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Crítica | Lupin III – O Castelo de Cagliostro

por Luiz Santiago
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Lupin III (lê-se “Lupã Terceiro”), foi uma série de mangás escrita e ilustrada por Kazuhiko Kato, sob o pseudônimo de Monkey Punch, publicados em duas ocasiões diferentes no Japão. A primeira, entre  1967 a 1969, e a segunda, entre 1977 e 1981, ambas pela Weekly Manga Action. A história é baseada no universo de Arsène Lupin, personagem literário do francês Maurice Leblanc, que gerou um sem-número de “ladrões cavalheiros” pela história das artes a fora.

Lupin III é neto de Arsène Lupin e, como o avô, faz jus à fama. Com grande dose de humor, engenhosidade, missões e ações impossíveis e vontade constante de roubar grandes tesouros ao redor do mundo, o personagem, ao lado de seus amigos Daisuke Jigen (um ótimo atirador, sempre com olhos ocultos por um chapéu), Goemon Ishikawa XIII (descendente de uma famosa linhagem de samurais renegados) e Fujiko Mine (a garota-ladra que é o amor — quase platônico — de Lupin) foi um verdadeiro evento no Japão desde que foi criado. Diversas séries de TV, filmes live-action, OVAs, videogame e especiais são a prova de que Lupin III é um ícone da cultura japonesa e que também mistura elementos da cultura ocidental.

Hayao Miyazaki e Isao Takahata foram diretores de diversos episódios da primeira série animada do personagem (1971 – 1972) e Miyazaki dirigiu alguns outros da segunda série (1977 – 1980). Por isto, quando assumiu o leme de O Castelo de Cagliostro, o diretor sabia muito bem em que mundo estava entrando e como tratar os personagens principais em toda sua complexidade e manias sem torná-los bobos ou estereotipados.

O Castelo de Cagliostro é uma aventura que mistura elementos de misticismo (sempre presente no mundo de Lupin), crime, sutil sexualidade e aventuras parecidas com as de Tintim — na verdade, este filme me lembrou muito o ambiente de O Cetro de Ottokar — o que evidentemente indica uma sessão bastante divertida. Hayao Miyazaki, em sua velha paixão por castelos, faz aqui um longa que não difere muito das animações morais famosas no Japão desde os anos 60, como Gulliver ou O Gato de Botas.

A animação aqui é cuidadosa, misturando cenas e blocos bem simples com complicados planos de perspetiva, explosões e perseguições. O diretor não fugiu de sua preferência por cenários ou elementos naturais, colocando cenas de grande beleza lírica no longa, especialmente ao final, numa cena de inundação que ecoa elementos de Espetáculo na Chuva.

O Castelo de Cagliostro é uma história curiosa e, se analisada com atenção, traz uma importante crítica social. O roteiro da animação, escrito por Miyazaki e Yamazaki, denuncia o vício das instituições internacionais em tratar determinados problemas, desculpando-se e desviando-se da responsabilidade por algum motivo pessoal ou político. É como se os roteiristas estivessem demonstrando ações da ONU frente aos crimes cometidos por diversas nações ao redor do mundo e que só ganham destaque internacional quando a mídia resolve fazer um trabalho sério de denúncia a respeito. Preste atenção na cena do Inspetor Zenigata junto ao conselho da Interpol e faça a comparação.

Como era de se esperar em uma história de Lupin III, há exagero na caracterização de alguns personagens e na forma de narrar alguns acontecimentos, o que torna o filme parcialmente pouco interessante para o espectador. Mas veja bem, apenas parcialmente. Mesmo com seus exageros, O Castelo de Cagliostro é uma animação divertida, com ótimos momentos de animação, boa trilha sonora e conteúdo crítico interessante. Hayao Miyazaki estava, aos poucos, encontrando o seu caminho para a excelência.

O Castelo de Cagliostro (Rupan sansei: Kariosutoro no shiro) — Japão, 1979
Direção: Hayao Miyazaki
Roteiro: Hayao Miyazaki, Haruya Yamazaki (baseado nos personagens de Maurice Leblanc e graphic novel de Monkey Punch).
Elenco (vozes): Yasuo Yamada, Eiko Masuyama, Kiyoshi Kobayashi, Makio Inoue, Gorô Naya, Sumi Shimamoto, Tarô Ishida, Kôhei Miyauchi, Ichirô Nagai, Tadamichi Tsuneizumi, Kinzô Azusa
Duração: 100 min.

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