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Crítica | Ma Ma

por Guilherme Coral
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estrelas 1

O câncer de mama é um problema real e constante para todas as pessoas do sexo feminino. Atingindo uma a cada oito mulheres, é uma doença que pode se desenvolver muito cedo na vida de qualquer uma, tornando o auto-exame algo essencial para que o avanço da enfermidade seja limitado ou até não-existente. Infelizmente, a falta de instrução, especialmente nos países menos desenvolvidos, acaba aumentando a taxa de mortalidade das portadoras da doença, visto que só a descobrem quando já é muito tarde. Ma Ma nos traz um olhar sobre essa situação, vinda de Julio Medem, que fora médico antes de entrar para a vida de cinema.

Magda (Penélope Cruz) se encontra em um período difícil de sua vida, desempregada e com um marido nada presente, ela é obrigada a cuidar de seu filho, Dani (Teo Planell), sozinha. Sua situação se complica ainda mais quando ela descobre um nódulo em um de seus peitos, que se revela como um câncer. Resta como única alternativa ela realizar uma mastectomia e seu sofrimento aumenta consideravelmente agora que a ideia de viver sem um de seus seios a toma repentinamente. Esse, porém, é, surpreendentemente, apenas o início de seus problemas.

Esse é o exato maior problema de Ma Ma, a forma como insere elementos dramáticos de forma exagerada, como se ansiasse pelo choro do espectador. Não bastasse o câncer, outros elementos são colocados no roteiro a fim de superlotar a narrativa de tragédias, de forma que a realidade da obra se perde, ofuscada por uma necessidade de se tornar o texto cada vez mais triste. Não irei oferecer spoilers, mas chega a ser surreal o azar de Magda, algo que ela própria faz questão de explicitar em falas ao longo do filme, quebrando nossa imersão ao passo que o choro se transforma em risadas em virtude da absurda falta de sorte.

Não bastasse isso, a própria linguagem do longa-metragem se traduz como extremamente dramática. Desde as falas dos personagens, algumas parecendo ser recitadas de um livro, até as cenas retratando o interior do corpo da protagonista, que utiliza uma computação gráfica desnecessária e bastante datada. Uma história que poderia abordar toda a questão da difícil superação que uma mulher precisa passar se transforma em um espetáculo de lágrimas e nada além disso. A problemática do câncer de mama é abandonada em detrimento de uma história completamente “mamão com açúcar”.

A previsibilidade do roteiro também não atua a seu favor. Do início já sabemos que tudo irá dar errado. Medem até tenta nos surpreender com seus constantes plot-twists, mas não consegue e perde nosso engajamento logo na primeira metade da obra, desperdiçando o potencial que contava em suas mãos. Mesmo o trabalho dos atores fica perdido no meio dessa bagunça, visto que a irrealidade de suas falas, aliada a uma trilha exageradamente melancólica (já não bastavam todos os outros elementos?), tira qualquer espaço de uma possível interpretação que se destaque – dessa forma, todo o elenco permanece totalmente subutilizado na produção.

Chega a ser irônico, como um filme que tenta tanto nos atingir, arrancar lágrimas de nós, consegue se transformar em uma experiência que sequer consegue atrair a nossa atenção. Julio Medem joga fora toda a possibilidade de trazer uma bela história sobre a superação de uma complicada doença, optando por realizar um longa-metragem dramático que se destaca somente pelas constantes quebras de imersão que proporciona ao espectador. No fim, ficamos tristes pelo potencial desperdiçado da obra e não pela história que nos conta.

Ma Ma — Espanha/ França, 2015
Direção:
 Julio Medem
Roteiro: Julio Medem
Elenco: Penélope Cruz, Luis Tosar, Asier Etxeandia, Teo Planell, Alex Brendemühl, Anna Jiménez
Duração: 111 min.

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