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Crítica | “Melhor do que Parece” – O Terno

por Handerson Ornelas
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O Terno provavelmente está entre as bandas nacionais de rock mais discutidas e hypeadas nos últimos anos. Desde os olhos atentos que despertaram na estreia com 66, a manutenção desses olhares no segundo e homônimo disco, até chegarmos neste terceiro álbum, Melhor do que Parece, onde finalmente encontramos o trabalho definitivo do grupo, agora em nova formação (sai Victor Chaves da batera e entra Gabriel Basile). É seguro dizer que valeu a espera daqueles que apostaram as fichas no trio. Este não é apenas o melhor trabalho do grupo, mas pode, sim, figurar entre os destaques do rock brasileiro dessa década. Um trabalho coeso, inspirado e extremamente maduro.

O mais notório nesta terceira empreitada é o amadurecimento do grupo, sendo percebida de maneira bem nítida uma evolução nas composições e na técnica de cada instrumentista. Até mesmo a técnica vocal de Tim Bernardes – que sempre gerava desafinações – foi bastante melhorada, embora ainda não esteja livre de ressalvas. E o disco já chama atenção de primeira com o single Culpa, que embora não represente tão bem o resto do álbum, cria um bom pop rock despretensioso na linha oitentista do rock nacional, se apoiando em um refrão grudento e um jeito despojado de cantar que lembra Dan Auerbach do The Black Keys. Aliás, o revival do blues rock pelo famoso duo americano parece uma forte influência aqui, além de, claro, as inúmeras bandas sessentistas como The Beatles, The Beach Boys, The Animals, entre outras.

Quando foi dito que um dos grandes clássicos do mundo da música, Pet Sounds dos The Beach Boys, era uma influência no novo projeto do Terno, eles falavam sério, já que isso é bastante notório. Se trata de um compilado de canções românticas cheias de uma certa inocência, um delicioso sabor doce de pop em seus arranjos e letras. Sabe abordar diferentes pontos de um relacionamento, desde o “amor a primeira vista” em Não Espero Mais, muito bem inserido na forma de vívidos riffs, quanto as decepções, caso da leveza depressiva em Vamos Assumir (“E eu fiz de tudo pra gente dar certo e não deu”). O número de percussões e detalhes aos arranjos é outra característica que lembra a obra dos The Beach Boys, seja a riqueza de instrumentos no samba de partido-alto de O Orgulho e o Perdão, a sutileza “infantil” estilo Sloop John B da emotiva Volta, ou os belíssimos e discretos metais de Deixa Fugir. Mas nada lembra a mente de Brian Wilson mais do que a tristeza de A História Mais Velha do Mundo, uma canção simples e sincera que se aproveita de uma linda letra para construir uma espécie de canção de ninar.

Por fim, a banda sabe fechar o disco bem ao estilo de um grande espetáculo musical, através da canção homônima, a melhor composição já feita pelo trio. Uma magnífica explosão de bateria, guitarra e baixo (além de metais muito bem adicionados) digno de um power trio dos anos 60, preenchendo um caos instrumental um tanto claustrofóbico para o ouvinte, uma experiência que, após seu fim, faz o play para uma nova audição ser a única alternativa possível. Sim, O Terno conseguiu. Temos aqui o disco definitivo do grupo paulista, uma mistura bem balanceada do retrô com o moderno. Uma obra do rock nacional que merece ser lembrada.

Aumenta!: Melhor do que Parece
Diminui!: Culpa

Melhor do que Parece
Artista: O Terno
País: Brasil
Gravadora: Natura Musical
Lançamento: 27 de agosto de 2016
Estilo: Rock, Pop

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