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Crítica | Monstro do Pântano #14 – 18: A Vila dos Condenados (1975)

por Luiz Santiago
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As edições comentadas neste texto compreendem os números #14 a 18 do primeiro volume da revista Monstro do Pântano (Swamp Thing, Volume 1), publicados nos Estados Unidos entre fevereiro e setembro de 1975. A nota atribuída acima refere-se à média geral para essas edições.

Confira também os comentários para as edições #1 a 6 e #7 a 13 do mesmo volume.

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A revista de nº 14, The Tomorrow Childrenmarca a estreia de David Michelinie como roteirista da Monstro do Pântano, após a saída de Len Wein, no número #13, A Conspiração Leviatã. Ao lado de Nestor Redondo, que vinha fazendo um bom trabalho desde a edição #11, esta nova fase do Pantanoso começa com uma história sobre racismo e segregação, eventos sobrenaturais e abertura para questões relacionadas à ciência. As criaturas gigantes e mutantes (plantas e animais) voltam aqui, nos lembrando de suas primeira aparição em As Minhocas Gigantes e colocando o lado cientista de  Alec Holland para funcionar.

Voltando para casa após fugir do laboratório e dos amigos em A Conspiração Leviatã, o Monstro do Pântano se vê novamente envolto em questões filosóficas sobre sua condição e ainda alimenta a possibilidade de voltar a ser humano. Em alguns momentos isso se torna algo chato na leitura, mas no contexto a questão é perfeitamente aceitável.

as crianças do amanhã plano critico

O Monstro salva um garoto que está fugindo de um grupo de cidadãos que quer matá-lo — a história me lembrou muitíssimo a trama de A Última das Bruxas de Ravenwind! — e uma amizade já condenada à tragédia se inicia entre os dois. Michelinie é inteligente o bastante para não fugir completamente dos passos de Wein, pelo menos nesse início, mas também não se deixa ficar em um ambiente cômodo. Ele já começa nos apresentando a um encadeamento das coisas que lembra uma aventura de investigação em um Filme B. O questionamento sobre o balanço químico do pântano que, em condições especiais, transformou Holland no Monstro em Gênese Sinistra, parece ser o núcleo de uma nova abordagem.

Com uma interessante questão moral — declarada no roteiro, inclusive — e forte crítica ao racismo, David Michelinie inicia muito bem esta segunda fase do Pantanoso, acompanhado de perto por Nestor Redondo e sua belíssima arte cheia de movimento, criatividade na composição dos quadros (algo que seria amplamente explorado por outros artistas no futuro) e inteligente diagramação. Len Wein deve ter ficado orgulhoso com o primeiro passo de sua “criança” após a “adoção”.

A publicação seguinte, The Soul-Spell of Father Bliss (#15) é a mais fraca dente todas desse bloco e apresenta o encontro do Monstro do Pântano com o demônio. Na verdade, o ambiente de terror trabalhado no roteiro é envolvente e bastante macabro, mas a figura do padre Bliss, o invocador do demônio Nebiros, com todas as suas crenças em um mundo “melhor” e no Armagedon acaba sendo o ponto verdadeiramente fraco da aventura.

The Soul-Spell of Father Bliss, #15

O destaque vai para Nestor Redondo e sua arte ágil e tenebrosa. O artista, assim como em todas as edições dessa fase, aproveitou muito bem o tom de horror B que Michelinie trouxe e conseguiu uma ótima atmosfera de medo, seja através das cores, dos objetos representados nos quadros ou nas medonhas formas malignas que ele criou.

Em Night of the Warring Dead (#16), temos a continuação do mini-arco aberto na edição anterior. O chatíssimo Bolt é levado por um helicóptero (sim, ele aparece sem querer querendo no meio do pântano, mas nós não vemos isso, ainda bem) que pertence ao Conclave, uma ação que guiará o Monstro, Cabble e Abby para a ilha de Kala Pago, no Caribe. Embora o início pareça estranho, já que não apresenta uma coerente sequência para o destino de Bolt, as coisas entram rapidamente nos trilhos e o roteiro cria um bom terreno para mais um conto bizarro.

Conhecemos Loganna, a alta sacerdotisa do povo Sepp e, segundo ela, líder do Exército Popular de Libertação. Com o passar das páginas, perceberemos a ironia dessa definição, mas de início aceitamos. Existe um fator político nessa edição que não combina em nada com o estilo da revista, mas ele acaba ganhando um tratamento trágico que agrada ao final, especialmente porque nos afeiçoamos bastante à figura do soldado Adam Rook, parceiro de Loganna e ex-combatente desiludido do Exército americano. Os lutadores zumbis nos trazem lembranças de O Homem Que Não Quis Morrer!, e de maneira muito interessante alguém do passado aparece como cliffhanger para a edição seguinte: Nathan Ellery (ou Mr. E).

Nós sabemos que depois dos eventos de A Noite do Morcego, Mr. E deveria estar morto. Mas este é o universo do Monstro do Pântano, então, aceitemos o impossível. Na edição #17, The Destiny Machine, temos propriamente dito o fim do mini-arco aberto na edição #15 e o retorno do Conclave na pessoa de Ellery, acompanhado de invenções malucas, das quais, as melhores, são esses lobos mecânicos que vocês podem ver na capa ao lado. Nestor Redondo mais uma vez dá um show de arte ao retratar o local onde o monastério perdido de Ellery está instalado. O resgate de Bolt acontece e um outro personagem fanático, como o padre Bliss, entra em cena. Talvez Michelinie quisesse mostrar que fanáticos existem em todas as áreas, tanto na religião quanto na ciência.

Por fim, a edição #18, Village of the Doomed. Neste número, nós temos a última edição onde David Michelinie apareceria de forma fixa nos roteiros da série. Ele voltaria a escrever mais dois ou três números até o cancelamento do volume, na edição #24, mas quem basicamente daria rumo à saga do Pantanoso seria Gerry Conway.

Após morte patética de Ellery e a fuga do quarteto bizarro, há um acidente com o helicóptero e eles estão agora no sul da Flórida, onde encontram uma cidade de velhinhos que parece saída de um desenho estranho. Essa apresentação nos lembra muito o cenário de A Mecânica do Terror, mas o contexto ocultista e a presença do diabo guia o enredo por um outro caminho. Questionamentos sobre a velhice aparecem aqui da forma mais extrema possível e o seminal conflito entre pais e filhos é colocado em cena com direito a diabos, Livro de Ébano, encantamos e drenagem de energia de corpos jovens para modificar corpos enrugados.

Esta pequena fase de 5 edições assinadas por David Michelinie estabeleceu o contexto sombrio e sobrenatural dentro do universo do Monstro do Pântano. A ciência foi colocada um pouco de lado e a outra face da moeda foi mostrada. No final das contas, tirando o mal desenvolvimento e explicações pouco convincentes para esta ou aquela situação, podemos dizer que o autor fez um bom trabalho, mesmo que não tenha deixado nada de verdadeiramente importante para o personagem.

Monstro do Pântano Vol.1 – #14 a 18 (Swamp Thing, Volume 1) – EUA, 1975
Roteiro: David Michelinie
Arte: Nestor Redondo
Cores: Tatjana Wood
Capas: Nestor Redondo
Editoria: Joe Orlando
Páginas: 24 (cada número)

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