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Crítica | Loki (2010)

por Gabriel Carvalho
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Contém spoilers.

Talvez o maior acerto de Loki, minissérie de 2010 (não confundir com a minissérie homônima de 2004), seja a forma como explora as raízes do personagem título, sem nunca diagnosticá-lo como culpado integral de seus próprios pecados. O Deus da Trapaça, célebre por dar início ao famoso grupo de super-heróis Os Vingadores, recebe com essa minissérie, um extremamente adequado estudo de sua psicologia; um reflexo – parcial – do tratamento de seus próximos perante a ele. Marginalizado por seu pai adotivo Odin, a história tem a intenção de abordar o que fez com que o personagem tornasse o que se tornou; das primeiras brincadeiras de mau gosto ao ponto de virada definitivo.

A premissa nos leva a um Loki em refúgio, com memórias distorcidas, em extrema degradação física e mental. O primeiro pensamento que nos veem, durante o diálogo do mesmo com Thor, que surge no esconderijo de seu irmão, é de pena. Roberto Aguirre Sacasa utiliza este momento da história do Deus da Trapaça para retornar ao seu passado, invocando a ameaça do Ragnarok, tão relembrada pelas décadas de quadrinhos asgardianos que lemos desde os anos 60. Sacasa acaba sacrificando um pouco o ritmo em prol do argumento, mesmo que as edições 2 e 3 criem uma narrativa concisa, e o final retoma o começo de forma cíclica.

O desenvolvimento do enredo, portanto, é muito bem conduzido, sendo inteiramente recheado de diálogos fortes e monólogos mais poderosos ainda. A manipulação de Loki sobre Balder é excepcional e a arte de Sebastián Fiumara realça as nuances maquiavélicas do Laufeyson. Atentem-se à criação dos figurinos e como as clássicas vestimentas dos personagens ganham um ar mais realista e medieval aos olhos do ilustrador. Sacasa, ao recriar a morte de Balder, investe em artifícios narrativos competentes, e dá mais peso à queda do irmão de Thor. A chegada das Valquírias ao encontro do Bravo é um momento de encher os olhos; belíssimo.

Além de Balder, outros personagens recebem momentos memoráveis. São eles: Hoder, deus cego “responsável” pela morte do Bravo, e Odin, a divindade máxima; o Pai de Todos. Pela parte de Odin, tanto o choro solitário após a morte de seu filho, quanto o último adeus, prosseguido pelas suas últimas palavras, são representações emocionantes da dor envolta da perda. Já Hoder possui uma trágica história, cercada de podridão, tanto por parte dele quanto por parte dos outros; absolutamente triste o que lhe aconteceu e o que lhe acontece.

Por outro lado, o Poderoso Thor não tem a imponência, pelo menos em termos de empatia, que lhe deveria ser atribuída. Ele recebe uma posição extremamente antagônica a Loki, a qual não o torna relacionável ao público. Suas atitudes são muito questionáveis, o que cria similaridades entre ele e o Deus da Trapaça, uma vez mais palhaço do que mal, porém, que ao mesmo tempo, não favorece pelo discurso que quer ser criado por Sacasa. Ao menos, o seu encerramento na minissérie é digno do personagem.

Loki é uma experiência imersiva no passado de um dos maiores vilões da Marvel Comics. Em um universo mais mitológico que super heroico, Roberto Sarasa recria momentos pontuais do personagem com extrema originalidade, dando força a uma figura já bastante conceituada dentro do universo de super-heróis. A arte de Sebastián faz paralelo com a intenção de Roberto, ao tornar a visão de ambos mais medieval que cartunesca, soando como a pintura de antigos quadros nórdicos. O estudo de personagem, no entanto, é o principal motor da minissérie e o maior acerto da obra.

Loki  — EUA, 2010-2011
Contendo: 
Loki (2010-2011) #1 a 4
Roteiro: Roberto Aguirre Sacasa
Arte: Sebastián Fiumara
Arte Final: Michel Lacombe, Alvaro Lopez
Letras: Joe Sabino
Cores: José Villarubia
Capas: Travel Foreman, Nathan Fairbairn
Editora original: Marvel
Datas originais de publicação: dezembro de 2010 a maio de 2011

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