cada uma manipula.

G’Nort, que apareceu no arco passado, surge aqui com um tipo crescente de importância, algo que o destacaria na Liga, caindo rapidamente nas graças do público pelo seu tipo pateta (e confesso que não desgosto dele, embora o roteiro exagere aqui e ali em suas trapalhadas e estupidez). Os ânimos se agitam na batalha contra as tropas comerciais de Manga Khan, um dos pontos altos dessa versão da Liga desde a estreia, em Um Novo Começo. Pela primeira vez, o texto de Giffen e DeMatteis consegue criar uma sequência fluída de eventos em dois lugares e este acerto veio em um momento difícil, com uma parte do grupo no espaço (Caçador de Marte, Soviete Supremo e Capitão Átomo mais a surpresa de G’Nort, que aparece do nada para ajudar) e outra parte lutando na Austrália (Gladiador Dourado, Besouro Azul, Senhor Milagre, Fogo e Gelo — as duas últimas tendo que provar para os homens que são úteis e capazes de fazer parte da Liga).

plano critico khan manga cluster liga da justiça

Belíssimo painel do Cluster, o QG de comércio intergaláctico de Lord Manga Khan.

Ao longos das edições, esse tipo de discussão social volta a aparecer no meio dos eventos grandiosos e do humor que marcou esta era da Liga da Justiça. Vemos um ou outro herói ser acusado de sexismo; vemos uma boa reflexão sobre a guerra, no crossover (este sim, representado de maneira orgânica!) com a saga Invasão! e um interessantíssimo conflito de gerações, com a adição do Gavião Negro à equipe. Sua relação com os jovens, suas lembranças do passado, a impaciência do Batman, que volta bem representado, após os autores estragarem completamente com ele no último arco… todos esses pequenos detalhes vão tornando a história mais interessante e divertida, tanto que aceitamos passar por cima da intragável presença de Maxwell Lord (ainda não entendo como este homem tem acesso, relação e poder sobre o grupo) e o desaparecimento de alguns personagens, mais a tentativa dos escritores em remendar isso, como no caso da Canário Negro.

Nessa esteira, não dá para deixar passar a péssima explicação do “desaparecimento” de Guy Gardner na edição #15, seu contato com Batman e a abruta ação em elipse que empurra o Morcegão e alguns membros da Liga para investigar o ditador Rumaan Harjavti, da nação de Bialya (esta parte da saga se passa logo depois do péssimo e deplorável Anual #2, cuja crítica vocês podem ver logo abaixo). De todo modo, é interessante ver os heróis disfarçados, especialmente Gladiador Dourado e Besouro Azul, e notar que o roteiro faz com que os acontecimentos em Bialya sigam de maneira simples, mas com eventos bem arquitetados. O problema é mesmo a premissa para a chegada, pois essa viagem brotou do nada. Mas o que acontece ali é bastante interessante. Se aceitarmos bem isso, é possível apreciar a mistura de James Bond e, pasme, todos os ingredientes estereotipados de missões americanas em nações orientais.

A finalização do incidente em Bialya se destaca pela mudança política envolvida e pelo elemento 007, quando o leitor lembra das mudanças de regime e alterações de líderes em governos das republiquetas de bananas ou de lugares onde golpes de Estado e manipulação da população para uma adequação política viciosa são comuns. A golpista assassina Queen Bee (lá de Os Zangões da Abelha Rainha, de 1963), assume o governo como uma benfeitora para o seu povo. Ela é uma personagem curiosíssima e tem algumas cartas na manga, tanto no domínio da geopolítica mundial quanto no campo de pesquisas científicas e trato com super-heróis. Infelizmente ainda é difícil engolir a presença de Fogo Fátuo em toda essa jogada. A “raiva” pelos Guardiões Globais terem sido dispersos não justifica essa transformação do ex-herói em um vilão ideologicamente manipulado. A não ser que ele esteja fingindo.

apokolips plano critico liga da justiça internacional

Batalha em Apokolips: um dos melhores momentos da LJI.

Ainda melhor do que este bloco, temos a missão espacial com Barda a bordo da nave da Liga para salvar seu esposo, o Senhor Milagre. A arte e a finalização alcançam nessa fase espacial toda a sua glória. Aliás, é a primeira vez que os desenhos dessa versão da Liga impressionam e a grandeza de naves, planetas e batalhas são bem utilizadas e entretém o leitor, algo bem distante da tenebrosa fase espacial no crossover desse grupo com a saga Millennium. A cereja do bolo vem com a inserção de Lobo na história.

É muito bom ver que paralelo ao sequestro de um membro da LJI, temos uma tentativa de reestrutura do grupo e uma nova forma de os autores fazerem as coisas andar. Mesmo com a presença forte de Max e a não-explicação do por quê Guy Gardner ficou com o “cérebro de tapioca“, como diz o Besouro Azul (e sim, a mudança para o “Bad Guy” não é nem um pouco bem-vinda. O personagem deveria ficar com o cérebro de tapioca para sempre… mas o que falta aqui é contexto), a trama consegue fazer com que nosso olhar tenha maior peso para as coisas boas, algo inédito até agora. No final, o humor se redireciona para uma tentativa de aumentar o poder de luta da Liga. Gladiador e Besouro tentam o Flash (Wally) e Batman tenta o casal Gavião, que aceita juntar-se ao time.

A ótima luta em Apokolips para salvar Scott Free e o encerramento do arco com a Liga de Comércio de Khan vem junto com personagens icônicos do planeta de Darkseid, como os Parademônios, Vovó Bondade, Virman Vundabar e Kanto, todos fazendo por merecer seus momentos nas páginas. E para quem leu o arco O Chamado do Destino + a sequência Invasão! na revista da Mulher-Maravilha escrita por George Pérez, ficará muito feliz em ver aqui o outro ponto de vista, com um prequel e sequel daqueles eventos. Até Oberon tem destaque merecido e bem executado na edição #22! Pela primeira vez desde que começaram a fase cômica em uma Nova Liga, Keith Giffen e J.M. DeMatteis escrevem algo que deixa o leitor realmente animado para continuar acompanhando a série.

Liga da Justiça Internacional #14 a 22 (Justice League International Vol.1) — EUA, junho de 1988 a janeiro de 1989
Roteiro: Keith Giffen, J.M. DeMatteis
Arte: Steve Leialoha (#14 e 15), Kevin Maguire (#16 a 19,22), Keith Giffen (#18), Ty Templeton (#20 e 21)
Arte-final: Al Gordon (#14 a 19), Joe Rubinstein (#20 a 22)
Cores: Gene D’Angelo
Letras: Bob Lappan
Capas: Steve Leialoha, Al Gordon, Kevin Maguire, Ty Templeton
Editoria: Andrew Helfer
24 páginas (cada edição mensal) / 50 páginas (anual)

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais