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Crítica | Mass Effect 2

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

Com o primeiro Mass Effect, a Bioware abriu as portas de um novo e vasto universo, criando uma extensa mitologia, que tornou a franquia, automaticamente, no Star Trek dos videogames, ainda que o jogo tenha se inspirado em outras dezenas de obras de ficção científica. Mas os desenvolvedores ainda experimentavam nessa sua criação, tendo de descobrir até aonde poderiam ir com as mecânicas, o que funcionava e o que desapontava e, é claro, ainda andavam com cautela em relação aos gráficos, visto que o game fora lançado nos primórdios da geração Xbox 360/ PS3. Mass Effect 2 vem como a continuação feita para melhorar absolutamente tudo que fora apresentado antes, mostrando que a desenvolvedora ouve o feedback dos jogadores, ao mesmo tempo que havia algo grandioso planejado desde o início.

Após derrotar Saren e Sovereign na Cidadela no final do game anterior, o comandante Shepard, junto da tripulação da Normandy, são encarregados de caçar pelos Geth remanescentes da Via Láctea, ao menos aqueles que seguiram o Reaper anteriormente. Pouco esperavam eles que uma nave desconhecida os atacaria, destruindo a Normandy e matando Shepard no processo. Sua morte, porém, foi apenas temporária, visto que o Illusive Man, líder da organização Cerberus, resgata o corpo do herói e o reconstrói, mantendo o máximo que pode intacto. Ele sabe que Shepard é o único que pode combater a ameaça dos Collectors, uma raça alienígena misteriosa que vem abduzindo humanos em suas colônias pelo espaço, não pelas suas habilidades, mas pelo que ele representa. Suspeitando que esses aliens estão aliados aos Reapers, o comandante deve novamente embarcar em uma missão para salvar a galáxia.

Mass Effect 2 conta, sem a menor sombra de dúvidas, com uma das melhores sequências de abertura dos games, garantindo uma linguagem cinematográfica ao jogo de dar inveja em qualquer outro. O primeiro já havia brincado com tais questões, mas aqui a Bioware acerta em cheio, ousando mais nos movimentos de câmera, com uma direção que remete a de episódios da sensacional Battlestar Galactica (2004). A morte de Shepard aqui é temporária, mas representa um forte símbolo para o jogador, que o tomara praticamente como invencível no game anterior, além disso, ela firma a ameaça dos Collectors, tornando tudo mais pessoal, visto que a reconstrução do herói custara dois anos de sua vida, período esse em que tudo mudou.

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Com isso em mente, fica fácil enxergar e justificar todas as mudanças que ocorrem nessa continuação, a começar pelos membros da equipe. Por mais que alguns permaneçam os mesmos (quem é Shepard sem Vakarian, não é?), eles passaram por profundas mudanças ao longo desses anos, transmitindo aquela velha sensação de um universo vivido e não criado a partir de uma receita de bolo na qual o principal ingrediente é o personagem que controlamos. A grande diferença entre o primeiro game e esse, em termos de interação com esses NPCs, está na forma como tudo se desenvolve, permitindo uma jogabilidade mais fluida, ao passo que somos avisados sempre que eles querem conversar, não nos forçando a ir atrás deles sempre que possível. Dito isso, os diálogos continuam como um dos pontos fortes da franquia, sendo magistralmente escritos e capazes de nos entreter por horas a fio. As conversas casuais entre os membros da equipe nunca estiveram tão boas, trazendo risadas certeiras e aquele sentimento de que conhecemos alguns desses personagens há anos.

De todas os novos indivíduos incluídos nessa sequência, talvez nenhum deles seja tão brilhantemente criado quanto o Illusive Man. Por si só ele funciona como um grande porém no sistema de moralidade binário da franquia, ao passo que sabemos que ele não é exatamente uma boa pessoa, mas nos oferece recursos para salvar a galáxia. Sua persona funciona perfeitamente na área cinzenta no sistema de Paragon e Renegade, herdado do primeiro game e a dublagem de Martin Sheen empresta um grande peso ao personagem, que se mantém como um grande mistério do início ao fim, uma jogada genial da Bioware, que o faz aparecer diante do protagonista apenas através de hologramas, com sua localização sempre permanecendo oculta a nós e a todos os personagens do game.

Evidente que outras belas inserções, ainda tratando dos personagens, acontecem aqui e não podemos deixar de citar Mordin Solus, Thane, Miranda e EDI. O primeiro, dublado por Michael Beattie, soa como um alienígena que bebeu quinhentas xícaras de café, oferecendo alguns diálogos simplesmente hilários somente pela maneira como dialoga. Thane, por sua vez, é Assassin’s Creed no mundo de Mass Effect, aquele personagem feito para todos gostarmos e, de fato, não há como não esboçar um sorriso com suas cutscenes e feliosofia, claramente inspirado em monges guerreiros. Miranda, por sua vez, por mais que nos irrite a maior parte do jogo, carrega um excelente trabalho de captura de movimento, com suas feições e voz sendo as de Yvonne Strahovski. Por último, EDI, lida com os perigos da inteligência artificial de forma divertida, especialmente considerando sua voz sexy (fato que é trazido à tona pelos próprios personagens), cortesia de Tricia Helfer, a eterna Nº 6 de Battlestar Galactica.

Mas Mass Effect 2 não seria o que é sem sua jogabilidade, que, como dito anteriormente, melhora todos os aspectos do primeiro. Os desenvolvedores, aqui, nos entregam um combate incrivelmente tático, que, apesar de termos menos poderes disponíveis (de imediato), eles se fazem muito mais úteis durante os tiroteios. Mais do que nunca a coordenação com a equipe se demonstra essencial e sair da proteção de uma barricada pode se demonstrar fatal. Além disso, cada arma desempenha um papel diferente, nos forçando a trocar entre elas durante os combates, especialmente quando estamos diante de um inimigo com diversas proteções. O mais importante é que, desde os minutos iniciais, trocar tiros com seus oponentes, prova ser algo extremamente divertido. O game ainda insere mais elementos de progressão através de pesquisas que devemos completar a fim de melhorar diferentes atributos de nossas armas ou poderes – com isso, sentimos a diferença conforme nosso personagem se torna mais forte.

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Dos pontos positivos da obra, contudo, aquela que mais a diferencia do que veio antes é a estrutura de suas missões, especialmente as de lealdade, ligadas intrinsecamente aos membros da equipe. Cada uma delas nos coloca resolvendo situações ligadas às histórias dos tripulantes da Normandy, permitindo que os conheçamos através da ação e não somente pelos diálogos. Essas ainda estão ligadas ao resultado final da última missão do jogo, que é anunciada desde o início como uma missão suicida. Dependendo de nossas escolhas ao longo do game, nem todos sairão vivos dela, podendo chegar ao ponto que nem mesmo Shepard sobrevive. As decisões que tomamos ao longo da história, portanto, nunca se demonstraram tão impactantes, especialmente considerando que nos aproximamos de cada um dos personagens introduzidos.

Evidente que essas estão diretamente ligadas ao já citado sistema de Paragon/Renegade, que retorna do original, com a grande diferença que, aqui, podemos interromper algumas cutscenes a fim de realizar uma ação pré-programada ao toque de um botão. Essas podem ser coisas “boazinhas” ou atos como dar um soco em uma repórter que distorce tudo aquilo que você fala. Tal elemento fornece uma bela taxa de replay ao jogo, junto das diferentes opções de romance (muito mais que o primeiro) e as inúmeras classes, cada uma delas com poderes distintos que tornam a experiência única dependendo do que escolhemos no início, algo que pode ser feito mesmo se importarmos nosso save do antecessor, que aprofunda o gameplay consideravelmente em termos de enredo, já que alguns indivíduos e ações do primeiro repercutem aqui.

Mesmo os DLCs do game conseguem ser experiências engajantes, especialmente Lair of the Shadow Broker, que traz de volta Liara T’Soni como companheira. Esse e Overlord já estão inclusos nas versões de PS3, mas os verdadeiramente essenciais são esse primeiro citado e Arrival, que repercutem diretamente nos eventos de Mass Effect 3, sendo praticamente indispensáveis para a experiência completa da trilogia. Felizmente, eles trazem uma bela quantidade de conteúdo e histórias que mantém o padrão de qualidade do jogo base.

Dito isso, fica fácil enxergar o porquê de Mass Effect 2 ter sido tão premiado, permanecendo mais que uma excelente memória para os fãs. Com um roteiro de dar inveja em qualquer outro game, capaz de criar personagens profundos e vivos, com os quais nos importamos e a melhor jogabilidade da franquia, o jogo simplesmente deve ser experimentado por qualquer um que aprecie um bom RPG, uma boa história ou um bom jogo de tiro. Mass Effect 2 é O Império Contra-Ataca da trilogia, um jogo irretocável, que se constitui como a verdadeira obra-prima da Bioware, sendo possivelmente o melhor jogo da geração passada de vídeo-games e um dos melhores já feitos.

Mass Effect 2
Desenvolvedor:
 Bioware
Lançamento: 26 de novembro de 2010
Gênero: Tiro em terceira pessoa, RPG
Disponível para: PS3, Xbox 360, PC

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