Home QuadrinhosArco Crítica | Monstro do Pântano #19 – 24: Réquiem (1975)

Crítica | Monstro do Pântano #19 – 24: Réquiem (1975)

por Luiz Santiago
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As edições comentadas neste texto compreendem os números #19 a 24 do primeiro volume da revista Monstro do Pântano (Swamp Thing, Volume 1), quadrinhos publicados nos Estados Unidos entre outubro de 1975 e setembro de 1976. A nota atribuída acima refere-se à média geral para essas edições em conjunto. Confira também os comentários para as edições #1 a 6#7 a 13 e #14 a 18 do mesmo volume.

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Esta fase final da revista Monstro do Pântano é a mais fraca de todas as 24 edições que compuseram o Volume 1, cancelado na edição #24 (The Earth Below), a despeito da chamada para a edição seguinte, onde o Pantanoso enfrentaria o Gavião Negro.

O bloco de aventuras é composto por dois mini-arcos (#19 e 20 + #23 e 24) e duas ‘edições soltas’, sendo a nº 21, Requiem, a mais estúpida, mal escrita e deslocada história de todo o volume! O Monstro do Pântano já havia encontrado uma criatura do espaço antes (O Visitante do Espaço, a excelente edição #9), mas a trama ali tinha um sentido completamente diferente, trazendo questões morais interessantes e um bom entretenimento para o leitor. Em Requiem, além de toda estranheza da abdução, não existe absolutamente nenhuma relação de seus eventos com a linha corrente dos acontecimentos da revista naquele momento.

É claro que um dos motivos que levaram ao cancelamento da revista – além das vendas – foi a troca rápida de artistas responsáveis pelas edições. Primeiro temos Gerry Conway com o interessante mini-arco formado pelas edições #19 e 20. A introdução de um pseudo Monstro do Pântano (surgido através do braço cortado do verdadeiro Monstro em A Última das Bruxas Ravenwind) e a colocação de um personagem índio como o contraponto reflexivo da história manteve o bom padrão que Michelinie vinha cercando.

swamp-thing, monstro do pântano

Excelente arte de Nestor Redondo para o momento em que o irmão (???) de Alec tenta fazê-lo voltar a ser humano.

Esse primeiro momento da mudança – aliás, consta que Conway apenas substituiria Michelinie por duas edições – não foi nada desastroso. Tanto que esses dois primeiros exemplares são os melhores da reta final deste volume. Mas eis que em seguida Michelinie volta possuído por algo que o faz escrever o pior roteiro da Monstro do Pântano até aquele momento.

Alguns leitores podem até defender o autor, dizendo que a questão da [falta de] aceitação do deus exilado no espaço e cheio de bolinhas douradas no corpo venha bem a calhar dentro do padrão das histórias do Monstro do Pântano, o que é uma verdade. No entanto, não faz sentido algum a incursão de uma trama que mixa ficção científica, horror B, fantasia e bizarrices dentro de uma publicação que já tinha uma linha de roteiros estranhos por si só! Tome como exemplo os outros textos de Michelinie para o Pantanoso, como The Tomorrow Children (#14), Night of the Warring Dead (#16) e Village of the Doomed (#18) e vejam que Requiem não apenas foge ao padrão narrativo (embora não totalmente temático) da revista como também pisoteia todo um trabalho realizado pelo autor anteriormente. Ainda duvida? Bem, que tal The Solomon Plague (#22), a revista imediatamente posterior a esta tenebrosa edição com trama espacial?

Embora nesta edição #22 haja furos na construção dos personagens doentes (no início achei que o autor emularia uma espécie de Não-Homens) e do impasse da bomba, The Solomon Plague é uma boa história, tocando na ferida sempre aberta que é a presença do governo tentando encobrir suas catástrofes da grande população (algo mais ou menos nessa linha e dentro da mitologia do Monstro do Pântano seria abordado em American Freak). O sacrifício, a relação entre pais e filhos e a mistura entre raiva e moral formam um enredo bem interessante e com a seguinte reflexão: vale a pena causar a morte de milhares para que os milhões vivos saibam a verdade? Se trocarmos a palavra “verdade” por “paz”, não teríamos o grande dilema analítico causado por Ozymandias em Watchmen?

Mas ao final da edição #22, uma coisa muito estranha acontece. Durante a leitura, eu balancei freneticamente a cabeça, desacreditando que a revista seguiria por aquele caminho de retorno ao lar NOVAMENTE. Mas seguiu.

monstro

Thrudvang: um mutante da pesada.

As edições #23 e 24, que encerram esta primeira fase do Musguento, dão a entender que a DC faria o personagem seguir por uma linha totalmente diferente da que fora até então. As semelhanças com o Hulk são constrangedoras, especialmente quando o irmão de Alec (pausa para gritar WTF!!!) aparece, depois de 23 edições, e reconstrói a explosão que gerou o Monstro do Pântano, fazendo-o voltar à forma humana. Com a presença da Organização Colossus, o enigmático personagem Sabre, um dos mutantes (Thrudvang) de um grupo chamado “Elementais” e a relação entre mutação X homem davam na cara que Joe Orlando, à época editor da DC, havia pedido para que os autores dessem uma recauchutada no personagem. Todavia, não conseguimos ver o resultado disso porque a revista logo deixaria de ser publicada.

O que incomoda bastante no final do volume é, claro, o tal de Edward Holland – sabiamente ignorado nos anos posteriores – e o completo desaparecimento de Abigail e Matt Cable (ou até do chatíssimo Bolt), que, por um motivo que só eles entendem direito, estavam “caçando” Alec. Seria coerente que, após recuperar a forma humana, o ex-quase-possível-futuro-quem-sabe-Monstro do Pântano tentasse entrar em contato com seu melhor amigo e a garota que o ajudou muitas vezes antes, não? Será que isso estava programado para aparecer nas edições seguintes?

Sobre a arte deste bloco de edições, vale dizer que Nestor Redondo segurou muitíssimo bem todas as pontas para as edições que ele desenhou e finalizou. Eu particularmente sou fã do trabalho ágil, bonito e detalhado do artista – principalmente na cara mais bruta que ele deu ao Monstro, mesmo que tenha tirado os galhos à mostra do corpo da criatura e deixado tudo coberto de musgo, uma visão diferente da inesquecível formulação do “pai visual” do Monstro, Bernie Wrightson –, algo que veio modificando aos poucos desde que assumiu a arte da revista em As Minhocas Gigantes (#11).

plano critico monstro do pantano the earth below

Também vale citar a aparição de diagramações inovadoras (veja imagem acima), dependendo da história que estava sendo contada. Quanto ao último número, que não foi desenhado por Redondo, temos, além de um roteiro muito fraco, uma arte aquém do esperado. Não é definitivamente ruim, mas não trouxe uma boa primeira impressão porque não tinha, a rigor, nada de novo.

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Seguindo os Passos do Monstro

Depois que a Monstro do Pântano foi cancelada na edição #24 (setembro de 1976), houve um hiato de 5 anos e meio para que a DC Comics aceitasse iniciar a publicação do Volume 2 da série, cuja primeira edição saiu nas bancas em maio de 1982, com roteiro de Martin Pasko e arte de Tom Yeates.

Como curiosidade, vale dizer que a edição #25, com o famoso “encontro que nunca foi” do Monstro com o Gavião Negro, chegou a ganhar um primeiro tratamento, e temos a impressão de que realmente o tom de “Hulk” seria a linha adotada a partir dali. Vejam o Monstro voltando à forma humana em uma tira de Ernie Chan and Fred Carrillo.

monstro

Abaixo, segue seis páginas dessa edição #25. É realmente tentador pensar em como seria essa nova fase. A arte é simplesmente notável.

monstro do pântano e gavião negro.

monstro do pântano e gavião negro.

monstro do pântano e gavião negro

Nesse período de hiato, o Monstro do Pântano figurou em algumas edições da revista Desafiadores do Desconhecido #82 a 87 (Challengers of the Unknown, 1977 – 1978), encontrou o Superman e Solomon Grundy na DC Comics Presentes #8 (1979) e voltou a aparecer na The Brave and the Bold #176 (1981) — o personagem já havia aparecido na revista em 1975, na edição #122: The Hour of the Beast.

E fevereiro de 1982, estreou nos cinemas O Monstro do Pântano, filme dirigido por Wes Craven e roteiro co-escrito por Len Wein. Este foi o pontapé definitivo para que o famoso Volume 2 da Monstro do Pântano enfim começasse a ser produzido. Esta segunda fase seria muitíssimo bem sucedida, especialmente pela presença de Alan Moore nos roteiros da série, da edição #20 (janeiro de 1984) à #64 (setembro de 1987).

Monstro do Pântano Vol.1 – #19 a 24 (Swamp Thing, Volume 1) – EUA, 1975 – 1976
Roteiro: Gerry Conway (#19, 20, 23 e 24); David Michelinie (#21 e 22); David Anthony Kraft (#24)
Arte: Nestor Redondo (#19 a 23); Ernie Chan (#24)
Arte-final: Fred Carrillo (#24)
Cores: Tatjana Wood (#23); Carl Gafford (#24)
Editoria: Joe Orlando
Páginas: 24 (cada número)

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