Home TVEpisódio Crítica | Mad Men – 7X13: The Milk and Honey Route

Crítica | Mad Men – 7X13: The Milk and Honey Route

por Ritter Fan
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estrelas 4,5

Obs: Há spoilers do episódio e da série. Leia a crítica das demais temporadas, aqui.

Matthew Weiner toma as rédeas do penúltimo episódio e parte para a direção também, algo que somente havia feito antes em cada final de temporada e em Waterloo que, de certa forma, é um final também, ainda que tecnicamente marque a metade da 7ª temporada. E ele usa seu tempo para, aparentemente, encerrar mais duas linhas narrativas, depois que resolveu as de Peggy e de Joan em Lost Horizon, e amplificar a solidão de Don Draper, mas dando uma nova roupagem. Diferentemente do que fiz até aqui, abordarei cada uma das bem claras linhas narrativas separadamente.

Betty

Quando a bela Betty cambaleia nas escadas de sua faculdade, fica imediatamente claro que algo muito ruim acontecerá com a personagem. Nesse momento, confesso, revirei os olhos e achei que Matthew Weiner cairia na armadilha do sentimentalismo exacerbado agora que a série alcança seu penúltimo episódio. Mas eu já devia estar acostumado com Weiner e, portanto, aprendido que ele não faz ponto sem nó.

Em um primeiro momento, o câncer de pulmão em estágio avançado de Betty soa como uma espécie de moralismo barato pelo fato de a série retratar, basicamente, chaminés humanas, que não param de fumar cigarro ao ponto de eu mesmo sentir o fedor do vício emanando pela tela da TV. Justiça poética. Fica evidente a lição de que fumar mata.

Ainda que essa relação não tenha se dissipado completamente de minha cabeça no momento em que escrevo a presente crítica, fato é que Weiner não trai a personagem que criou. Betty é Betty até o fim, sem concessões. Sua reação ao diagnóstico condiz com toda sua história de distanciamento e frieza. Afinal, Betty erigiu uma fortíssima carapaça ao seu redor ao longo de seus anos se relacionando com Don, especialmente durante a separação. Ela nunca foi de abraços, beijos e choros e não muda com o fatídico anúncio, mantendo-se fiel ao seu caráter.

Mas enganam-se aqueles que acham que ela nada sente. Não demonstrar não significa deixar de sentir. Não demonstrar significa, ao contrário, força extraordinária para enterrar seus sentimentos de maneira a não afetar aqueles ao seu redor. Sim, é frio. Sim, é distante. No entanto, é uma atitude que, no mínimo, inspira respeito. Sally percebe isso, assim como Henry também. Betty será Betty até o fim. Bela, decidida, mãe de família. Subirá as escadas sorrindo, de salto alto e cabelo armado nem que demore uma eternidade!

E sua atitude nos leva a um belíssimo tête-à-tête entre Sally e Henry, quando ele decide, apesar dos desejos de Betty, contar a má notícia à menina. O momento em que ela tampa os ouvidos para não escutar o que já escutou, para não aceitar o que sua mente já está processando é a perfeita mistura de desespero e infantilidade, de sofrimento e negação. Se a atitude de Betty em manter seu escudo levantado é madura, a atuação de Kiernan Shipka como Sally no momento da notícia mostra o perfeito amadurecimento da atriz. Ela cresceu juntamente com o personagem e tem um potencialmente brilhante futuro adiante na televisão e cinema. Do outro lado do espectro, Henry, vivido por Christopher Stanley, é emoção em pessoa, desde sua irritação com o ambulatório da faculdade até sua conversa com Sally, quando explode em lágrimas logo após dizer que não há problema algum em chorar. Fortes momentos. Fortes atuações. Fortes emoções.

Tenho para mim que esse foi o fechamento do arco de Betty. Não mais veremos January Jones no último episódio, pois espero que Weiner dê mais um salto temporal para algum momento depois de sua morte ou talvez até vários anos depois. Não vejo necessidade de mostrar os detalhes do destino da personagem, pois ele já foi bem desenvolvido aqui. O mesmo vale para Sally, que, ao ler intempestivamente a carta deixada pela mãe, recebe os elogios que a frieza de Betty jamais permitira dar. Betty sabe que Sally tornou-se alguém independente e, como ela diz, terá suas próprias aventuras. Impossível não abrir um sorriso lacrimoso nesse momento.

Pete

Do outro lado do espectro, temos Pete sendo assediado por Duck Phillips (Mark Moses). Ou melhor, enganado. Duck, sob a desculpa de precisar novamente de ajuda de Pete, coloca-o em uma entrevista de emprego com o dono da Learjet, empresa que quer se recolocar no mercado e precisa de um diretor de marketing. Pete não percebe a armadilha até tarde demais, mas seu lado orgulhoso o faz ficar com a curiosidade aguçada. Que tipo de oferta valeria a pena largar a McCann Erickson e o dinheiro que ainda lhe é devido?

Ao longo do episódio, vamos descobrindo que Pete cresceu. E muito. Pistas desse seu amadurecimento já haviam sido deixadas por Weiner em Time & Life, mas, agora, todas as cartas estão na mesa. Aquele rapazinho odioso das primeiras temporadas agora é um homem completo, responsável e apaixonado por sua ex-esposa Trudy que, por sua vez, perdeu o ar de garotinha mimada e ganhou corpo, tornando-se tão adulta quanto Pete (a própria atriz – Alison Brie – ficou mais bonita até). Nesse patamar de iguais, as faíscas do amor antigo mas gostoso voltam à tona e o futuro parece ser muito feliz para os dois.

Pode parecer até muito conveniente para Pete simplesmente voltar para Trudy, mas não é bem assim. Suas aventuras fora do casamento, apesar de imperdoáveis, parecem ter sido fruto de profunda imaturidade combinada com a necessidade de se auto-afirmar. Talvez ele se espelhasse em Don Draper e seu charme irresistível. Talvez ele se espelhasse na eterna jovialidade de Roger Sterling. Pouco importa a razão para o desmantelamento de seu casamento. O que interessa é que ele nunca deixou de amar Trudy e Trudy nunca deixou de amá-lo. Isso ficou evidente em Time & Life e mesmo na época da separação. Eles eram jovens e bobos demais. Agora são sábios que querem tentar novamente. Ora, quem somos nós para julgar, não é mesmo? Boa sorte aos dois!

Assim como no caso de Betty, o arco de Pete e Trudy parece ter chegado ao fim. Um final alvissareiro e, convenhamos, muito bem vindo. Não creio que precisemos ver os personagens novamente no derradeiro episódio, a não ser como um piscadela ao público (particularmente, aplaudiria de pé a volta completa do elenco, inclusive dos “espíritos” de Bert Cooper e Lane Pryce).

Don

Weiner continua despindo Don de sua vida como Don Draper. Ele não tem mais sua segunda (terceira, na verdade) esposa, sua família, seu apartamento, sua agência, seu caso. Mal tem dinheiro (ao menos perto do que tinha). Suas únicas posses imediatas são um saco (não uma mala) com roupas e um carro. Mas The Milk and Honey Route tira mais dele ainda.

E o principal não são os bens materiais. Mas sim uma confissão. É a primeira vez que Don voluntaria a história de sua vida, o momento em que se tornou Don Draper depois de acidentalmente matar seu superior e tomar sua identidade. Tudo isso ocorre em uma conversa regada a muita bebida em um grupo de veteranos de guerra que se auto-ajudam contando histórias uns para os outros. Don finalmente tira de seu peito o peso de toda sua vida desde que voltou da Coréia. Ele não necessariamente volta a ser o que era antes, mas, ao menos, ele se purifica. Essa é a simbologia de sua confissão após se tornar, para todos os efeitos, um despossuído.

A viagem sem rumo do personagem é uma viagem de auto-descoberta ou, melhor dizendo, de redescoberta. Era absolutamente necessário que Don deixasse de ser Don para que, o que sobrasse, volte a ser alguém de valor. Sua vida construída em cima de mentiras precisava ruir, para que, sobre os escombros, um novo Don surgisse. Ele ainda não surgiu, mas Weiner parece caminhar nessa direção de maneira certeira e poética.

Mesmo que a pequena trama envolvendo o furto do dinheiro das doações dos veteranos não funcione muito bem, pois parece apressada e, em última análise, deslocada, o resultado final, que é unir Don ao jovem e perdido camareiro do hotel é justificado. O jovem é um futuro Don, se o novo Don não impedir. Ao fazer com que o garoto devolva o dinheiro e saia do local, entregando seu carro no processo, Don suplica que ele não perca a oportunidade que está tendo. Se ele será bem-sucedido em seu intento, pouco importa para fins de construção narrativa. O que interessa de verdade é o reconhecimento, por Don, que aquele garoto, se não tiver seu rumo corrigido, poderá incorrer nos mesmos erros que ele. A chave e os documentos do carro são a bandeira de salvação tanto para um, quanto para outro.

E Don sentado, sozinho, apenas com a roupa do corpo e seu saco de roupas todo amassado como o de um mendigo em um banco de ponto de ônibus no meio do nada com lugar nenhum parece ser um sinal positivo. Um sinal de novo começo. Um sinal de vida nova.

Será?

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Entrecortando as três narrativas acima sem perder o fio da meada de nenhuma delas, Matthew Weiner estabelece o tom para seu grand finale. Dando salto temporal ou não, uma coisa é certa: Mad Men já ficou para a história como uma das mais fantásticas séries já produzidas para a TV. Nos vemos em Person to Person!

Mad Men – 7X13: The Milk and Honey Route (EUA – 2015)
Showrunner: Matthew Weiner
Direção: Matthew Weiner
Roteiro: Carly Wray, Matthew Weiner
Elenco: Jon Hamm, Elisabeth Moss, Vincent Kartheiser, Christina Hendricks, Aaron Staton, Rich Sommer, Kevin Rahm, John Slattery, Elizabeth Reaser, Devon Gummersall, January Jones, Christopher Stanley, Julia Ormond, Kiernan Shipka, Mark Moses, Alison Brie
Duração: 54 min.

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