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Crítica | Mayans M.C. -1X05: Uch/Opossum

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios.

Com o sucesso de Mayans M.C. na TV, comprovando a força da base de fãs de Sons of Anarchy, sua renovação era mais do que esperada e a confirmação veio na última semana, que marcou a metade da temporada inaugural. Uch/Opossum é, sem dúvida, o melhor episódio até agora, já que utiliza as diversas peças em movimento para estabelecer um tabuleiro complexo, rico e altamente explosivo.

Chega a ser desafiador imaginar como Kurt Sutter e Elgin James conceberam a trama do spin-off, já que ela nasce consideravelmente mais complicada do que na série original, quase ao ponto de tornar difícil deixar de concluir por um morticínio generalizado já nos próximos episódios, que encerraria de vez a série. A garantia de uma 2ª temporada dá tranquilidade à produção e, ao espectador, a certeza de que haverá tempo para Mayans M.C. solidificar-se de verdade, considerando seu começo menos do que ideal em termos de qualidade.

Continuando imediatamente após os eventos aterradores no final de Murciélago/Zotz, Emily, hospitalizada, recebe a visita secreta – mas não tanto – de EZ, preocupado com ela. É a primeira oportunidade que ele tem de começar a trazê-la para seu lado, como Jimenez pedira. Mas não há tempo e a sequência é toda construída para gerar a tensão necessária entre o protagonista e Miguel, que o chama para uma “conversa” intelectual no exato lugar que ele planeja comprar para dar impulso à economia da região, algo que EZ diretamente – e inevitavelmente – correlaciona com a missão de Michael Corleone na Trilogia O Poderoso Chefão. A segunda oportunidade que o Prospect tem é ao final, quando, ao reverso, Emily o procura para desabafar sobre o aborto que fizera de vingança, em uma atitude asquerosa pela qual ela acha que está sendo castigada agora.

Vejo em Emily uma forte candidata a tornar-se “A Poderosa Chefona” em um cenário com Miguel morto (chutaria que pelas mãos de EZ), o que complicaria ainda mais a situação, mas a tornaria ainda mais interessante. Se ela continuar por esse caminho que Devante descreve para ela, do tudo ou nada, e considerando o momento de violência que a leva ao sexo animal com seu marido, revelando seus gostos e suas inclinações e a completa aceitação do modus operandi do cartel, imagino seu mergulho completo para o Lado Negro da Força muito rapidamente, deixando EZ em um literal mato sem cachorro.

Mas, convenhamos, essa situação sem saída é a própria definição do que é EZ na série. Considerando que ele vem trabalhando com o DEA para derrubar o cartel e com Angel e Los Olvidados com o mesmo objetivo, sem que um saiba do outro e sem que, claro, os Mayans tenham conhecimento de nenhuma das duas traições, vê-lo navegar esse labirinto de mentiras é fascinante e é daí que vem o potencial explosivo que mencionei.

Aliás, nada como misturar nitroglicerina nessa sopa, com Angel deitando na cama com o “simpático e delicado” Cole, que o presenteia com a cabeça da caipira chefe que vimos no último episódio. É particularmente curioso ver a reação de Angel ao cenário dantesco com que se depara ao acordar: a cabeça da mulher líder da gangue dos caipiras enfiada na ponta de um fuzil militar e um grandalhão tatuado do outro lado da sala. Sua calma, muito longe de ser uma qualidade, revela uma personalidade perturbada e fria – até doentia – que o chefe da polícia mexicana percebe imediatamente na sequência em que Angel e EZ são aprisionados no lado de lá da fronteira. Se é lógico que EZ voltaria pelo irmão, o contrário não é tão certo assim e a forma como Angel reage a Cole, encetando um perigoso acordo apesar de saber de tudo o que ele já fez e tem capacidade de fazer (e isso sem falar no momento necrofilia ao final…) é de fazer qualquer um coçar a cabeça.

E esse jogo perigoso envolve diretamente Los Olvidados, com Adelita mostrando uma frieza impressionante ao acionar sua tropa de crianças para chacinar os policiais corruptos. Ela e Angel definitivamente fazem um par perfeito em meio a esse imbróglio inacreditável que Sutter estabelece. Não duvidaria que, bem no fundo, o plano secreto master de Adelita não seja exatamente o extermínio do cartel, mas sim sua substituição pela milícia que vem montando ao longo dos anos sempre querendo o “melhor” para a comunidade, claro.

Lógico que, correndo por fora, há Felipe cada vez mais revelando seus dentes. Seu passado secreto veio à tona no episódio anterior e o que vemos agora explica o porquê do vômito de Jimenez depois de ameaçá-lo. Aquilo ali era medo puro, pois ele sabia com quem estava se metendo. Quando Felipe vai procurar o agente da DEA na garagem, é perfeitamente possível discernir o pavor no rosto dele mesmo antes da revelação final sobre quem Felipe fora e o que ele fizera. Aquela frase “o jogo virou, não é mesmo?” aplica-se perfeitamente ao caso aqui e alça Felipe – ou, melhor dizendo, Ignácio – a outro patamar, algo muito bem vindo, aliás.

Uch/Opossum é o “ponto sem volta” da série e o episódio que efetivamente mostra a que ela veio. Sutter finalmente acertou o tom do spin-off e, agora, é esperar para ver como é que ele desamarrará a situação de EZ sem que o protagonista acabe morto no fogo cruzado ou afunde no lodaçal que o cerca.

Mayans M.C. – 1X05: Uch/Opossum (EUA – 02 de outubro de 2018)
Criação:  Kurt Sutter, Elgin James
Direção: Batán Silva
Roteiro: Bryan Gracia
Elenco: J.D. Pardo, Sarah Bolger, Michael Irby, Carla Baratta, Richard Cabral, Raoul Trujillo, Antonio Jaramillo, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Maurice Compte, Frankie Loyal Delgado, Joseph Raymond Lucero, Clayton Cardenas, Tony Plana, Michael Marisi Ornstein
Duração: 64 min.

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