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Crítica | Modern Family – 1ª Temporada

por Filipe Monteiro
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Jay Pritchett é casado com Glória Pritchett, que é mãe de Manny Delgado, fruto de um relacionamento entre Glória e Javier Delgado, um ex-namorado da época em que moravam em uma pequena vila colombiana. Jay não só é padrasto de Manny, como tem dois filhos adultos do seu antigo casamento com DeDe Pritchett, Mitchell e Claire. Mitchell e seu namorado Cameron Tucker acabaram de adotar sua primeira filha, a vietnamita Lily. Claire e Phil Dunphy, seu marido, são pais de três filhos, Haley, Alex e Luke. Luke é colega de Manny e ambos são alunos do tio Cameron, que recentemente foi contratado para ensinar música na escola local.

A árvore genealógica de Modern Family pode até parecer confusa, mas a dinâmica relacional presente na premiada série da ABC é construída de forma tão hábil que já nos primeiros episódios é impossível não saber quem é quem. Difícil mesmo é eleger um favorito entre tantos personagens encantadores em suas mais diferentes maneiras.

A série concebida por Christopher Lloyd e Steven Levitan foge do lugar de conforto propiciado pelas Sitcoms americanas e aposta no formato de Mokumentário, que consiste em produções ficcionais gravadas em padrões estéticos de documentário. O destaque que Modern Family possui em relação às demais séries de comédias, entretanto, não está só na sua originalidade, mas também pela soma de fatores que a constituem.

O plot minimalista interage diretamente com o público, visto que os acontecimentos da série coincidirão, em algum momento, com a experiência cotidiana do espectador. O roteiro é igualmente simples, mas a engenhosidade com a qual é elaborado consegue compor sacadas geniais. Cada episódio é executado com bastante minúcia desde a direção à sua montagem final. Sabe quando você assiste a uma série ou a um filme e percebe que cada olhar, gesto ou momento de silêncio faz sentido? Esta é a ideia que Modern Family expõe, a de que cada elemento presente em cena tem um propósito demarcado.

A opinião unânime, todavia, é a que concerne ao talento do seu elenco . Dos seis atores que compõem o núcleo principal da série, quatro já foram premiados com pelo menos um Emmy, o que não é tão inesperado assim para uma produção que desde a sua temporada de estreia é vencedora do Emmy na categoria de Melhor Série de Comédia. Os personagens se encaixam em suas categorias específicas e são incrivelmente divertidos em cada uma delas.

Jay (Ed O’Neill), o patriarca da família, passa pelos dilemas de um homem na faixa dos 60 que, em seu segundo casamento, vive com uma mulher mais jovem e muito atraente. Glória (Sofía Vergara) é engraçada desde o primeiro momento de interação. A colombiana exagerada e extrovertida é sempre enfática ao defender os costumes colombianos e não faz questão de esconder o quão forte é seu poder de sedução. E que poder!

Phil (Ty Burrell) é o pai que, digamos, leva bem a sério a noção de se aproximar ao universo de seus filhos. Claire (Julie Bowen) faz as vezes da mãe super atribulada, sem tempo nem para respirar com dedicação exclusiva à sua família. Seu irmão Mitchell (Jesse Tyler Ferguson) é aquele que se empenha para ser bem sucedido no emprego e encara as coisas com mais seriedade e realismo. O namorado Cam (Eric Stonestreet), por outro lado, é sensível a tudo e tende a espetacularizar até o mais trivial dos acontecimentos.

As crianças também não são inferiores em nada ao elenco adulto. O artístico e sensível Manny (Rico Rodriguez) é simplesmente um homem maduro e intelectual no corpo de um garoto de 10 anos. Na posição oposta está Luke (Nolan Gould). Nele está a representação da inocência e curiosidade sem limites particulares da infância. Haley (Sarah Hyland) é a típica garota adolescente bonita, mas estúpida, que sempre implica com a irmã Alex (Ariel Winter), melhor aluna da turma, Nerd e sem a mínima vaidade.

O único questionamento a ser levantado em Modern Family está pautado na sua configuração que contrasta com o sentido levantado no título. A série tem a pretensão de retratar uma família moderna com todas as suas especificidades. Creio que seja um tanto contraditório destacar o sentido de modernidade numa série em que as duas mulheres do elenco não trabalham, enquanto os maridos são os provedores da família. Ainda que Modern Family chegue para desconstruir muitas formas de enquadramento pré-estabelecidas, é incontestável que a série carece de algumas problematizações referentes a isso.

Nesse sentido, mesmo cometendo esse pequeno deslize de representação, Modern Family consegue ir além do que uma boa série de comédia requer. Os debates propostos transbordam o próprio episódio e reverberam em nossa percepção social. A realidade de Modern Family se aproxima à do público de tal modo, que quem a assiste à série sai do lugar de espectador e se sente pertencente àquela grande e barulhenta família.

Modern Family – 1ª Temporada (EUA, 2009)
Showrunners: Christopher Lloyd e Steven Levitan
Direção: Jason Winer, Reginald Hudlin, Randal Einhorn
Roteiro: Christopher Lloyd e Steven Levitan
Elenco: Ed O’Neill, Sofía Vergara, Julie Bowen, Ty Burrell, Jesse Tyler Ferguson, Eric Stonestreet, Sarah Hyland, Ariel Winter, Nolan Gould e Rico Rodriguez
Duração: 674 minutos aprox.

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