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Crítica | Liga da Justiça #1 – 7: Um Novo Começo (1987)

por Luiz Santiago
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  • IMPORTANTE: Depois da edição #6, o título é originalmente renomeado para Liga da Justiça Internacional, seguindo o cumulativo de numeração.

Reformular um grupo como a Liga da Justiça não é uma tarefa fácil e para chegar a esta conclusão não é preciso ser um gênio ou ter um profundo conhecimento do que aconteceu na DC Comics entre a Crise nas Infinitas Terras e o momento em que a editora bateu o martelo para a criação da nova da mega-equipe, com novos heróis e tom de roteiro completamente diferente do que havia antes, adaptando-se às “necessidades do mercado”. A tarefa desta empreitada ficou nas mãos de Keith Giffen e J.M. DeMatteis, que juntos, escreveram o roteiro; e de Kevin Maguire, responsável pela arte.

Com um tom cômico, mesmo ao falar de coisas sérias, os autores iniciaram esta nova jornada da Liga com brigas e disputas para ver quem ia falar; quem mandava em quem; sobre o que iriam falar ou o quê iam fazer. Iniciada pelo pouco amado Lanterna Guy Gardner, a primeira briga só é interrompida com a chegada de Batman ao lado do Senhor Destino, que diz que pode colocar fim à balbúrdia e é interrompido com um simpático “permita-me…“, do Morcegão, que coloca fim à contenda de maneira rápida e com uma demonstração de moral como poucos heróis da DC Comics possuem (aliás, só consigo ver tamanho moral e respeito geral de quem quer que esteja perto em mais outros dois: Superman e Mulher-Maravilha).

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Moral: ou você tem ou você não tem. E só para constar, a participação do Batman nesta versão da Liga só vale por esta cena e pelo histórico nocaute.

Por mais que tudo seja estranho e difícil de processar, esta formação inicial da Liga até que chama a atenção nas duas primeiras revistas, conquistando alguma simpatia do leitor, se ele está aberto à nova experiência. Claro que o desenvolvimento desta história, que se estende até a edição #7: Justice League… International!, não se mantém tão vigorosa como no início, tendo inclusive partes bem ruins no desenvolvimento. Contudo, o mistério em torno do estreante Maxwell Lord e seu acesso inexplicável ao Santuário Secreto + o fato de ele “empurrar” alguns heróis para a Liga nesse começo — e torná-la internacional no fim do arco — é o bastante para despertar a curiosidade. Mesmo depois de algumas campanhas um pouco sem sentido, chega-se a um final positivo.

Existem duas versões e dois nomes para a Liga neste momento. As edições #1 a 6 recebem apenas o nome de Liga da Justiça, enquanto a edição #7 tem o “Internacional” acrescentado ao título, mudando, inclusive, a nomenclatura da revista, embora a editora tenha mantido a sequência de numeração. Quanto à equipe, existem dois times iniciais. O primeiro, tem essa configuração:

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Cena histórica: Batman socando Guy. E a reação do Besouro Azul não tem preço.

No final da saga, com as movimentações suspeitas, mas ditas “de boa vontade”, feitas por Maxwell Lord, temos a adição de mais dois membros na equipe, o Capitão Átomo (Nathaniel Adam) e o Soviete Supremo N°4 (Dmitri Pushkin), seguido da saída do Senhor Destino e do Capitão Marvel e da passagem da chefia do Batman para o Caçador de Marte. Como disse antes, mesmo tropeçando, o roteiro consegue ajustar as coisas para gerar curiosidade no leitor, conseguindo isso mesmo que tire de cena um ótimo personagem como o Capitão Marvel, com seu lado inocente, cômico sutil e eficiente… a única saída que realmente lamentamos. Em compensação, permanecem os interessantes Besouro Azul (sempre com boas tiradas, um dos poucos personagens, junto com Batman e Caçador de Marte, a não sofrer com as forçadas cômicas do roteiro) e Gladiador Dourado, que mesmo não sendo uma criança no corpo de um super-herói, apresenta o mesmo nível de sutileza e… digamos… fofura que o Capitão Marvel apresenta, guardadas as devidas proporções de comportamento vinda de cada idade, claro.

O maior impasse deste arco é que o caminho trilhado para a junção desta equipe parece, em sua maioria, forçado, com um tom épico repentino, sem muita atenção à construção narrativa e com dois momentos bem ruins vindo da caracterização de Guy Gardner na trama (e aqui falo completamente à parte à minha colossal antipatia por ele, analisando apenas a sua funcionalidade como herói na história). Primeiro, ele se porta de maneira que de fato atrapalha o grupo e chega a não fazer muito sentido a sua presença ali após a primeira luta contra os terroristas de discurso moralmente instigante da edição #1 — e um pouco, só devido ao histórico do personagem contra os soviéticos, na luta contra os Avanteadores / Campeões de Angor / Meta Milícia / Justifiers (cópia descarada dos Vingadores da Marvel), formado por Gaio (Blue Jay), Feiticeira de Prata (Silver Sorceress) e Wandjina, que acontece no país de Gorbachev. Já nas últimas duas edições, após um cameo de Hal Jordan, Guy muda abrupta e incomodamente de comportamento. Toda a graça que poderia vir de algo escondido por ele se perde pelo exagero e pela forma extremamente caricata como o roteiro o representa sendo bonzinho com todo mundo. Faltou um meio termo.

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Com caráter de “Internacional”, a Liga da Justiça termina este arco praticamente comendo na mão de Maxwell Lord, mantida unida por interesses privados e de Estado.

A diagramação e todo o projeto artístico destaca bem os reportes de imprensa questionando a nova Liga (elemento metalinguístico, fazendo do repórter a possível voz negativa do leitor), bloco encabeçado por Jack Ryder, que também tem uma ótima participação como Rastejante na luta sem graça do grupo contra o Homem Cinza.

Há algumas poucas boas piadas e situações na história como a primeira brincadeira do Besouro com o Batman sobre Star Trek (devidamente respondida pelo Morcegão, o que é uma surpresa) e há alguns bons conceitos típicos dos anos 80, como as generalizações e polaridade típicas da Guerra Fria (Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev aparecem na história); discursos de paz aliados ao medo dos programas nucleares (este arco começa a ser publicado praticamente um ano depois do acidente nuclear de Chernobyl); desfaçatez e ridicularização dos “inimigos da América”, como no caso da soviética Rocket Red Brigade e da ridícula Gangue de Espadas (Gangue Royal Flush) ou colocação de militares loucos pela dominação mundial, como o Coronel incitador da guerra Rumaan Harjavti, da fictícia nação de Bialya.

Se olharmos com atenção para a ideia por trás desta nova Liga e para o tempo em que ela apareceu, entendemos muita coisa sobre as escolhas dos autores e o por quê de determinados assuntos serem tratados aqui com muita ênfase, mesmo que eles não funcionem muito bem na história. Para todos os efeitos, este é um arco que vale a pena conhecer, nem que seja para torcer o nariz, ver o começo de estranhas mudanças em grupos icônicos dos quadrinhos e, pelo menos para uma boa parte do público, odiar Guy Gardner um pouco mais.

Liga da Justiça: Um Novo Começo – Edições #1 a 7 (Justice League: A New Beginning #1 – 7) — EUA, maio a novembro de 1987)
Roteiro: Keith Giffen, J.M. DeMatteis
Arte: Kevin Maguire
Arte-final: Terry Austin (#1), Al Gordon (#2)
Cores: Gene D’Angelo
Letras: Bob Lappan
Capas: Kevin Maguire, Terry Austin, Al Gordon
Editoria: Andrew Helfer
24 páginas (cada edição)

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