Home FilmesCríticas Crítica | Lucy (2014)

Crítica | Lucy (2014)

por Iann Jeliel
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Lucy

A premissa de Lucy é tão absurda quanto instigante. Ora, o que aconteceria se atingíssemos 100% da nossa capacidade cerebral? Viraríamos um Superman, ou uma Supergirl? Na realidade, certamente não. Por isso, é preciso pular a parte da verossimilhança se quiser tirar proveito do novo longa-metragem de ficção cientifica de Luc Besson, que parcialmente retoma as origens ao utilizar essa quase teoria da conspiração, plenamente cafona (cientificamente é comprovado que usamos MUITO mais do que 10% de nosso cérebro, inclusive quando estamos dormindo), para apresentar teoricamente sua “femme” mais “fatale” da carreira.

Em outras palavras, Besson está devidamente mais interessado nas possibilidades fantasiosas do conceito para seu antigo estilo de ação recheado de protagonistas femininas fortes e reativas a um universo de espionagem/máfia, do que exatamente explorar o preceito científico da teoria para obter discursões existencialistas da limitação de nosso conhecimento, embora, essa parte, também esteja presente para fornecer entretenimento. O personagem de Morgan Freeman é devidamente escalado para isso. Certamente selecionado por ser apresentador da série Through the Wormhole, o ator está ali para viver um pseudocientista do filme, fornecendo explicações didáticas das possibilidades da premissa. É restritamente superficial e ingênuo porque o objetivo efetivo das explicações, no intercalar da montagem, é fornecer uma curiosidade como funcionará a escalada de porcentagem a medida da progressão da história de vingança de Lucy (Scarlett Johansson) contra os mafiosos responsáveis por fazê-la inserir a droga que possibilitou o aumento da capacidade cerebral.

De fato, enquanto Lucy aposta nessa dinâmica da explicação rasa com a consequência direta nas cenas de ação na trama principal, ele é devidamente estimulante e inventivo, pensando na maneira objetiva a qual Besson lida com a amarra de pontas de trama, sem rodeios, pensando sempre numa construção muito imediata da linguagem e a forma assumidamente comprometida a dar interlúdios a cada momento narrativo como reforço do caráter “pipocão” hollywoodiano. Por outro lado, é inegável que existe alguma pretensão maior do diretor com o material, seja para fornecer comentários elucidativos da força feminina no constante ambiente que a circunda de periculosidade – é só ver as demonstrações na ação, onde os “superpoderes” de Lucy a faz supera os inimigos literalmente por capacidade intelectual –, seja nas ramificações filosóficas da teoria infundamentada constatada.

Em ambos os pontos, o filme definitivamente tem problemas. Primeiro porque o tratamento da feminilidade soa particular demais, o que é coerente se pensarmos na preservação de um lado meio B do Besson de origem noventista, mas ainda é decepcionante, ao explorar muito pouco perspectivas alheias do mundo ao ver uma mulher com tais capacidades, algo que forneceria levantamentos didáticos para esse lado do discurso da “mulher vs sociedade” que vez ou outra fica subjetivo apenas pela circunstância. Faz falta porque não faz sentido isso ser escondido e as passagens de National Geografic serem reiteradas em importância no ato final, mesmo sem terem buscado qualquer fundamentação dramática. Na conclusão, o filme definitivamente se leva a “sério” demais, no sentido, de acreditar que o formalismo entretivo trará reflexões abranges ao seu público sobre a temática, que a princípio era secundaria, quebrando á logica imersiva de tudo.

Como dito, existe na intenção, trazer essa curiosidade do debate científico como forma de entretenimento, tanto que para o leigo é um típico filme para sair depois da sessão e trocar perguntas retoricas. Acredito, que faça parte da proposta esse instigue, mas que no final fica sem qualquer direcionamento relevante se não o engajamento por apelo superficial, sendo que este poderia clamar um apontamento para o estigma da mulher “superior” na sociedade, até para tornar Lucy tão icônica quanto Nikita (Nikita: Criada Para Matar), Leeloo (O Quinto Elemento), Mathilda (O Profissional) ou outras grandes personagens femininas do francês. Scarlett Johansson é um acerto e tanto de casting para essa composição ainda ser eficaz somente pelo visual despojado, alinhando assim a força do restante de Lucy em proporcionar um entretenimento através de estímulos primitivos de um bom escapismo.

Lucy (Idem | França, 2014)
Direção: 
Luc Besson
Roteiro: 
Luc Besson
Elenco: 
Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Min-sik Choi, Amr Waked, Julian Rhind-Tutt, Pilou Asbæk, Analeigh Tipton, Nicolas Phongpheth
Duração:
 89 min

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