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Crítica | Missão: Impossível 3

por Gabriel Carvalho
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“Existia alguma coisa a mais entre vocês dois?

Lindsey era como uma irmã caçula.

E você nunca… dormiu com sua irmã caçula, certo?”

O cineasta John Woo se agarrou no impossível do título da franquia Missão: Impossível, criando um filme bastante diferente do original de 1996, dirigido por Brian De Palma. Dessa vez, o interesse de J. J. Abrams, responsável pela terceira incursão cinematográfica da franquia que reviveu a série clássica homônima, é mesclar ambos os interesses dos diretores anteriores, mas trazendo consigo, também, uma diferenciação especial: tornar a franquia mais humana. Dessa forma, Ethan Hunt (Tom Cruise) começa o filme com um status quo completamente diferente dos apresentados antes, estando em um relacionamento com Julia (Michelle Monaghan) e afastado das operações especiais que participava anteriormente. Apenas a notícia de que uma ex-aluna sua, de sua época como treinador, está sendo mantida em cativeiro por criminosos permite essa situação ser redefinida, levando-o para a missão impossível da vez, acompanhado de uma equipe coadjuvante descartável, com exceção de Ving Rhames. Sendo assim, se percebe que a intenção narrativa é muito mais focada em uma ação carregada dramaticamente do que uma ação carregada de diversão – uma mudança extremamente bem-vinda com o intuito de renovar o objetivo da franquia a cada exploração orquestrada pelas mentes criativas por trás do projeto.

O problema é que, em termos de potencial dramático, o desenvolvimento não é dos mais precisos, mesmo sendo interessante essa mudança de perspectiva. O longa em si já começa mostrando-nos um momento extremamente tenso, colocando o vilão para rivalizar diretamente com o herói. Mas do que adianta iniciar a trama com esse estopim, a ser revelado integralmente no caminho para o término da fita, se o envolvimento emocional, nesse momento, ainda é nulo? Além disso, toda a trajetória se torna extremamente previsível, ainda mais pelo fato da obra brincar com o antagonista maquiavélico da vez, interpretado por Phillip Seymour Hoffman, fazendo o personagem ameaçar entes próximos a Ethan Hunt. Sabemos que haverá uma virada de papéis, do personagem capturado ao personagem que captura. Pelo menos, a cena é, de fato, poderosíssima, trazendo, além disso, um dos melhores trabalhos interpretativos de Tom Cruise como Ethan Hunt, indo muito além de suas poses costumeiras, sorridentes e charmosas – relacionáveis extremamente bem com as projeções anteriores imaginadas para a franquia. De qualquer forma, Brad Bird, em Protocolo Fantasma, saberia brincar muito mais com a revelação do futuro na abertura do seu filme, indicando, de cara, todo o caminho, como um fio, a ser seguido pela narrativa.

O mais curioso de tudo é que, novamente colocando para comparação esses dois filmes, Protocolo Fantasma é realmente uma jogada bem parecida com a deste terceiro filme, embora melhor sucedida, criando diversos momentos de intertextualidade que nos informam as falhas presentes aqui, notáveis diante de um olhar comparativo. Por exemplo, J. J. Abrams decide mostrar o momento da criação das máscaras, mas caminhando por uma avenida muito menos tecnológica do que esperaríamos. Dessa forma, não é apenas em um âmbito de personagens que J. J. quer humanizar a franquia, mas até na criação de universo. Ao vermos como a máscara foi criada, não acreditamos mais nela, ao passo que, em Protocolo Fantasma, a mudança tecnológica é significativa para nos dar uma esperança de solução que se esvai ao passo que a máquina quebra. A mesma coisa pode, novamente, ser dita sobre o conjunto dramático, muito mais intenso nesta jornada, no entanto, mais verdadeiro na que viria alguns anos depois. Não quer dizer que ele é ruim, muito longe disto. Ao trabalhar a relação de Ethan com a agente treinada por ele, Lindsey Farris (Keri Russel), J. J. Abrams acerta, mostrando o impacto e a relevância daquela conexão no exato momento em que o fracasso da missão é evidenciado, bastante abrupto e, consequentemente, forte.

Mas Missão: Impossível 3 tem uma coisa que apenas, provavelmente, Missão: Impossível, o original, tem: um bom vilão. Como Owen Davian, Phillip Seymour Hoffman rouba a cena, desenvolvendo uma personalidade bastante interessante, cínico e realmente vilanesco. Assim como os demais antagonistas da franquia, o vilão dessa vez também interage com a narrativa de uma maneira que lhe é aliada o recorrente macguffin – totalmente descartável. O diferencial, contudo, é exatamente o ator, realçando-se um casting que distingue o medíocre do competente. Ao mesmo tempo, entendendo-se que o macguffin é dispensável, o interesse não está nele, mas no valor dramático em cena – a obra se sai melhor. As cenas de ação, por fim, não são ruins, nem realmente boas, mas funcionais, encontrando um espaço na média, sem ser genérica, mas sem se distinguir muito do que chamaríamos de genérico. Por outro lado, a trilha sonora, fazendo-se ser sentida, ajuda na criação de tensão e de envolvimento. Enquanto o movimento proposto para a franquia pede por mais carga dramática, J. J. Abrams acaba deixando o escopo de ação um pouco de lado, vide o clímax pouquíssimo inspirado. O drama, na realidade, nem é excepcional, mas decente o suficiente para que nos vejamos envolvidos nessa missão impossível, em que o humano é ainda mais importante.

Missão: Impossível 3 (Mission: Impossible III) – EUA, 2006
Direção: J. J. Abrams
Roteiro: Alex Kurtzman, Roberto Orci, J. J. Abrams
Elenco: Tom Cruise, Philip Seymour Hoffman, Ving Rhames, Billy Crudup, Michelle Monaghan, Jonathan Rhys Meyers, Keri Russell, Maggie Q, Laurence Fishburne, Aaron Paul, Jeff Chase
Duração: 125 min.

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