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Crítica | Missão: Impossível – Protocolo Fantasma

por Ritter Fan
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Cinco anos depois de Missão: Impossível 3, Tom Cruise volta a um de seus personagens mais marcantes: Ethan Hunt, o destemido – e louco – agente da IMF, sigla para Impossible Missions Force. Com Brad Bird no leme, mantendo a tradição da franquia de um diretor por filme, o resultado é, talvez, o mais espetacular até agora. E interpretem o adjetivo em seu sentido original, de “criador de espetáculo”, pois é isso que Protocolo Fantasma é, para o bem ou para o mal.

A série cinematográfica – por sua vez baseada no famoso seriado de TV homônimo da década de 60 – ganhou espaço a partir do primeiro filme, em 1996, por saber mesclar com exatidão a pirotecnia moderna com um olhar clássico para filmes de espião. Mesmo com deslizes, como foi o caso da primeira continuação, a série manteve um certo pé no chão até que, em Protocolo Fantasma, ela tenha se rendido um pouco à necessidade hollywoodiana de se fazer sempre mais.

No entanto, mesmo tentando competir fortemente com filmes explosivos dentro da estética moderna de “um corte a cada três segundos”, vê-se uma tentativa, em Protocolo Fantasma, de se voltar ao básico e simplesmente repetir, mas em uma uma escala bem maior, a trama do primeiro Missão: Impossível. Ethan Hunt e seu grupo são considerados culpados por um evento semi-cataclísmico que reinicia a Guerra Fria e, com isso, o tal “protocolo fantasma” é ativado, pelo qual o IMF é desautorizado e desmantelado. Obviamente, porém, o protocolo nada mais é do que uma autorização velada para Hunt e seu grupo fazerem absolutamente o que bem entenderem para resolver a situação. Junto de Hunt temos Benji Dunn (Simon Pegg reprisando o papel da película anterior), Jane (a bela Paula Patton) e um analista que entra de maneira forçada no grupo chamado Brandt (o substituto de Jason Bourne e arqueiro nas horas vagas, Jeremy Renner).

A repetição da trama básica não é algo ruim, ao contrário. Nesse tipo de filme, requentar histórias de sucesso é algo que até aplaudo. Se é inevitável fazer uma continuação, porque não copiar uma fórmula que já deu muito certo e acrescentar elementos ainda mais fantásticos e de tirar o fôlego? Se, no primeiro filme (e, na opinião desse crítico, ainda o melhor), Brian de Palma conseguiu imprimir um tom old school de espionagem, com a milhares de vezes repetida cena em que Hunt entra no cofre da CIA pendurado em cabos, aqui Brad Bird (egresso da animação, com os excelentes Gigante de Ferro, Os Incríveis e Ratatouille em seu currículo) empresta um tom muito mais teatral e auto-crítico ao filme. Por exemplo, a introdução de Brandt na trama não tem o objetivo de criar um novo Ethan Hunt. Brandt, na verdade, serve como um instrumento para Bird zombar das impossibilidades da série.

Reparem como o novo agente sempre que pode duvida, em alto e bom som, dos planos mirabolantes de Hunt sempre. Há cenas muito inteligentes e  impagáveis a partir dessa interação, que criam uma espécie de meta-filme, uma piscadela para os espectadores que têm a quarta parede quebrada muito momentaneamente. Outra característica do diretor, também muito presente em Os Incríveis, é a dinâmica de grupo. Apesar de Ethan Hunt ser a inegável estrela, Bird consegue com que sua câmera dê um bom grau de atenção aos demais da equipe, e sempre de maneira efetiva para o desenrolar da trama. Basta ver, por exemplo, o próprio Brandt ou a cena da briga de Jane com uma assassina.

Mas o que realmente fica na mente são as quatro espetaculares sequências que dividem quase que igualmente o filme. A primeira delas se passa em um prisão russa e serve para estabelecer os personagens. A segunda é tensa e se passa dentro do Kremlin, com gadgets que fariam James Bond ter um ataque de inveja. A terceira é a muito elogiada cena externa no Burj Al Khalifa, o prédio mais alto do mundo. Nessa cena, feita por Tom Cruise pessoalmente sem dublês (você tem que respeitar um cara que faz esse tipo de coisa, por mais que ele tenha se cercado de toda a segurança possível), Hunt tem que escalar alguns andares do lugar sem a ajuda de cordas, tal qual o Homem-Aranha. É desesperador e Brad Bird, com uma bela fotografia de Robert Elswit (Syriana, Sangue Negro), consegue capturar e passar ao espectador um alto grau de temor pelo personagem, mesmo sendo mais do que evidente que Hunt simplesmente não morrerá. Por último, há a cena final em um daqueles estacionamentos automáticos de automóveis, com o uso de elevadores. Se Hunt usasse um chapéu vermelho e bigode, seria idêntica a uma fase de Super Mario Bros.

Essas grandes sequências, que, de certa forma – mas com muito mais grandiloquência – emulam as que vemos no primeiro filme, é que retiram de Protocolo Fantasma aquela fusão perfeita entre o antigo e o novo que caracterizou as produções anteriores (um pouco menos no caso da segunda parte, claro). Na quarta película, a pirotecnia ganha muito espaço, transformando Missão: Impossível em mais uma franquia de ação/espionagem. A diferença é que o domínio de Bird sobre sua técnica e um roteiro simples, mas azeitado, de Josh Appelbaum e André Nemec, acabam elevando o resultado final ao patamar de um eletrizante thriller que divertirá mesmo traindo um pouco a essência da série.

Em suma, Protocolo Fantasma é o perfeito exemplo de filme pipoca e uma excelente estréia de Brad Bird na direção de atores reais. Funciona dentro da estrutura de obras de ação com sequências vertiginosas e também dentro da mitologia estabelecida, mesmo que um pouco do charme tenha sido deixado de lado para dar lugar a mais espetáculo.

*Crítica originalmente publicada em 11 de agosto de 2015.

Missão: Impossível – Protocolo Fantasma (Mission: Impossible – Ghost Protocol, EUA/EAU/República Tcheca – 2011)
Direção: Brad Bird
Roteiro: Josh Appelbaum, André Nemec (baseado na criação de Bruce Geller)
Elenco: Tom Cruise, Paula Patton, Simon Pegg, Jeremy Renner, Michael Nyqvist, Vladimir, Mashkov, Samuli Edelmann, Ivan Shvedoff, Anil Kapoor, Léa Seydoux, Josh Holloway, Pavel Kriz, Miraj Grbic
Duração: 133 min.

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