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Crítica | Mad Max – Além da Cúpula do Trovão

por Ritter Fan
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estrelas 3

O terceiro Mad Max, produzido quando Mel Gibson já começava a firmar sua carreira de ator, é um filme estranho. E não no sentido bom.

George Miller tenta apresentar algo novo, diferente, no lugar de repetir a mesma fórmula dos filmes anteriores, mas o resultado final é, no mínimo cambaleante e isso para usar um eufemismo apenas. Não que um certo frescor na estrutura das aventuras de Max não fosse bem-vinda e aqui eu saúdo Miller e Terry Hayes pelo roteiro que tenta fugir do óbvio. Acontece que, ao justamente tentarem apresentar uma história diferente, um pouco da alma do personagem acaba ficando para trás.

Alguns anos se passaram desde os eventos de Mad Max 2. Não fica claro quanto tempo exatamente, mas é comumente aceito que são 15 anos. Com isso, temos um Max (Mel Gibson) marcadamente mais velho, mais sábio e ainda mais silencioso, efetivamente vestindo o manto do Homem Sem Nome, que marcou a carreira de Clint Eastwood (ele é inclusive chamado de Homem Sem Nome ao entrar na Cúpula do Trovão). A ação começa quando um avião faz um voo raso sobre o carro de Max, puxado por seis dromedários e todos os seus pertences são roubados pelo piloto Jedediah, vivido por Bruce Spence, o mesmo ator que fez o piloto do girocóptero no filme anterior. Eu poderia entrar na discussão eterna se o personagem de Spence é o mesmo que o anterior, mas ela é infrutífera, pois não influencia em nada a narrativa. O fato é que Max acaba chegando, a pé, a Bartertown, cidade que, como o nome indica, vive de trocas. Sem nada para oferecer, Max acaba sendo usado pela dirigente do local, Aunty Entity (Tina Turner com toda sua presença de palco) em um plano para tirar os poderes de Master (Angelo Rossitto), anão que comanda o submundo do local graças ao seu controle sobre a produção de metano a partir de fezes de porcos.

Toda a trama em Bartertown é muito interessante e funciona, com personagens memoráveis como o de Tina Turner e também Master que, junto com Blaster (Paul Larsson), gigante que o carrega nas costas, forma o poderoso MasterBlaster. É particularmente interessante como Miller troca as vastidões desérticas que vemos em Mad Max 2 por um vislumbre de civilização densamente povoado. O trabalho com extras e a coreografia das ações que vemos desenrolar ao longo desses 45 minutos iniciais espelham o balé automobilístico de Miller no filme anterior e a luta entre Max e Blaster na Cúpula de Trovão e uma das mais bem coreografadas lutas que já testemunhei na Sétima Arte. Nada de movimentos artificiais. Tudo parece estar acontecendo de verdade, criando tensão e nervosismo na medida certa, mesmo que qualquer espectador saiba que Max não morrerá.

Mas esse fantásticos clímax acontece cedo demais e, em uma espécie de reviravolta, o filme muda a estrutura narrativa completamente após a luta, com Max exilado no deserto inclemente do outback australiano. George Miller traz, então, aquela aura messiânica para Max que ele já usara no filme anterior, mas que, agora, não tem o mesmo efeito. O encontro do protagonista com uma tribo de crianças vivendo em um oásis no meio do nada tem aspectos interessantes, mas a tentativa de misturar conceitos dos Garotos Perdidos de Peter Pan com um lado de sobrevivência do clássico O Senhor das Moscas acaba resultado em um segundo ato estranho e desconexo demais com toda a mitologia de Mad Max. Além disso, Miller emprega muito tempo na relação desse segundo grupo de personagens com Max e com a introdução de uma “lenda” que é forçada demais, conveniente demais.

Quando essas duas linhas narrativas finalmente se juntam, no terceiro ato, faltam apenas 20 minutos de filme e, então, Miller é obrigado a correr para evitar que seu filme se prolongue por tempo demais. O problema é que o que vemos é bem menos excitante do que a luta na Cúpula do Trovão e parece um final mal pensado.

Talvez o maior pecado tenha sido a “hollywoodização” de Mad Max. Enquanto os dois primeiros capítulos não poupavam o espectador da violência de um mundo pós-apocalíptico, esse atenua tudo. A violência passa a ser cartunesca e simplesmente não há mortes, com a exceção de duas, sendo que uma delas acidental. Não que as mortes sejam essenciais para a narrativa, mas Miller e seu co-diretor George Ogilvie simplesmente fazem malabarismos para mostrar que determinado acidente ou que aquela explosão não matou os envolvidos. A sobriedade do que vimos antes é substituída por um tom de pastelão que simplesmente não combina com a mitologia estabelecida.

No final das contas, Mad Max – Além da Cúpula do Trovão, apesar de ser uma bela produção, com figurinos, set designs e fotografia dignos da franquia, além de introduzir novos e interessantes personagens, desaponta tremendamente. Não chega a ser uma obra intragável, mas provavelmente deixará 0 espectador perplexo com as escolhas feitas. Talvez a música tema, de Tina Turner, estivesse certa e nós não precisássemos mesmo mais de um herói.

Mad Max – Além da Cúpula do Trovão (Mad Max Beyond Thunderdome, Austrália – 1985)
Direção: George Miller, George Ogilvie
Roteiro: Terry Hayes, George Miller
Elenco: Mel Gibson, Bruce Spence, Adam Cockburn, Tina Turner, Frank Thring, Angelo Rossitto, Paul Larsson, Angry Anderson, Robert Grubb, George Spartels, Edwin Hodgeman, Bob Hornery, Andrew Oh, Ollie Hall, Helen Buday, Mark Spain, Mark Kounnas, Rod Zuanic, Justine Clarke
Duração: 107 min.

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